sexta-feira, 22 de julho de 2011

CONTAGEM REGRESSIVA COM James Cameron

Alguns de seus filmes , além de liderarem o ranking das maiores bilheterias , são considerados marcos históricos da cinematografia . Ele é diretor de, entre outros, O Exterminador do Futuro (1984), Titanic (1997) e Avata r (2009). o último arrecadou mais de US$ 2,7 bilhões . Cameron, que também é produtor e roteirista combina sua extraordinária capacidade criativa com forte interesse científico, que o levou a assessorar a NASA, por exemplo. Nesta entrevista exclusiva, sua empresa de tecnologia inovou com uma câmera que grava em três dimensões

Você escreveu, dirigiu e produziu uma inovação de ruptura com o filme Avatar. Ele virou marco da era da sustentabilidade, inovou com o hiper-realismo na tela grande e teve o recorde de bilheteria de todos os tempos. Como foi a criação de Avatar?
Tive a ideia antes de começar a filmar Titanic. No começo, não o concebi como um filme em 3D. Escrevi o rascunho de uma história que acontecia em outro planeta, com pessoas que falavam um idioma próprio e tinham uma cultura diferente das conhecidas. Muitas imagens vieram dos livros que li na infância e dos bosques do Canadá, onde nasci. Desde muito menino ainda, tomei consciência da importância da natureza. Em Avatar, tentei mesclar a história com uma mensagem ecológica, mas não quis que isso fosse predominante. Minha intenção era que o espectador refletisse sobre o dano que estamos causando ao meio ambiente.
Avatar, como Titanic, é na verdade atemporal. São filmes que tratam de valores humanos universais, presentes em todas as culturas. Por isso podem ser exibidos em diferentes mercados ao longo do tempo. Em Titanic, os temas são o amor, a perda, o dever ser, questões que encontram eco em todas as pessoas. Avatar, por sua vez, diz respeito ao relacionamento dos homens com a natureza e com os demais. Fala sobre como percebemos os outros e sobre respeito mútuo. São conceitos que estão vigentes em todas as culturas.
Minha primeira intenção com Avatar foi fazer algo muito impressionante visualmente, mas depois me ocorreu que, ao mesmo tempo, poderia impulsionar o desenvolvimento da CGI (sigla de computer generated imagery, imagens geradas por computador) em animação facial e usá-la em todo o filme, algo nunca feito. Mas minha ideia estava avançada demais para a tecnologia da época. Era 1995, e ainda havia muito trabalho a ser realizado no campo da tecnologia. Desse modo, arquivei o projeto e esperei,
porque sabia que os avanços chegariam em algum momento.

Antes de ser diretor de cinema de sucesso, você foi caminhoneiro, maquinista e mecânico. Você sonhava ser outra coisa então?
Sonhava com mundos incríveis e desenhava- os ou descrevia-os no papel. Sempre soube, até quando trabalhava como caminhoneiro, maquinista e mecânico, que algo muito além dessas atividades estava reservado para mim e que, se não terminasse sendo diretor de cinema, seria escritor ou pintor. Mas não tinha ideia clara até que vi Guerra nas estrelas e tive diante de meus olhos as imagens que estavam em minha mente.
Nesse momento, me dei conta de que existia um mercado para aquilo que eu vinha pensando durante longo tempo. Foi assim que larguei meu trabalho de caminhoneiro e comecei uma carreira no cinema. Aventurei-me a fazer meu primeiro filme de ficção científica sem olhar para trás, porque sabia que não devia me questionar e que tinha de experimentar antes de ter filhos e uma vida mais estável.

O exterminador do futuro, Titanic, Avatar… vários de seus filmes figuram entre as maiores bilheterias da história do cinema. Quais são as chaves de seu sucesso?
Acho que as experiências que a gente tem na vida influenciam tudo que a gente faz. Eu cresci em uma pequena cidade do Canadá, onde predominavam os valores e o estilo de vida rural. Meus pais eram muito trabalhadores e eu me formei nessa ética do trabalho, a qual conservo até hoje.
Não é que nasci com um dom natural para contar histórias, com a capacidade de transmitir ideias e criar imagens, mas sei que fui abençoado com uma imaginação muito vívida e intensa. Também me valho do que sonho. Lembro-me muito de meus sonhos e os anoto.
Como nunca me interessei por negócios, tive de correr atrás de aprender a unir a parte criativa com a comercial. Sempre me importei em identificar meus pontos fracos, e por isso percebi, desde muito cedo, que os negócios eram um terreno difícil para mim, assim como o gerenciamento de equipes.
À medida que meus projetos ficavam maiores e mais ambiciosos, precisei melhorar minha capacidade de liderança. E, curiosamente, consegui fazê-lo, não tanto graças a minhas experiências como diretor, mas a partir de minhas experiências no fundo do mar, mergulhando e explorando o oceano.
Organizava equipes de 15 pessoas e enfrentávamos dificuldades e tormentas em alto-mar. Entendi que, quando alguém comete um erro, não serve de nada ridicularizá-lo nem acusá-lo na frente de todos. Antes, eu achava que a melhor maneira de evitar que um indivíduo errasse novamente era humilhando-o, até que aprendi que dessa forma não se tira o melhor do outro. Mas não descobri isso de um dia para o outro; foi um processo disciplinado de aprendizado.

A partir dessas experiências, que recomendações você daria aos executivos e líderes de negócios?
Eu faria quatro recomendações aos gestores de empresas:
• Que incentivem a criatividade, deem liberdade e autonomia a suas equipes e fiquem atentos às boas ideias, para além da estrutura e da hierarquia. As pessoas com verdadeiro poder sentem--se confortáveis na posição em que estão e não precisam fazer alarde, impondo barreiras hierárquicas.
• Que se animem a enfrentar riscos, sendo precavidos, analíticos e coerentes.Para manter boa posição e competir para valer, a pessoa tem de assumir riscos.
• Que se interessem e se envolvam em coisas que ninguém se anima a fazer.
• Que tenham sempre uma atitude ética e moral. Nossos atos criam nossa reputação e, no final do dia, nossa palavra é o que vale e é o que se torna indestrutível.

Como as novas tecnologias mudaram seu trabalho? E qual é seu próximo projeto?
Meu primeiro trabalho como diretor foi em 1984. Nenhuma técnica, máquina ou processo daquela época é usado hoje. No entanto, todo processo criativo continua nascendo a partir de um lápis e um pedaço de papel.
Os recursos tecnológicos são numerosos, mas o que conta é a imaginação. A tecnologia permite tudo, nossas únicas limitações são nossa imaginação e o orçamento. Ainda há muitos mundos para serem criados e, nos próximos anos, muitos outros surgirão.
Quanto a meu próximo projeto, sempre penso em como melhorar ainda mais a experiência cinematográfica. Estou trabalhando com fornecedores de projetores, com todas as partes envolvidas no processo de criação e projeção de um filme, no desenvolvimento da tecnologia 3D e na realização de produtos que tenham alto padrão de qualidade. A razão é simples: quantas revoluções uma pessoa pode desencadear ao longo de sua vida? Eu trato de consolidar a revolução 3D. Por isso me empenho tanto.
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(Entrevista de Eduardo Braun)
Fonte: HSM Management - julho/agosto-2011 pp.8-9.

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