IAN GOLDFIN E GEOFFREY CAMERON*
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Limitar a imigração cria um mundo
menos próspero, mais desigual
e mais compartimentado
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Em quase todos os países ricos, há entusiasmo febril por medidas anti-imigração. Mas essa é uma doença contra a qual é necessário resistir.
Um aumento na imigração, no mundo inteiro, é desejável por quatro motivos: é uma fonte de inovação e dinamismo; responde à escassez de mão de obra; ajuda a enfrentar o desafio de populações que envelhecem rapidamente; e oferece uma fuga da pobreza e das perseguições. Limitar a imigração cria um mundo menos próspero, mais desigual e mais compartimentado.
A despeito da oposição política interna nos países destinatários, o número de migrantes internacionais dobrou nos últimos 25 anos e duplicará de novo até 2030.
Diante de uma globalização acelerada, a combinação entre aumento estimado na população mundial, custos mais baixos para o transporte, melhor conectividade e redes sociais e econômicas ligando diferentes nações deve conduzir a um movimento ampliado de pessoas.
E, no entanto, embora a redução gradual das barreiras aos fluxos internacionais de capital, bens e serviços tenha sido uma grande realização recente, a migração internacional jamais foi tão controlada. Economistas clássicos como John Stuart Mill achavam que isso fosse tanto economicamente ilógico como eticamente inaceitável. Adam Smith objetava a tudo que obstruísse "a livre circulação de mão de obra de um emprego a outro".
Quando veio o século 19, os motores a vapor e outros meios de transporte permitiram que um terço da população da Escandinávia, da Irlanda e de partes da Itália emigrasse. Milhões de europeus fugiram da pobreza e da perseguição, além de alimentar o desenvolvimento de EUA e o Reino Unido.
A ascensão do nacionalismo antes da Primeira Guerra Mundial gerou a adoção generalizada de um sistema de passaportes e deu início a um regime de controle mais severo do movimento internacional de pessoas. Um século mais tarde, a despeito da queda nas barreiras ao comércio, ao financiamento e ao fluxo de informações entre os países, as barreiras à mobilidade pessoal se tornaram ainda maiores.
Cerca de 200 milhões de pessoas, ou 3% da população mundial, vivem hoje em países diferentes daqueles em que nasceram. Em nosso livro "Exceptional People", demonstramos que elas propiciam benefícios às sociedades que as recebem.
Nos EUA, por exemplo, os imigrantes contribuem com mais de metade dos pedidos de patentes e em igual proporção para criar novas empresas no Vale do Silício. Além de pagar mais impostos do que recebem em benefícios do governo.
Avanços na medicina e na saúde pública elevaram a longevidade nos países desenvolvidos, mas os níveis de natalidade persistentemente baixos e o fim do baby boom posterior à Segunda Guerra Mundial significam que o número de trabalhadores nascidos nessas nações cairá nos próximos anos.
Os efeitos da queda na força de trabalho serão agravados pelos avanços em realizações educacionais dos países desenvolvidos, que farão o número interessados em empregos de baixa capacitação no setor de serviços ou em setores como a construção civil se reduzir.
Para os países que eles deixam, os emigrantes muitas vezes representam uma fuga de cérebros. Mesmo assim, contribuem de forma significativa para suas terras natais. Taiwan e Israel são prova do papel que emigrantes podem desempenhar, com suas diásporas desempenhando papel vital em termos de apoio político, fluxos de investimento e transferência de tecnologia.
Além disso, a emigração muitas vezes serve como forma mais efetiva de combater a pobreza. As remessas de dinheiro de emigrantes a seus países natais excederam os US$ 440 bilhões em 2010, e mais de dois terços desse total se destinou a países em desenvolvimento.
Hoje, países poderosos argumentam contra a reforma nas leis de imigração e o desenvolvimento de uma organização mundial que desenvolva normas unificadas para o assunto. Mas um aumento na imigração interessa a todos, e o debate público sobre isso é importante demais para ser deixado aos políticos. Uma reflexão profunda precisa ser acompanhada por ações audaciosas.
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IAN GOLDIN é diretor da Martin School, na Universidade Oxford e pesquisador catedrático no Balliol College.
GEOFFREY CAMERON é pesquisador associado na instituição. Este artigo foi distribuído pelo Project Syndicate.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Fonte: Folha on line, 24/07/2011
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