É muito mais fácil caçá-las,
diz o professor de inovação Bill Fischer, do IMD.
E as melhores estão dando sopa por aí,
no Twitter
Por Karla Spotorno
Bill Fischer costumava desdenhar do Twitter. Dizia que aquilo não passava de passatempo infantil, “coisa para criança se divertir”. Até que em fevereiro deste ano, finalmente testou seu @bill_fischer. “Descobri que os tweets me ajudam a aprender mais”, diz Fischer, um nova-iorquino de 66 anos. Sendo professor de inovação e estratégia (da escola suíça de negócios IMD), é claro que ele desenvolveu um método para aproveitar a experiência do Twitter. Está em The idea hunter (“O caçador de ideias”), livro escrito com o colega Andy Boynton. Além do estímulo a usar desenfreadamente as redes sociais (“presidentes têm de descer do pedestal e mergulhar na sociedade virtual”), Fischer dá um chega para lá na ideia de ócio criativo – para ele, um caçador de ideias deve manter a atividade cerebral sempre em alta.
Quem são os caçadores de ideias?
São pessoas que fazem a empresa evoluir a partir de suas ideias. Tipicamente, são apaixonadas por um tema. Muitas usam a internet, sobretudo as redes sociais, como veículo de disseminação de seus insights e das novidades sobre determinado assunto. Vem daí meu interesse pelo Twitter. Os tweets me ajudam a aprender mais. Gosto de seguir as pessoas para observar o que elas pensam e o que têm pesquisado. Isso me ajuda a ter minhas próprias ideias.
O Twitter é o principal canal para ter ideias?
Não uso só o Twitter. Escrevo e testo minhas ideias em dois blogs e tento ter um número de fontes de informação que faça sentido. Quando deixa de fazer sentido, paro de acompanhar. É importante não ficar emocionalmente ligado a nenhuma das fontes.
Como o senhor administra a quantidade absurda de fontes de informação e dribla as ideias que não lhe servem?
A primeira coisa é delimitar o que você está procurando. No meu caso, estou interessado em inovação e em China. Acompanho quem fala e escreve sobre esses assuntos. No Twitter, descobri pessoas incríveis, como um sociólogo canadense que mostra que o mundo das ideias não é plano, e um professor da Nova Zelândia que escreve sobre inovação. De tempos em tempos, reavalio quem vale a pena acompanhar. A segunda questão é que não há garantia de sucesso. Seguir alguém no Twitter, acompanhar um blog, ler, ler, ler, não me dá a certeza de que vou encontrar boas ideias. Entro no jogo com isso em mente.
Onde um presidente de empresa deve caçar ideias?
A recomendação mais importante antecede a procura de ideias. O presidente tem de aceitar que ele sempre será quem sabe menos. Por isso tem uma equipe de especialistas. Ele deve ser alguém interessado em aprender, mais do que ser uma pessoa interessante. Dito isso, acredito que os executivos deveriam tuitar. Assim, ficam sabendo o que acontece na mídia social. Há muitos casos de funcionários seniores alheios às mídias sociais apesar de suas empresas fazerem negócios na rede e terem a marca e os produtos recebendo comentários e críticas pelo Twitter ou pelo Facebook.
Como encontrar as pessoas certas para seguir?
Comece pelas pessoas conhecidas e que têm algo a dizer sobre um tema importante para você. A grande vantagem dos dias de hoje é que não dependemos mais somente do nosso trabalho. Podemos contar com as descobertas e os avanços das outras pessoas. Há algum tempo, trabalhei com uma empresa que apostou na inovação aberta para resolver um problema. Era um detalhe técnico no desenvolvimento de uma mólecula que, depois de quatro meses de tentativas, mostrou-se insolúvel internamente. A direção decidiu lançar um concurso pela internet. A área de pesquisa não gostou da ideia. Mas, em menos de dois dias, eles já tinham a resposta. Em menos de dois dias!
O senhor afirma que é importante matar algumas ideias. Steve Jobs disse que melhor do que ter novas ideias é matar as antigas.
