obra bem-humorada traduzida diretamente para o português
Admirada por nomes como Woody Allen e Umberto Eco,
Admirada por nomes como Woody Allen e Umberto Eco,
poeta vive em Cracóvia, distante da mídia
O cineasta Woody Allen afirmou certa vez que ela é capaz de capturar as asperezas e tristezas da vida e ainda assim ser positiva.
"Eu não consigo. Posso facilmente escrever sobre a tristeza da vida, mas fico zangado e amargo", lamentou.
Para o escritor italiano Umberto Eco, ela escreve "de forma descomplicada sobre as coisas mais importantes".
Allen e Eco fazem parte de uma longa lista de admiradores da poeta polonesa Wislawa Szymborska, que, apesar de ser conhecida na Europa -especialmente após ganhar o Prêmio Nobel de Literatura de 1996-, ainda é desconhecida no Brasil.
Na próxima semana, a editora Companhia das Letras lança uma antologia com 44 poemas da escritora, num livro intitulado simplesmente como "Poemas".
É a primeira vez que Szymborska (pronuncia-se Chimbórska), terá seus poemas traduzidos para o português num livro próprio (alguns foram publicados no passado em coletâneas de escritores estrangeiros).
Szymborska nasceu em 1923, entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, e publicou o primeiro livro no início da década de 50, ainda sob o regime do líder soviético Josef Stálin (1879-1953).
OBRA POÉTICA
Desde então, foram 12 volumes de poesia, cerca de 250 poemas. Ela ainda escreveu durante alguns anos crônicas sobre temas diversos em uma revista semanal da Polônia.
A linguagem simples e o senso de humor são características recorrentes de seu trabalho, afirma Henryk Siewierski, professor de teoria literária da Universidade de Brasília e autor de livro sobre a história da literatura polonesa.
Em um de seus poemas, ela zomba da essência e dimensão do próprio trabalho.
"Para os poetas poloneses nascidos no entreguerras, quando seu país ressurgiu das ruínas de três impérios, não havia crime ou pecado maior que o hermetismo", afirma Nelson Ascher, que assina a orelha do livro.
Entre os assuntos preferidos da escritora estão questões da biologia, do cosmos e da evolução humana.
A tradução da obra foi feita por Regina Przybycien, doutora em literatura comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais.
"Ela utiliza um polonês coloquial-culto, qualquer pessoa pode ler. A profundidade se refere aos temas que ela aborda", afirma.
Bastante discreta, a escritora mora desde criança em Cracóvia e segue uma rotina distante da mídia.
Em 2009, quando esteve na Universidade de Bolonha, provocou comoção no público italiano.
Diante da longa fila que se formou para obter seu autógrafo, ela afirmou, em tom bem-humorado, que soube então o que faria no Inferno: passaria os dias autografando os livros dos condenados.
POEMAS
AUTORA Wislawa Szymborska
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Regina Przybycien
QUANTO R$ 39,50 (168 págs.)
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REPORTAGEM POR FLÁVIA FOREQUE DE BRASÍLIA
Fonte: Folha on line, 17/09/2011
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Wislawa Szymborska |
O TERRORISTA, ELE OBSERVA
A bomba explodirá no bar às treze e vinte.
Agora são apenas treze e dezesseis.
Alguns terão ainda tempo para entrar;
alguns, para sair.
O terrorista já está do outro lado da rua.
A distância o protege de qualquer perigo.
E, bom, é como assistir a um filme.
Uma mulher de casaco amarelo, ela entra.
Um homem de óculos escuros, ele sai.
Jovens de jeans, eles conversam
Treze e dezessete e quatro segundos.
Aquele mais baixo, ele se salvou, sai de lambreta.
E aquele mais alto, ele entra.
Treze e dezessete e quarenta segundos.
A moça ali, ela tem uma fita verde no cabelo.
Mas o ônibus a encobre de repente.
Treze e dezoito.
A moça sumiu.
Era tola o bastante para entrar, ou não?
Saberemos quando retirarem os corpos. Treze e dezenove.
Ninguém mais parece entrar.
Um careca obeso, no entanto, está saindo.
Procura algo nos bolsos e
às treze e dezenove e cinqüenta segundos
ele volta para pegar suas malditas luvas. São treze e vinte.
O tempo, como se arrasta
É agora.
Ainda não.
Sim, agora.
A bomba, ela explode.
Tradução: Nelson Ascher
(Versão realizada a partir da versão inglesa de Adam Czerniawski e da
norte-americana de Magnus J. Krynski e Robert A. Maguire)
Tatuagem com os catorze algarismos iniciais do número pi: 3,1415926535897...
