domingo, 18 de setembro de 2011

Os Estados Unidos em um beco sem saída

The Economist

Barack Obama se vê cara a cara
com o dilema de equilibrar relação do país
com Egito, Síria e Israel

Barack Obama se vê dividido entre a busca pelo
Estado palestino e as relações dos EUA com Israel
Quando é que as coisas darão certo para Barack Obama no Oriente Médio? O presidente assumiu o cargo esperando entregar uma solução para o dilema do Estado palestino, e perdeu boa parte de seu poder político ao fracassar. Ele queria colocar os Estados Unidos do lado certo da Primavera Árabe, embora isso significasse se juntar a uma guerra contra um país árabe (Líbia), e fazer vista grossa enquanto outro (Síria) massacrava seus cidadãos. Agora ele está no meio de uma série de brigas entre os melhores amigos dos Estados Unidos no Mediterrâneo, das quais o país parece não ter escapatória.
Há pouco tempo o leste do Mediterrâneo parecia tranquilo sob a patrulha das frotas norte-americanas. Israel, Egito e Turquia eram todos amigos, não apenas dos Estados Unidos, mas uns dos outros. Com o passar dos anos, a amizade entre Israel e Egito esfriou, é verdade, e após os conflitos de Gaza entre Israel e Hamas em 2008, as relações entre Israel e a Turquia também esfriaram. Nos bastidores, no entanto, os governos (e as forças armadas) dos três países pareciam contentes em manter os acordos estratégicos, um triângulo que os legisladores norte-americanos acreditavam que pudesse ser bem-sucedido na complicada geometria do Oriente Médio.
Isso é passado. No dia 10 de setembro, Obama e seu secretário de Defesa, Leon Panetta, se viram em telefonemas frenéticos para o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu e o Marechal Muhammad Hussein Tantawi, presidente do conselho de governo do Egito, tentando salvar a equipe israelense no Cairo da fúria de populares que invadiam o prédio da embaixada. Soldados egípcios conseguiram garantir a segurança dos israelenses, mas a imagem do embaixador fugindo das garras da Primavera Árabe para a segurança de Jerusalém foi um sinal do que o despertar democrático do mundo árabe pode significar para as relações entre Egito e Israel, cujo tratado de paz foi o maior feito da gestão de Jimmy Carter e definiu as bases da diplomacia árabe-israelense que se manteve por 30 anos.

Mal-estar entre vizinhos

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos lutam, sem sucesso para reparar a cisão entre Israel e Turquia decorrente do incidente no qual forças israelenses mataram oito turcos em um barco que seguia rumo à Faixa de Gaza, violando o bloqueio naval israelense, em maio do ano passado. Depois que os parceiros de coalizão de Netanyahu se recusaram a permitir que ele se desculpasse formalmente, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, deu a entender que navios de guerra poderão escoltar embarcações turcas que sigam rumo à Faixa de Gaza.
"Obama não enxerga a possibilidade
de fazer isso via ONU, sem acordos bilaterais.
Para piorar, os amigos de Israel no
 Congresso norte-americano
estão cogitando retaliações,
como corte de auxílios financeiros."
Assim como acontece no caso das tensões entre Israel e o Egito, o conflito entre Israel e Turquia deixa os Estados Unidos completamente desorientados no meio da disputa. A Turquia é uma parceira da Otan; Israel é um amigo especial. Obama e os norte-americanos adorariam ver seus aliados trabalhando juntos, mas isso não acontecerá tão cedo. O relatório da ONU que classifica o bloqueio naval israelense como legal, elimina qualquer chance de um pedido de desculpas por parte de Netanyahu. Erdogan, por sua vez, tem visitado os países afetados pela Primavera Árabe, e levado as multidões ao delírio com discursos beligerantes contra Israel.
Após o ataque contra o barco, Erdogan também desenvolveu planos de tornar a Turquia a defensora número um dos palestinos, apoiando o pedido de reconhecimento do Estado palestino na ONU nesse mês. Os norte-americanos, principais promotores do interminável processo de paz, estão incomodados com essa ideia. Por mais que defenda a criação de um Estado palestino, Obama não enxerga a possibilidade de fazer isso via ONU, sem acordos bilaterais. Para piorar, os amigos de Israel no Congresso norte-americano estão cogitando retaliações, como corte de auxílios financeiros. A cooperação na segurança da Cisjordânia pode ruir, criando uma nova intifada. Obama certamente vetará a criação do Estado palestino se a discussão chegar ao Conselho de Segurança. Isso lhe dará as credenciais pró-Israel necessária para se aproximar de sua reeleição no ano que vem, mas destruirá seus esforços para melhorar as relações dos Estados Unidos com o mundo árabe. Se os israelenses – que agora são vítimas de uma nova onda de ódio por parte do mundo árabe – estão pagando a chamada “taxa Netanyahu”, graças à intransigência de seu primeiro-ministro para com os palestinos, os norte-americanos também estão pagando uma taxa cada vez mais cara por sua amizade com Israel.
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Fontes: The Economist - A problem with club Med
http://opiniaoenoticia.com.br/18/09/2011
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