Andrés Torres Queiruga*
"Deus não tem de vir ao mundo, porque já está desde sempre em sua raiz mais profunda e originária; não tem de intervir, pois é sua própria ação que está sustentando e pro-movendo tudo; não acode e intervém quando é chamado, porque é Ele quem, desde sempre, está convocando e solicitando nossa colaboração. Karl Rahner – em um livro destinado ao grande público – salientou, há muitos anos, a enorme transcendência desta inversão, sublinhando as graves consequências que o fato de não tê-la em conta tem acarretado. Vale a pena citá-lo por extenso:
KARL RAHNER |
Portanto, se o que acontece é que antigamente se acreditava que Deus intervinha, ao menos em alguns casos determinados, de uma maneira pontual e espaço-temporal em instantes concretos da marcha do universo, então, verdadeiramente teve lugar uma transformação enorme de mentalidade na passagem de épocas anteriores à nossa, uma transformação que, certamente, ainda não chegou a se impor até as últimas consequências, nem na prática religiosa de tipo médio, nem na teologia cristã, e precisamente por isso, está criando-nos grandes dificuldades. (K. Rahner, K.H. Weger, Qué debemos creer todavia? Propuestas para uma nueva generación, Santander, 1980, p.69).
Duas instituições fundamentais permitem articular teologicamente esta nova compreensão: a nova concepção do infinito e o repensar da ideia de criação."
(Excerto do livro: Fim do Cristianismo pré-moderno*)
-----------------------------------* Doutor em Filosofia e Teologia. Prof. Universitário na Espanha. É galego.
( QUEIRUGA, Andrés Torres. – FIM DO CRISTIANISMO PRÉ-MODERNO – desafios para um novo horizonte. Paulus, SP, 2003, p.30/31)
*KARL RAHNER, teólogo alemão de renome. Jesuíta. Participou como teólogo do Concílio Vaticano II. Criou a revista Concilium.
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