Alexandre Lowen*
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As raizes do prazer estão arraigadas nas relações do homem com a natureza. No nível mais profundo, somo parte da natureza; no mais alto, somos organismos exclusivos, vivenciando conscientemente o prazer e a dor, a alegria e a tristeza no nosso relacionamento com a natureza. Por exemplo, experimentamos dor num período de estiagem, quando a chuva não cai e a terra está ressecada. Quando a chuva vem, é acompanhada de sensações de alegria. Aborrecemo-nos quando a chuva é torrencial e destrutiva, e contentamo-nos quando o ciclo da chuva e do sol é regular e sem perturbações.
A sensação de prazer, originada do ritmo da natureza e sem perturbação da vida, abrange todas as nossas atividades e relações. Há um tempo para trabalhar e um tempo para descansar, um tempo para distrair-se e um tempo para levar as coisas a sério, um tempo para ter companhia e um tempo para ficar só. Ter muita gente ao nosso redor pode ser tão doloroso como uma grande solidão e muito divertimento, tão aborrecido como trabalho em excesso. Os ritmos que governam a vida são inerentes à vida; não podem ser impostos de fora. Todo individuo conhece quais são seus ritmos, percebendo através de sensações de dor ou de falta de prazer, quando seus ritmos estão perturbados. Os ritmos biológicos de um individuo não são completamente diferentes dos ritmos dos outros. Há diferenças, evidentemente, mas existem muitos ritmos comuns aos membros de uma mesma espécie. Basta observarmos um bando de pássaros para vermos como o ritmo de cada um se harmoniza graciosamente com o dos outros. Entre os seres humanos, nos quais o sentido de individualidade é mais desenvolvido, as diferenças são mais aparentes.
O conceito de que cada organismo possui um relógio biológico que regula suas atividades é discutível. Já se observou que, ao viajar por longas distâncias em aviões a jato, certas pessoas ficam com seus padrões rítmicos descontrolados. Tornam-se irritadiças e facilmente se sentem mal; há uma alteração em sua perspicácia e em sua acuidade. A viagem de cinco horas ou mais já se mostra crítica. Os dispositivos de tempo, reguladores das atividades do organismo, ficam defasados em relação ao tempo ambiental ou solar. A volta à normalidade exigirá vários dias. Todos nós já sentimos perturbações no equilíbrio de nosso corpo por causa de grandes mudanças em nossos padrões de sono. A pessoa que regularmente dorme oito horas por noite sente-se mal quando certas circunstâncias a limitam a seis horas de sono durante diversas noites. Da mesma maneira, a pessoa acostumada a seis horas de sono por noite sentir-se-á lânguida e cansada quando dormir oito ou mais horas. Parece que o ritmo corporal, uma vez estabelecido, torna-se uma força que exige sua continuidade. A esse respeito é relativamente pouco importante se comemos três refeições por dia em consequência do costume ou por causa da necessidade do sustento do corpo, pois a pessoa acostumada a três refeições por dia, se pular uma delas, poderá colocar seu organismo fora de equilíbrio.
O conceito do relógio biológico enfatiza a importância do ritmo na vida, que é uma função compartilhada, em certo grau, entre os organismos vivos e a natureza inorgânica. Toda a matéria está em constante movimento.
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*Psicanalista de orientação freudiana foi um dos estudante de Wilhelm Reich nos anos 1940 e início dos anos 1950 em Nova York, desenvolveu a psicoterapia mente-corporal conhecida como análise bioenergética com seu então colega John Pierrakos. Ele é o fundador primeiro diretor-executivo do International Institute for Bioenergetic Analysis - (Instituto Internacional de Análise Bioenergética) localizado na cidade de Nova Iorque.Ele praticou psicoterapia por mais de 60 anos. Ele foi autor de 14 livros de Análise Bioenergética. Morreu em 28 de outubro de 2008, aos 97 anos.
Excerto do livro: LOWEN, Alexandre. Prazer – Uma abordagem criativa da vida. Círculo do Livro, S/A, São Paulo, SP, 1986, p.199/201.
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