domingo, 31 de julho de 2011

A evolução da generosidade

Em geral, humanos confiam naqueles que provavelmente nunca mais verão

O impulso humano de ser bondoso
com pessoas desconhecidas não é
a aberração que pode parecer.
Da 'Economist'*

No momento, a cooperação é o assunto mais quente da investigação humana. Em particular, por que os humanos têm tanta disposição para colaborar com estranhos, ao ponto de arriscarem serem enganados por pessoas cujas índoles são inescrutáveis?
As evidências dos jogos econômicos com prêmios em dinheiro de verdade jogados em laboratório sugerem que os humanos confiam naqueles que provavelmente nunca mais verão, e são surpreendentemente pouco inclinados a trapaceá-los. Esses fenômenos estão profundamente entranhados na psicologia da espécie. As teorias existentes que tentam explicar a evolução da confiança dependem ou do parentesco dos participantes ( e logo na compartilhamento de genes) ou do fato de seus relacionamentos serem de longo prazo, com ambas as partes fazendo a contabilidade de modo a não permitir que os benefícios da colaboração não ultrapassem seus custos. Nenhum dos dois casos se aplica ao caso de estranhos que se cruzam, e isso levou à especulação de que algo extraordinário, como a necessidade de colaboração incitada pelo surgimento de guerras e o uso de armas de fogo, aconteceu na evolução humana recente para promover o aparecimento de um instinto de generosidade incondicional.
Leda Cosmides e John Tooby, dois decanos deste campo que trabalham na University of Califórnia, Santa Barbara, não concordam. Eles não vêem necessidade de mecanismos extraordinários, e o estudo mais recente do seu grupo sugere que eles estão certos. Este estudo também mostra o valor de se aplicar bom senso a análises psicológicas – e depois fundamentar este bom senso com uma modelagem matemática consistente.

Passar bem

Estudar a evolução humana diretamente é obviamente impossível. A duração das gerações é longa demais. Mas é possível isolar características de interesse e examinar como elas evoluíram em simulações de computador. Para este fim, cientistas desenvolveram agentes de software que têm a habilidade de se encontrar e interagir como humanos. A conclusão, em acordo com a previsão dos cientistas, é que a generosidade compensa – ou, antes, que o custo do egoísmo inicial é mais alto que o custo da verdade. Isto acontece porque a probabilidade de um único encontro, e portanto da trapaça, é só isso: uma probabilidade.
Para conjuntos de custos mais plausíveis, benefícios e chances de encontros futuros, a simulação descobriu que compensa confiar, ainda que se seja enganado algumas vezes. O que, se você parar para pensar, faz todo o sentido. Tentativas anteriores de estudar a evolução da confiança foram construídas de modo a deixar claro a seus participantes se o encontro seria único e daí extrair conclusões. Isto, contudo, é pouquíssimo realista. No mundo real, apesar de se poder tentar estimar, baseando-se nas circunstâncias, as chances de se encontrar alguém mais de uma vez nunca se saberá ao certo. Ademais, no antigo mundo dos caçadores-coletores, a limitação da movimentação significava que um segundo encontro seria muito mais provável do que neste mundo populoso e urbano. A boa fé para com estranhos faz sentido tanto moral como evolucionário.
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*Texto adaptado para o Opinião e Notícia por Eduardo Sá
Fontes: Economist - Welcome, stranger
Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/ Acesso, 31/07/2011

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