Pippa Middleton segura o vestido da irmã Kate: do tom do bronzeado a roupas,
o que ela usa ou faz ganha imitadores.
Pippa, o ideal de beleza dos jovens globais
A estrela da cerimônia era Kate Middleton, que se casava em 29 de abril com o príncipe William da Inglaterra. Mas a figura que surpreendeu e até hoje gera comentários, por conta dos dotes físicos e do estilo é Pippa Middleton, a irmã da noiva. É acompanhada de perto pelos paparazzi e assunto recorrente nas redes sociais.
Alçada a "ícone fashion", Pippa virou assunto entre especialistas da área de moda, beleza e estudo do comportamento. "Por que a colocaram num pedestal?", pergunta o título da matéria da editora de moda do "Financial Times", Vanessa Friedman.
O tom de seu bronzeado, chamado de "royal mocha", está entre os mais imitados por mulheres entre 18 e 44 anos, na Inglaterra. O vestido vermelho da marca Hobbs que ela vestiu em Wimbledon esgotou nas lojas em três dias. A bolsa que usou - e que virou campeã de vendas - da marca Modalu, foi rebatizada em sua homenagem.
Todo esse prestígio foi conquistado sem que a moça tivesse participado de reality shows. Ela também não é atriz de cinema, nem cantora pop, ou sequer casou-se com um príncipe. Pippa nasceu numa família estruturada e, até onde se sabe, tem um comportamento certinho e exemplar. Qual o seu segredo? Para alguns, como a editora do "Financial Times", Pippa é um ideal possível, é uma de nós.
Ana Paula de Miranda, professora da Universidade Federal de Pernambuco e especialista em comportamento de consumo de moda, tem uma visão parecida: "Pippa é aquela amiga rica e bonita que todo mundo tem ou teve". A diferença é que, se antes ela fazia sucesso apenas na escola ou no bairro, agora virou fenômeno midiático e mobiliza muito mais gente.
Segundo a pesquisadora, isso tem a ver com a geração de jovens que cresceu navegando na internet e se comunica com o mundo por meio das redes sociais. "Esses jovens não idealizam o inatingível, mas a 'girl next door', ou seja, a mulher comum, com a qual é possível ficar parecida."
Mas por que se elegeu Pippa e não outra convidada ilustre do casamento real? "Isso é o que chamamos de arbitrário coletivo, formado pelos gostos individuais que coincidem. Não há como explicar por que ela, e não outra virou fenômeno de moda", analisa o sociólogo Dario Caldas, do Observatório de Sinais, que pesquisa tendências de comportamento e consumo.
Para o sociólogo, faz parte do mundo em que vivemos a paixão fulminante por essa ou aquela figura que aparece na mídia e que, muitas vezes, foge dos padrões de beleza vigentes. "Desta forma, abre-se espaço para a valorização da aparência 'normal', que diverge dos padrões de beleza opressores."
O surgimento de "Pippas" é mundial. No Brasil, os ícones de estilo também se deslocaram das atrizes da novela ou das modelos de passarela para recair sobre meninas, quase, comuns. Um bom exemplo são as blogueiras de moda.
"Sempre haverá um padrão de
beleza hegemônico. Mas daqui pra frente,
qual será ele,
é difícil dizer."
Caldas
População em constante proliferação, as blogueiras arrebanham seguidores, viram notícia e já são requisitadas para estrelar campanhas publicitárias. "Tanto elas como a própria Pippa conquistam o público porque são autênticas", diz Lucas Liedke, diretor da área de tendências da Box1824, empresa de pesquisa com foco no mapeamento de tendências e consumo.
"A juventude de hoje não quer ninguém ditando como deve se vestir, mas alguém que lhe dê inspiração e garanta pluralidade de estilos." Para tratar dessa geração, a Box1824 criou o vídeo We All Want to be Young (vimeo.com/16641689), que em poucas semanas atingiu mais de 1 milhão de acessos.
O vídeo compara a atual geração de jovens, chamada de Millennials, com os Baby Boomers, que nasceram após a II Guerra Mundial, e com a chamada Geração X, nascidos nas décadas de 60 e 70. Esta última era vidrada em estereótipos e bastante influenciada pela publicidade.
A turma da Millennials, também chamada de juventude global, não se deixa enganar por discursos prontos, gosta de autenticidade e tem, entre os seus heróis, pessoas mais próximas.
"Os ídolos passam a ser um indivíduo qualquer que realize seus pequenos sonhos", diz Ana Paula. Esses jovens idealizam mulheres bonitas, mas não acredita em deusas. Mais do que assistir o que se passa a sua volta, o jovem quer interagir com quem está ao redor. O verdadeiro desfile de moda ocorre no Facebook e não nas passarelas - não é à toa que grandes grifes de moda estão na internet. Dessa forma, estabelece-se um novo padrão de beleza.
"Percebo que o número de campanhas estreladas por pessoas normais vem crescendo", diz o fotógrafo Maurício Nahas, que trabalha com moda e publicidade. "Imagino que esse tipo de propaganda visa aproximar as empresas de seus consumidores."
Para Luciane Robic, do IBmoda, os padrões de beleza estão mudando. Mas no universo restrito da moda, ainda imperam as leis antigas. "Nas passarelas, a magreza e a altura ainda são regra", diz Luciane. "Esse padrão está migrando até para redutos onde se valorizava mulheres mais curvilíneas, como no concurso de miss."
Caldas diz que o momento é de transformação. "Sempre haverá um padrão de beleza hegemônico. Mas daqui pra frente, qual será ele, é difícil dizer."
------------------------------ Reportagem por Por Vanessa Barone Para o Valor, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico on line, 23/09/2011
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