sábado, 30 de julho de 2011

Anne Rice revisita criaturas soturnas

A escritora Anne Rice em sua casa, na Califórnia (EUA), perto das imagens de santos
que comprou em visita ao Rio


Próximo livro da autora de "Entrevista com o Vampiro"
 será lançado em 2012 com trama centrada em lobisomem
Norte-americana havia abandonado temática sobrenatural
 seis anos atrás, ao se aproximar do catolicismo

Faz 41º C lá fora, e Anne Rice surge toda de preto, crucifixo no pescoço e sorriso largo no rosto. Dentro de casa, toma refrigerante diet e oferece minibombas de chocolate. Os móveis da sala são claros, há vista para uma piscina e uma estante de livros decorada por santos de madeira comprados no Rio de Janeiro.
A escritora americana não está mais na sua cidade natal, a úmida Nova Orleans, cenário de seu primeiro romance e obra mais famosa -"Entrevista com o Vampiro", lançado há 35 anos e responsável por modernizar e glamourizar os épicos vampirescos.
Ela mora há seis anos na abafada Palm Desert, nos confins da Califórnia. A mudança aconteceu na mesma época em que substituiu o vampiro sedutor Lestat por Jesus Cristo em seus livros.
Foi sua volta à religião, que abandonara aos 18. Mas durou pouco. Em 2010, largou a Igreja Católica e os padres homofóbicos, embora ainda conserve sua fé.
Para os leitores, o que mais interessa: ela desistiu da promessa de nunca mais voltar às criaturas obscuras. Rice se entregou aos lobisomens.

OUTRO CAMINHO

"Não sou mais a niilista ou ateia que fui quando escrevi sobre os vampiros", diz a escritora. "Tenho um outro caminho espiritual. Mas há um lado sombrio, sem dúvida. Meu lobisomem é um herói sobrenatural que mata."
"The Wolf Gift" (O presente do lobo), com mais de 500 páginas, só sai em 2012. Fala sobre um jovem jornalista de San Francisco que é mordido e vira lobisomem. Mas como manter a voz original com tantos lobos-homens surgindo na TV e no cinema?
"É difícil. Mas quero dar a minha versão deste personagem, criar um universo deles", disse. "Vou te contar algo irritante: é complicado achar uma palavra para seu monstro que já não tenha sido usada!"

GENÉTICA

O caminho oposto também acontece. Rice, que escreveu 12 livros de vampiros entre 1976 e 2003, diz ver o DNA de seus personagens na série "True Blood" e na saga "Crepúsculo". "Tudo bem, admiro esses novos autores. Estão fazendo material original. Claro que são influenciados. Da mesma forma que fui por 'Drácula' [de Bram Stoker]."
Espalhadas pela casa estão pinturas feitas pelo marido, morto em 2002. Da cozinha vem uma música de João Gilberto. "Coincidência", diz. "Ele adorava esse disco. Comprei para me lembrar dele."
Rice também perdeu a irmã em 2007, o que a levou à depressão. "Minha saúde não andou muito boa nos últimos anos. Apenas agora estou voltando a ficar bem", diz a autora, que completa 70 anos em outubro.
Recentemente, anunciou que "Entrevista com o Vampiro" ganhará nova versão, em quadrinhos, desta vez pelo ponto de vista de Claudia, a menina-vampiro. Ela nega que voltará a escrever sobre tais criaturas, mas aponta um possível retorno ao cinema.
"Há muito interesse em Lestat. Querem vê-lo nas telas de novo. E eu também", diz, sobre seu personagem mais conhecido, interpretado por Tom Cruise em 1994.

Escritora vai ao Rio em setembro para Bienal

DA ENVIADA A PALM DESERT (CA)

Anne Rice visita o Rio em setembro para participar da Bienal do Livro, quando irá falar sobre sua obra e autografar seu romance mais recente, "De Amor e Maldade".
A editora Rocco, que leva o livro às lojas no próximo sábado, está reeditando todos os trabalhos da autora no Brasil.
Essa será a segunda visita de Rice ao país. A primeira, a passeio, foi em 1994, quando visitou o Rio, Salvador e Manaus.
"Sempre quis estar no Rio na virada do ano. Foi um dos grandes momentos da minha vida", diz Rice, que foi acompanhada da irmã, da cunhada, da secretária e de seguranças.
O Cristo também foi outro destaque. "Tinha visto aquela escultura num filme quando tinha uns sete anos. Escrevi sobre tudo isso no romance 'Violino'", diz, lembrando que a passagem em que a protagonista recebe rosas no hotel em Copacabana, enviadas por um grupo de fãs, aconteceu de verdade.
Do Rio levou meia dúzia de santos de madeira. "Por anos eu colecionei muitas coisas. Vendi todas as minhas grandes esculturas de santos, mas guardei as brasileiras." (FE)

Autora assiste a "True Blood" e conversa
 com fãs no Facebook
DA ENVIADA A PALM DESERT (CA)

Faz três anos, Anne Rice entrou para o Facebook e, desde então, mantém como rotina conversar com seus seguidores e até mesmo fazer pesquisa com eles.
"Pergunto a eles sobre qualquer coisa; recentemente, muito sobre lobisomens", afirma a autora. "Vi todos os filmes que me recomendaram. Não vou ler livros para não ter problema com os autores, mas não me importo com filmes."
Rice também discute em sua página episódios da série "True Blood", baseada nos livros sobre vampiros que vivem numa cidade do sul americano e que tem como personagem central uma garçonete com poderes de telepata, Sookie Stackhouse.
"Li o primeiro romance sobre Sookie [publicado em 2001] e achei muito esperto, fresco. Adoro a ideia de os vampiros morarem em Bon Temps", comenta.
Rice andou trocando e-mails com a autora dos livros, Charlaine Harris.
"Escrevi para parabenizá-la, conversarmos sobre a série. Ela parece ser muito doce", diz.
O papo com os fãs diminui quando Rice está na fase de finalizar um livro, como agora. Ela costuma acordar por volta das 6h30 e começa a trabalhar após tomar café e ler os jornais. Vai até a hora do almoço, pontualmente ao meio-dia, e depois até a hora do jantar, às 17h.

RELIGIOSAMENTE

À noite, para tudo para assistir à sua série favorita: o faroeste "Gunsmoke", no canal Western. Outros seriados que ela diz ver religiosamente toda semana são "White Collar", "Covert Affairs", "Rizzoli and Isles" e "The Closer".
"Não vejo mais do que isso. Quando termino um livro, assisto a um monte de filmes, recupero o que perdi.
Não gosto de ir aos cinemas, normalmente vejo tudo aqui em casa", conta.
A escritora deixou a casa que mantinha em Nova Orleans para ficar mais próxima do filho, que mora em Los Angeles, a 200 km de Palm Desert, uma cidade de condomínios fechados com 48 mil habitantes.
"Estou trabalhando aqui tão bem como não acontecia em anos", diz. (FE)
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REPORTAGEM por:  FERNANDA EZABELLA ENVIADA ESPECIAL A PALM DESERT (CALIFÓRNIA), EUA

Imagem por Fernanda Ezabella/Folhapress
FONTE: Folha on line, 30/07/2011

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