terça-feira, 25 de janeiro de 2011

De professor universitário a monge beneditino

Imagem da Internet
O padre Cantera explica sua missão no Vale dos Caídos, Espanha

Santiago Cantera estava feliz dando aula na Universidade San Pablo-CEU, de Madri. Pensava em se casar, mas notava por dentro um chamado à entrega absoluta a Deus. E aderiu à vida monástica. Hoje ele é historiador, pesquisador, professor e porta-voz da comunidade beneditina da abadia da Santa Cruz do Vale dos Caídos, fundada nos anos 50 do século XX, com monges vindos da abadia de São Domingos de Silos.
O monge beneditino responde a ZENIT não só sobre a sua vocação, mas também sobre o que o rodeia, o tão discutido memorial do Vale dos Caídos, em São Lourenço do Escorial, Madri, a 9,5 quilômetros do mosteiro homônimo, na serra de Guadarrama.
Imagem da Internet - Valle de los Caídos
"Eu notava no meu espírito
o chamado de Deus,
a vocação à vida monástica,
a uma entrega absoluta a Ele."
-O que um jovem como você está fazendo num lugar destes?
P. Santiago Cantera: Eu entrei no mosteiro aos trinta anos, quando era professor na Universidade San Pablo-CEU, de Madri. Estava feliz dando aula, feliz com os colegas e na relação com os alunos. Tinha tudo o que eu podia desejar e estava pensando em me casar, porque o casamento e os filhos me atraíam muito. Estava aberto para essa vocação do casamento; tinha namorada.
Mas desde pequeno eu tinha percebido uma atração muito grande pela vida monástica. Isso foi sempre latente no meu coração. Naquela altura eu tinha tudo o que podia desejar profissionalmente, mas também tinha uma sede imensa de Deus, que o mundo lá fora não me deixava saciar. Eu notava no meu espírito o chamado de Deus, a vocação à vida monástica, a uma entrega absoluta a Ele.
Por um lado eu resistia, porque aquilo implicava renunciar a muita coisa que eu gostava e que eu tinha conseguido, além de projetos para o futuro, como formar uma família. Mas junto com essa resistência, tinha em mim um desejo misterioso de escutar aquela voz interior e aquilo me fazia continuar procurando. Eu me retirava para pequenas temporadas em algum mosteiro. Até que me orientei mais para a cartuxa e fiz uma experiência. Um sacerdote me recomendou exercícios espirituais: fiz o mês inaciano e a graça divina me iluminou.
Aí começou o trecho final para esta abadia. Na vida beneditina no Vale dos Caídos eu encontrava a possibilidade de combinar uma vida monástica contemplativa com um certo apostolado na basílica, e através da escrita… ou em qualquer âmbito que a obediência pudesse me indicar.

-Você é doutor em História. Qual é a sua especialidade? Está pesquisando?
P. Santiago Cantera: Estudei Geografia e História na Universidade Complutense de Madri e me doutorei em História Medieval.
A tese tratou da ordem da cartuxa na Espanha dos séculos XV e XVI: é lógico que o tema aumentou o meu amor por essa ordem e pela vida monástica em geral, e realmente a minha linha habitual de pesquisa foi nesse rumo.
Fui professor na Universidade San Pablo-CEU, e também tinha dado algumas aulas como bolsista na Complutense, além de colaborar num projeto de pesquisa na Real Academia de História sobre o reinado de Henrique IV de Castela.
Depois trabalhei em várias outras vertentes e me abri para as áreas do pensamento e do ensaio, ligado especialmente à Teologia da História e à Filosofia e História das Civilizações, assim como à Mariologia.
A última pesquisa que eu terminei recentemente é sobre o conceito de Espanha no Reino Visigodo de Toledo.
"A missão essencial dos monges
 é louvar constantemente a Deus
através da oração e do trabalho,
em nome de toda a Igreja e
de todos os homens."
- Vale da Nava, de Cuelgamuros, dos Caídos. De qual nome você gosta mais?
P. Santiago Cantera: A Nava, mais do que o vale, é o ponto em que a cruz está assentada e onde a basílica foi escavada.
O nome original do vale é Cuelgamuros, que tem várias hipóteses para essa etimologia. É um nome bonito e faz parte da história e da geografia do lugar.
Mas eu também gosto muito do nome “Vale dos Caídos”, porque nele repousam os restos de quase 34.000 caídos de ambos lados na guerra civil, segundo os registros (mas muito possivelmente são entre 50.000 e 70.000). Todos que caíram se enfrentando agora estão irmanados aqui, da perspectiva da eternidade.
É uma pena que algumas pessoas prefiram hoje continuar envolvidas em vinganças do passado e não queiram entender o sentido da reconciliação, que só pode ser alcançada sob os braços redentores da cruz. Às vezes, coloquialmente, dizemos simplesmente “o vale”.

-Isso é muito mais do que um cemitério da guerra ou um museu da memória… Você pode resumir qual é a missão dos monges beneditinos neste lugar?
P. Santiago Cantera: A missão essencial dos monges é louvar constantemente a Deus através da oração e do trabalho, em nome de toda a Igreja e de todos os homens. Além disso, nós temos neste lugar uma tarefa particular, que é orar pelas almas de todos os caídos da nossa guerra de 1936-39, tanto os sepultados aqui como nas outras partes da Espanha, e interceder perante Deus para que Ele derrame sobre a Espanha a paz e a prosperidade.
Para isso, nós tínhamos assumido também um papel importante na direção do Centro de Estudos Sociais, que lamentavelmente foi extinto.
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Reportagem Por Nieves San Martín
A página da abadia testemunha os trabalhos do padre Santiago: http://www.valledeloscaidos.es/abadia

Fonte: Zenit.org. 24/01/2011

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