quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ex-CEO do Yahoo perde a linha após ser demitida pelo conselho

Lucy Kellaway
A recente demissão de Carol Bartz (foto) foi teatro do mais alto nível. Assistir à ex-CEO do Yahoo cuspir impropérios foi algo estimulante, mas também confirmou pelo menos quatro dos preconceitos que tenho mais profundamente guardados sobre a vida, o trabalho e a linguagem.
O primeiro preconceito diz: nunca confie em ninguém que usa a frase "seguir em frente". O e-mail que Bartz enviou para o staff da companhia dizia o seguinte: "A todos, estou muito triste em informá-los de que acabo de ser demitida por telefone pelo presidente do conselho de administração do Yahoo. Foi um prazer trabalhar com todos vocês e desejo o melhor a todos ao seguir em frente. Carol".
Naquele momento, vários comentaristas aplaudiram sua mensagem por ela ser breve e direta. Mas eu não acreditei. O "seguir em frente" foi um sinal claro de que Bartz em breve estaria seguindo para trás. De fato, passadas 24 horas de sua saída, ela havia concedido a mais destemperada e inoportuna entrevista de despedida à imprensa que eu já tive a oportunidade de ver da parte de um presidente-executivo.
Meu segundo preconceito diz que mulheres líderes podem ser tão agressivas e desbocadas quanto os homens. Da próxima vez que eu ouvir especialistas em diversidade cuspindo suas costumeiras palavras sem sentido sobre executivas sendo consensuais e educadas, vou pensar em Bartz, com seu ódio incandescente, gritando descontrolada "essas pessoas me f........".
O terceiro princípio é que a honestidade pode ser uma estratégia ruim, especialmente no trabalho. A vida corporativa é baseada em um sistema de acordos e observá-los no geral é uma ideia melhor do que dizer o que se pensa. O acordo em ser presidente-executivo é que você recebe um belo salário para cumprir seus deveres, mas se as coisas não correrem bem, você será demitido. Quando isso acontece, o acordo é que você ficará de boca fechada e de bolsa aberta para receber um pagamento estupendo. Você não diz a um jornalista que seus ex-colegas do conselho eram "estúpidos". Fazer isso pode ser uma coisa honesta, mas também humilha e questiona todo o sistema.
"Sou totalmente a favor dos palavrões no trabalho,
mas apenas nas circunstâncias certas.
Xingar pode reduzir o estresse,
é bom para estreitar os laços e
 sinaliza que você não é uma pessoa pomposa
e arrogante."
Na verdade, no e-mail enviado por Bartz aos funcionários do Yahoo, as únicas partes que soaram boas foram aquelas em que a honestidade tomou um lugar secundário. Evidentemente ela não estava "muito triste" em transmitir a notícia para os colegas - ela estava furiosa. E certamente não foi um "prazer" trabalhar com "todos" os funcionários do Yahoo - aposto que ela não gostou nem um pouco de trabalhar com os "estúpidos". E será que ela desejou "tudo de bom" a eles? Ou estava torcendo para seu substituto seja ainda pior do que ela no comando do Yahoo?
Mesmo assim, ela fez bem em recorrer a essas inverdades: elas são parte do roteiro consolador e necessário envolvido em uma demissão. As coisas somente começaram a sair dos trilhos quando ela o abandonou. O quarto preconceito envolve os xingamentos. Sou totalmente a favor dos palavrões no trabalho, mas apenas nas circunstâncias certas. Xingar pode reduzir o estresse, é bom para estreitar os laços e sinaliza que você não é uma pessoa pomposa e arrogante.
No entanto, é sempre um erro para os CEOs usar a palavra começada dom "f", especialmente nos Estados Unidos e, mais ainda, para um jornalista. Ela só é conveniente em uma entrevista se a pessoa for 40 anos mais nova que Bartz e trabalhar no negócio da música.
Além de confirmar meus quatro preconceitos, a despedida de Bartz me encorajou a adotar um novo. A demissão por telefone pode não ser uma má ideia, afinal de contas. Tinha a visão de que é melhor despedir alguém cara a cara, por isso demonstrar mais respeito e etc. Mas agora acho que o presidente do conselho pode ter feito um favor a ela, esperando que ela estivesse do outro lado do continente para fazer um telefonema e ler o roteiro legal. Bartz diz que isso foi uma falta de classe, mas imagino se ela teria achado uma fineza maior se ele tivesse olhado em seus olhos e dito: "Você não é boa - está demitida".
O principal benefício de ser demitido por telefone (ou por e-mail ou mensagem de texto) é que isso dá à pessoa que está sendo demitida algo pequeno e não complicado para ela despejar sua raiva. Emocionar-se em uma explosão de indignação justa, por causa da maneira grosseira com que você foi demitido, distrai você da verdade repugnante e humilhante de que você foi considerado responsável por um grande fracasso.
A única coisa errada em encorajar as pessoas a conduzir demissões por telefone é que isso torna a vida bem mais fácil para quem está demitindo, e essa pessoa também deveria sofrer. Mas nesse caso, dada a devoção de Bartz à honestidade, aos palavrões e à raiva, não estou tão certa. Se o presidente do conselho a tivesse confrontado pessoalmente, de machado na mão, ela poderia arrancá-lo de suas mãos e a conclusão poderia ter sido ainda mais dramática: todos morreriam cortados em pedaços.
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*Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira
Fonte: Valor Econômico online, 19/09/2011

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