'Depois de cada distração, os funcionários
podem demorar mais 20 minutos
para recuperar o foco e retornar à tarefa',
diz realizador de pesquisa
O pesquisador David Lavenda// Crédito: Divugação |
Um estudo realizado em julho pela empresa americana Harmon.ie concluiu que as constantes distrações digitais provocam impactos intensos na produtividade. Entre os 1.140 trabalhadores de Londres entrevistados, quase metade confessou ficar colada em laptops e smartphones durante uma reunião de trabalho, seja verificando e-mails ou mandando mensagens de texto. Na mesma situação, 10% dos indivíduos atualizam redes sociais.
Entre os entrevistados, 82% reclamaram da tendência de outras pessoas em interromper algum processo para atender ligações, twittar, responder e-mails ou mandar SMS. Ironicamente, 70% deles disseram que ficariam ofendidos se fizessem a mesma coisa com eles. “Nós acreditamos que o vício digital dos trabalhadores tem muito a ver com a gratificação instantânea. Existe um sentimento positivo associado à possibilidade de checar seu e-mail e encontrar algo novo lá.”, diz David Lavenda, vice-presidente de marketing e estratégia de produto da Harmon.ie.
A pesquisa descobriu ainda que 1/3 dos funcionários leva cerca de 20 minutos para voltar a trabalhar depois de terem sido distraídos por e-mail, SMS ou redes sociais. Mais de 1/3 disse ainda que constantes distrações digitais tornam o trabalho mais difícil, e 22% confirmou que fica mais difícil pensar com criatividade. “Esses fatores trazem dificuldade para os trabalhadores em assumir suas responsabilidades com o foco e esforço necessários.”, afirma Lavenda.
Leia abaixo a entrevista completa com o idealizador da pesquisa.
Galileu: Qual foi o objetivo da pesquisa?
David Lavenda: Nós conduzimos o estudo para entender melhor os impactos intensos que as distrações eletrônicas exercem no local de trabalho. Em alguns casos, os impactos foram muito mais fortes do que tínhamos imaginado.
Galileu: Como foi realizado o estudo?
David: A harmon.ie teve a ideia de fazer a pesquisa e formulou as perguntas, mas contratamos uma empresa para executar o estudo, que é a uSamp. Em março, eles aplicaram as perguntas a 515 trabalhadores dos Estados Unidos, de empresas de todos os tamanhos e de várias áreas diferentes: vendas, marketing, recursos humanos, etc. Os entrevistados tinham no mínimo 20 anos de idade. Em julho, a pesquisa foi aplicada para 1.140 trabalhadores do Reino Unido.
Galileu: Por que vivemos em uma era de distrações digitais?
David: A superabundância de ferramentas, softwares e gadgets supostamente deveria fazer os funcionários incrivelmente produtivos e facilmente acessíveis. No entanto, elas plantaram um monte de consequências não intencionais, como os funcionários tendo que enfrentar uma enxurrada constante de e-mails, telefonemas, mensagens de texto, tweets e outras coisas mais, empurrando-os em um estado constante de sobrecarga digital.
Galileu: Por que as pessoas se deixam interromper por celulares e redes sociais? É um vício ou elas realmente acham que estão fazendo seu trabalho corretamente?
David: Muitas pessoas acreditam que vão perder a vantagem na competição se eles se desconectarem de sua caixa de e-mails por 30 minutos ou até menos. De fato, de acordo com nossa pesquisa, 20% das pessoas entrevistadas se sentiram com medo de perder prestígio no trabalho por ficarem cinco minutos sem ver o e-mail. Mas toda essa conectividade não gera maior produtividade, tanto é que um terço dos entrevistados confessaram que são interrompidos pelo menos a cada 15 minutos. Depois de cada distração, eles podem demorar mais 20 minutos para recuperar o foco e retornar à tarefa.
Nós acreditamos que o vício digital dos trabalhadores tem muito a ver com a gratificação instantânea. Existe um sentimento positivo associado à possibilidade de checar seu e-mail e encontrar algo novo lá, e existe certa ansiedade também que acompanha um sentimento de estar sendo deixado pra trás, caso você não olhe a caixa de entrada. A gratificação instantânea é tão viciosa que passar por cima disso é crucial. A última mensagem da caixa de entrada parece ser a coisa mais urgente da sua vida, mas será que é mesmo?
