sábado, 23 de julho de 2011

Livro mostra felicidade como tema para corajosos

LUIZ FELIPE PONDÉ*

Hoje é quase uma obsessão "querer ser feliz", e normalmente entende-se isso na forma mais banal: realizar desejos. A história da felicidade é mais semelhante à história da guerra do que da dança, segundo o filósofo e imperador romano Marco Aurélio.
Esta definição me parece ser a melhor síntese do livro "A História da (in)Felicidade" de Richard Schoch. Trata-se de boa leitura para quem quiser ter uma ideia do tema, ainda que a conclusão pareça um pouco aquém da erudição demonstrada pelo professor de história da cultura da London University.
Saber que a felicidade depende da felicidade dos outros, de nossa história pessoal, de nossas crenças na vida após a morte, soa banal depois de ler o livro, maior no "corpo de problemas" do que na conclusão. A felicidade se tira das pedras. E, nesta guerra, quatro são os princípios que movem nosso movimento: prazer, desejo, razão e sofrimento.
Devemos aprender a moderar o prazer, do contrário ficamos escravos de sua deliciosa tirania e do vazio que o prazer implica quando nos tornamos obsessivos por ele.
Devemos aprender a controlar o desejo ou ficamos cegos diante da cobiça. Devemos transcender a razão e, ao mesmo tempo, aprender que sem ela não somos plenamente humanos.
Mas por que "transcender a razão"? Talvez, como diria o filósofo francês do século 17 Blaise Pascal, porque "nada mais típico da razão do que saber seus limites".
Por último, talvez o mais importante, aprender que, sem suportar o sofrimento, não existe felicidade possível porque a vida sempre deságua em alguma forma de dor.
Para demonstrar os princípios, nos leva além dos muros da filosofia ocidental.
Quanto ao prazer, vamos da otimização deste nos utilitaristas à percepção dos epicuristas de que o prazer sempre é um bem em si.
Quanto ao desejo, para conquistá-lo e não ser um escravo dele, Schoch escolhe como parceiros o hinduísmo, com a opção pelo cuidado com a própria ação na vida, e o budismo, que vê na "iluminação" a superação da obsessão do "eu" por si mesmo.
Quanto à transcendência, as ideias de "paraíso" cristão e de "alquimia da felicidade" do islamismo surgem como indicações de que o materialismo pode não ser suficiente para a vocação espiritual.
E, para suportarmos o sofrimento, Schoch conversa com os estoicos e a afirmação de que devemos controlar as expectativas para com o vão sucesso no mundo.
Além de voltarmos ao tema de viver com "Deus no inferno", como os judeus no holocausto. Deus "se esconde" para que vivamos a sofrida liberdade de escolha e daí, talvez, chegarmos a vê-Lo nos detalhes. A felicidade é assunto para corajosos.

A HISTÓRIA DA (IN)fELICIDADE
AUTOR Richard Schoch
EDITORA Best Seller
TRADUÇÃO Elena Gaidano
QUANTO R$ 44,90 (280 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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* Filósofo. Prof. Universitário. COLUNISTA DA FOLHA
Fonte: Folha on line, 23/07/2011

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