sábado, 22 de janeiro de 2011

Segunda oportunidade

Michaela Davide*

A professora olhou para a turma com desgosto.
- Podem honestamente dizer que não ensinei nem expliquei bem a matéria?
Os alunos estavam de cabeça baixa.
- Não, responderam alguns, a setôra explicou bem.
- Então, continuou a professora, como é que explicam estes resultados?
E indicou os testes que distribuíra. A turma tinha vinte e três alunos, vinte e dois com classificação negativa no teste.
- Eu não posso deixar de ter em conta estes resultados e, assim, as notas não serão boas no final. Não tenho nenhum gosto nisto.
- Podia fazer de conta que não tivemos estas notas, disse um aluno.
A professora parou um instante e olhou para eles.
- Não, disse, não vou fazer isso. Mas vou fazer outra coisa. Hoje é terça e a próxima aula é quinta. Eu vou recolher todos os enunciados que entreguei, assim como as folhas de testes. E na próxima quinta, vão realizar o mesmo teste.
- O que é que a setôra quer dizer com isso?
- Na próxima aula, vou aplicar o mesmo enunciado deste teste. Ou seja, vão fazer o mesmo teste.
Os alunos estavam a olhar para a professora de boca aberta.
- A setôra vai dar-nos um teste que já conhecemos?
- Vou. Vocês conhecem as perguntas, só têm de se esforçar para descobrir a resposta certa, que ainda não conhecem porque eu não corrigi o teste. Têm dois dias para estudar e descobrir. Podem estudar sozinhos ou em grupo, não interessa. O importante é que podem dar a volta ao resultado.
- E se as notas forem melhores?, perguntou um aluno. Contam para a média à mesma?
-Se as notas forem melhores, eu esqueço-me das notas do primeiro teste. Será como se elas nunca tivessem existido.
-A setôra não está a falar a sério, disse um aluno, eu não acredito.
- Eu nunca minto aos meus alunos. Se as notas do segundo teste forem melhores, serão elas a contar. E apenas elas.
A professora foi colocar os enunciados a copiar e comentou com alguns colegas o que ia fazer.
- Não vai adiantar de nada, sabes…, disse uma colega, eles querem lá saber…
Chegou o dia, a professora entrou na sala e distribuiu os testes. Vigiou e recolheu-os ao toque. Os alunos saíram entusiasmados. – Era exactamente igual!!!, comentavam.
A professora foi para a sala de professores, considerando que teria tempo de corrigir alguns deles antes de ir para casa. Mas enganou-se. Teve tempo de corrigir todos. Desta vez, nem precisava de fazer contas para saber qual a percentagem de testes negativos. Porque desta vez, em vinte e três alunos, tinha vinte e três negativas.
- Como é possível?, perguntaram os alunos.
Realmente, pensou a professora, enquanto dava um raspanete à turma. Como é possível?
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*Professora de ensino básico e secundário
Fonte: http://www.sabado.pt/Cronicas/Michaela-Davide.aspx
Obs.: Português de Portugal.

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