Galileu: As constantes distrações diminuem a produtividade dos trabalhadores, certo? Mas, além da quantidade, essas distrações podem diminuir a qualidade do trabalho também?
David: Absolutamente. Nossos resultados mostraram que os funcionários tiveram problema em terminar seu trabalho [36%], sofrem com a sobrecarga de informação [22%] e consequentemente falharam em pensar criativamente [22%]. Esses fatores trazem dificuldade para os trabalhadores em assumir suas responsabilidades com o foco e esforço necessários.
Galileu: As ferramentas digitais, além de prejudicar o trabalho, estão invadindo também nossa vida pessoal? De que maneira isto pode ser prejudicial?
David: Sim, nosso estudo descobriu que as ferramentas sociais e de comunicação estão invadindo as relações pessoais dos trabalhadores. Na pesquisa completa você vai achar todas as porcentagens, mas descobrimos que quase todos os entrevistados continuam conectados ao e-mail do trabalho durante os finais de semana [85%], muitos também ficam ligados durante a noite [79%], um grande número de pessoas continuam em contato com o escritório mesmo durante as férias [74%]. Metade das pessoas confirmou ainda que continua online na cama [48%], e um terço disse que nunca se desconecta do trabalho [35%]. O resultado é que a vida pessoal das pessoas se torna invadida, e elas voltam para o trabalho depois de um fim de semana ou das férias com menos energia e inspiração do que deveriam.
Galileu: Levar uma vida multi-tasking, ter a capacidade de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, é valorizado pelas empresas? Por quê? De onde vem esse ideial?
David: Para muitas pessoas, multitasking é inevitável. Apesar de que a pesquisa mostra que o verdadeiro multitasking é um mito, já que as pessoas só conseguem se focar em uma coisa por vez. Elas, na verdade, estão trocando de atividades constantemente.
Galileu: A pesquisa descobriu que as distrações digitais diminuem a produtividade. Você acha que a tendência é que as empresas passem a valorizar os trabalhadores que conseguem evitar essas distrações?
David: As empresas apreciam as pessoas que conseguem fazer suas obrigações mais importantes. Mas gerenciar essa questão não significa bloqueá-los dos canais de mídia social, mas sim encontrar maneiras de melhor gerenciá-los. Na nossa perspectiva, isso inclui integrar as ferramentas no ambiente de trabalho diariamente, para que as pessoas tenham fácil acesso a outras pessoas e à informação dentro de seu contexto de trabalho. Isso inclui também um treinamento, já que a maioria das pessoas não tem um sentido instintivo para as melhores práticas, pelo menos quando se trata de gestão de mídias sociais e outras ferramentas de comunicação. Além disso, é necessário ainda estabelecer algumas políticas em escrito para ajudar a gerenciar o botão de liga/desliga, como verificar se está sendo pedido que os funcionários desliguem seus celulares durante reuniões. Sem uma orientação explícita, dois terços dos funcionários vão interromper uma reunião para se comunicar digitalmente com outra pessoa, e apenas uma minoria vai se desconectar para se focar em uma tarefa.
Galileu: Você conhece alguma empresa que está investindo na eliminação das distrações digitais de seus funcionários?
David: Alguns clientes da Harmon.ie, como a Amway, a Continental Automotive, a Swiss Air e a ABB, estão investindo em um e-mail social para minimizar as trocas de contexto que distraem seus funcionários, além de aproveitar o poder das redes sociais, transformando o e-mail em um espaço de trabalho social e colaborativo. O email social fornece fácil acesso a pessoas e informações dentro do contexto, dentro do ambiente de trabalho diário. Muitos de nossos clientes também estão investindo no treinamento para ajudar seus funcionários a superar as crescentes aflições geradas pela mídia social. Nós recomendamos que os funcionários se desliguem de todas as distrações e se foquem em uma tarefa por vez.
---------------------------- Reportagem por por Érika Kokay
Fonte: http://revistagalileu.globo.com - Acesso 28/09/2011
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