domingo, 18 de setembro de 2011

'A vida na terra nunca mais será a mesma'

Rubem Alves*
O Clube de Roma é um grupo de pessoas que, a partir de 1968, se reúne para debater um vasto conjunto de assuntos relacionados à política, à economia internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Tornou-se muito conhecido em 1972 devido à publicação do relatório elaborado por uma equipe do MIT intitulado Os Limites do Crescimento, que vendeu mais de 30 milhões de cópias em 30 idiomas, tornando-se o livro sobre ambiente mais vendido da história.
Fazendo uso de modelos matemáticos, os cientistas chegaram à conclusão de que o planeta Terra não suportaria mais o crescimento populacional e econômico que vinha tendo devido à pressão sobre os recursos aturais e energéticos e o aumento da poluição. Cinco décadas depois, a destruição das florestas, a degradação ambiental e a poluição aumentaram de forma vertiginosa. Explicando a tese do Clube de Roma por meio da metáfora médica pode-se dizer simplesmente que "a Terra está com câncer". Câncer é o nome genérico para mais de cem doenças que se caracterizam pelo crescimento desordenado das células.
Alguém poderá dizer que a metáfora é defeituosa porque a Terra, não sendo algo vivo, não pode estar doente. Doença só dá em coisa viva, animais ou plantas.

"o mundo já ultrapassou o ponto
de não retorno quanto às mudanças climáticas
 e a civilização como a conhecemos
dificilmente irá sobreviver".

James Lovelock é um cientista que pensa diferente. Para ele a Terra é um organismo vivo, na verdade um super-organismo em que todas as formas de vida estão relacionadas umas com as outras de modo que aquilo que afeta uma afeta também as outras. O solo, a água, o ar, o calor, os plânctons, as baleias, os pinguins, o gelo, as gaivotas, os peixes, as nuvens, as borboletas, as frutas, as florestas, as abelhas, as aves migratórias, os bilhões ou trilhões de bactérias que moram no nosso corpo, os ventos, as correntes marinhas, os rios, os riachos, a chuva, as sementes, a indescritível quantidade e variedade de formas de vida, assombrosas pela sua funcionalidade e estética - está tudo entrelaçado, formando um organismo vivo em que cada forma de vida precisa da outra. A esse super-organismo vivo que precisa permanecer vivo para que as pequenas formas de vida que dele dependem continuem vivas, ele deu o nome de "Gaia" que, em Grego é o nome da deusa "Terra".
Segundo ele, e baseado em cálculos, pelo final desse século a temperatura média nas regiões temperadas aumentará 8ºC e nos trópicos até 5ºC. Esse aumento de temperatura tornará a maior parte das terras agricultáveis do mundo inabitáveis e impróprias para a produção de alimentos. Escrevendo no jornal britânico The Independent em janeiro de 2004, ele afirmou que, como resultado do aquecimento global ao final do século 21, "bilhões de nós morrerão e os poucos casais férteis que sobreviverão estarão no Ártico onde o clima continuará tolerável". "E o pior está por acontecer. Ecossistemas inteiros serão extintos e os sobreviventes terão de se adaptar a um clima infernal... (Folha de S. Paulo, caderno Mais, 22/1/2006, p.9). Em janeiro de 2006, falando ao jornal The Independente ele disse que "o mundo já ultrapassou o ponto de não retorno quanto às mudanças climáticas e a civilização como a conhecemos dificilmente irá sobreviver". Ele acredita que os esforços para conter o aquecimento global já não podem obter sucesso completo e a vida na Terra nunca mais será a mesma.
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* Teólogo. Escritor. Educador. Cronista.
Fonte: Correio Popular on line, 18/09/2011
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