Imagem do site Talk Like a Physicist
PI
O admirável número pi:
três vírgula um quatro um.
Todos os dígitos seguintes são apenas o começo,
cinco nove dois porque ele nunca termina.
Não se pode capturá-lo seis cinco três cinco com um olhar,
oito nove com o cálculo,
sete nove ou com a imaginação,
nem mesmo três dois três oito comparando-o de brincadeira
quatro seis com qualquer outra coisa
dois seis quatro três deste mundo.
A cobra mais comprida do planeta se estende por alguns metros e acaba.
Também são assim, embora mais longas, as serpentes das fábulas.
O cortejo de algarismos do número pi
alcança o final da página e não se detém.
Avança, percorre a mesa, o ar, marcha
sobre o muro, uma folha, um ninho de pássaro, nuvens, e chega ao céu,
até perder-se na insondável imensidão.
A cauda do cometa é minúscula como a de um rato!
Como é frágil um raio de estrela, que se curva em qualquer espaço!
E aqui dois três quinze trezentos dezenove
meu número de telefone o número de tua camisa
o ano mil novecentos e setenta e três sexto andar
o número de habitantes sessenta e cinco centavos
a medida da cintura dois dedos uma charada um código,
no qual voa e canta descuidado um sabiá!
Por favor, mantenham-se calmos, senhoras e senhores,
céus e terra passarão
mas não o número pi, nunca, jamais.
Ele continua com seu extraordinário cinco,
seu refinado oito,
seu nunca derradeiro sete,
empurrando, arf, sempre empurrando a preguiçosa
eternidade.
Tradução: Carlos Machado
O admirável número pi:
três vírgula um quatro um.
Todos os dígitos seguintes são apenas o começo,
cinco nove dois porque ele nunca termina.
Não se pode capturá-lo seis cinco três cinco com um olhar,
oito nove com o cálculo,
sete nove ou com a imaginação,
nem mesmo três dois três oito comparando-o de brincadeira
quatro seis com qualquer outra coisa
dois seis quatro três deste mundo.
A cobra mais comprida do planeta se estende por alguns metros e acaba.
Também são assim, embora mais longas, as serpentes das fábulas.
O cortejo de algarismos do número pi
alcança o final da página e não se detém.
Avança, percorre a mesa, o ar, marcha
sobre o muro, uma folha, um ninho de pássaro, nuvens, e chega ao céu,
até perder-se na insondável imensidão.
A cauda do cometa é minúscula como a de um rato!
Como é frágil um raio de estrela, que se curva em qualquer espaço!
E aqui dois três quinze trezentos dezenove
meu número de telefone o número de tua camisa
o ano mil novecentos e setenta e três sexto andar
o número de habitantes sessenta e cinco centavos
a medida da cintura dois dedos uma charada um código,
no qual voa e canta descuidado um sabiá!
Por favor, mantenham-se calmos, senhoras e senhores,
céus e terra passarão
mas não o número pi, nunca, jamais.
Ele continua com seu extraordinário cinco,
seu refinado oito,
seu nunca derradeiro sete,
empurrando, arf, sempre empurrando a preguiçosa
eternidade.
Tradução: Carlos Machado
AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS
Quando pronuncio a palavra Futuro
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.
Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves
Quando pronuncio a palavra Futuro
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.
Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves
Vincent Van Gogh - Quarto em Arles, 1888
QUARTO DO SUICIDA
Vocês devem achar, sem dúvida, que o quarto esteve vazio.
Mas lá havia três cadeiras de encosto firmes.
Uma boa lâmpada para afastar a escuridão.
Uma mesa, sobre a mesa uma carteira, jornais.
Buda sereno, Jesus doloroso,
sete elefantes para boa sorte, e na gaveta — um caderno.
Vocês acham que nele não estavam nossos endereços?
Acham que faltavam livros, quadros ou discos?
Mas da parede sorria Saskia com sua flor cordial,
Alegria, a faísca dos deuses,
a corneta consolatória nas mãos negras.
Na estante, Ulisses repousando
depois dos esforços do Canto Cinco.
Os moralistas,
seus nomes em letras douradas
nas lindas lombadas de couro.
Os políticos ao lado, muito retos.
E não era sem saída este quarto,
ao menos pela porta,
nem sem vista, ao menos pela janela.
Binóculos de longo alcance no parapeito.
Uma mosca zumbindo — ou seja, ainda viva.
Acham então que talvez uma carta explicava algo.
Mas se eu disser que não havia carta nenhuma —
éramos tantos, os amigos, e todos coubemos
dentro de um envelope vazio encostado num copo.
Tradução: Ana Cristina Cesar
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