É impossível administrar um grande fluxo de ideias. É preciso descartar aquelas que não servem ou não serão aproveitadas. De que adianta guardar os projetos se não for usá-los?
Fuja deles. Só tomam tempo, atenção e desaceleram sua produtividade.
Em muitas profissões, é preciso estar atento a várias ideias paralelas sobre os mais diversos assuntos.
Sim. Mesmo assim, é preciso manter um portfólio das ideias em que você está trabalhando. Algumas serão usadas amanhã, outras ao longo do próximo mês. E existem aquelas que você nunca vai usar. Livre-se delas. Sei que é doloroso. Afinal, a ideia foi sua e é natural que tente defendê-la. Mas uma ideia parada não tem valor.
O senhor diz que as mídias sociais não dispersam as pessoas.
Tenho duas respostas. A primeira é que sou brutalmente contra a ignorância como estratégia de vida. Para mim, sempre será melhor aprender mais do que menos. Em segundo lugar, o Twitter é dispersivo somente se você permitir. Se não tem disciplina, siga menos pessoas. E se está disperso com o grupo de pessoas que segue, significa que está seguindo as pessoas erradas. É uma questão de foco.
Kees van der Graaf, ex-CEO da Unilever, afirmou a Época NEGÓCIOS que a criatividade surge quando o indivíduo esvazia a mente, relaxa. O senhor diz que o perfil do caçador é de alta frequência de atividade cerebral...
Acredito que há dois tipos de criatividade: a randômica, em que a frequência cerebral precisa desacelerar para as ideias surgirem, e a criatividade com propósito. Esse segundo tipo precisa de desafio, alta pressão e prazo curto. É o modelo que eu prefiro. Se tenho um problema a resolver, preciso de foco e uma quantidade grande de ideias que aumente as minhas chances de ter a melhor solução. Isso só se faz com alta frequência cerebral.
No livro, o senhor fala que o espaço físico ajuda a troca de ideias e sugere a mudança de algumas regras corporativas...
Vale a pena suspender algumas regras e transgredir alguns padrões aquando a prioridade é inovar. Uma das primeiras normas a quebrar é a hierarquia. A interação de profissionais de diferentes cargos e áreas traz vantagens para a empresa. Outra mudança é colocar em segundo plano as tarefas rotineiras. Se um determinado problema é importante, é bom que os envolvidos não dediquem seu tempo a outros projetos. Se a busca é por uma inovação, é preciso ter foco.
Foco com diversidade de ideias?
Sim. É preciso ter diferentes pontos de vista.
O senhor diz que os executivos devem dedicar uma hora do dia a si mesmos. Por quê?
Essa foi uma das melhores recomedações [de Charles Munger, parceiro de Warren Buffett] que já ouvi. É comum o presidente de uma empresa ficar intoxicado com o poder. Por isso, ele deve dedicar uma hora do dia para refletir se continua sendo a melhor pessoa para conduzir a empresa. Essa hora pode ser um almoço com os funcionários no refeitório, para conversar mesmo. No final dos anos 90, quando fui presidente de uma joint venture na China, sempre me surpreendia com o que acontecia e era falado na base. Para mim, era importante saber o que estava acontecendo. Não que eu fosse interferir. Mas era bom saber.
O senhor visita o Brasil pela segunda vez em setembro. O que acha do país?
Fiquei espantado com a diversidade, com a exuberância sociocultural. Um dos grandes recursos do Brasil são as pessoas. Quando vou à China, o que mais me preocupa é se eles têm diversidade suficiente para crescer como planejam. O Brasil já tem esse ativo. Nesse sentido, está à frente da China e da Índia. Mas não sei se essa diversidade está sendo plenamente aproveitada. No ano passado, fiz essa pergunta aos meus amigos brasileiros e não obtive uma resposta convincente. Não tenho a certeza de que o país está trabalhando bem essa vantagem competitiva.
Os blogs do caçador
Pessoal: billunplugged.blogspot.com
Na revista Forbes: blogs.forbes.com/billfischer
Fonte: Revista ÉPOCA NEGÓCIOS on line, agosto/2011
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