A produção científica sobre aspectos psicológicos da crença religiosa aumentou tanto nos últimos anos que a Universidade Harvard, a mais prestigiada dos EUA, criou uma disciplina de graduação permanente só para tratar do assunto.
Desde o ano passado, o curso vem sendo ministrado no campus de Cambridge, em Massachusetts, por Omar Sultan Haque, psicólogo experimental que investiga diversas questões sobre o assunto.
Por que a religião existe em todas as culturas? A religião torna as pessoas mais cooperativas? A religião foi um comportamento moldado pela seleção natural durante a evolução humana?
Essas e outras questões --para as quais a ciência ainda não tem uma resposta definitiva-- estão no currículo da disciplina, que tem atraído cada vez mais alunos.
O programa do curso, porém, traz um aviso logo na primeira página: "Nós não estamos estudando se a religião tem premissas verdadeiras ou falsas, se devemos acreditar nela ou praticá-la".
Segundo Haque, diversos alunos acabam procurando o curso mais como forma de conforto espiritual do que por interesse em produzir ciência.
"Muitos deles são estudantes inteligentes, mas são jovens inexperientes e são humanos", diz o psicólogo. "Para muitas pessoas, as diferenças entre psicologia da religião e filosofia da religião não são tão obvias."
Durante o curso, o professor tenta explicar aos alunos que as questões da psicologia sobre religião não têm a ver com a existência ou inexistência de Deus.
"Um ateu pode ler algo sobre psicologia da religião e pensar: 'Então é por isso que aqueles religiosos burros acreditam nisso'. Uma pessoa teísta pode pensar: 'Então Deus nos projetou desta maneira para que possamos perceber sua presença'", exemplifica Haque. "A psicologia da religião, porém, não tem resposta para isso."
Segundo o cientista, muitas pessoas interessadas em teologia ou filosofia da religião têm curiosidade também em aspectos psicológicos ligados ao tema, mas o diálogo entre esses campos do conhecimento não tem sido tão intenso quanto poderia.
Harvard, por exemplo, abriga uma faculdade de teologia, a Divinity School, onde alunos têm contato com uma infinidade de temas ligados à religião. Os estudantes que se matriculam nas aulas de Haque, porém, não podem aproveitar os créditos em seus currículos.
O psicólogo lamenta. "Existe um tabu contra o estudo científico da religião. Ainda."
-----------------------Reportagem por RAFAEL GARCIA DE WASHINGTON
Fonte: Folha on line, 22/09/2011
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