quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

3 observações sobre o crescimento zero da economia

Os resultados surpreenderam em
alguns aspectos, mas o esperado é que
o ritmo de crescimento seja retomado
nos próximos trimestres

Marcello Casal Jr/ABr
Mantega anunciou medidas para estimular o consumo; especialistas dizem que ele poderia ter
optado por dar espaço ao BC para cortes mais agressivos nos juros

São Paulo – A economia brasileira apresentou crescimento zero no terceiro trimestre do ano. O movimento, em parte, era esperado por economistas. Algumas decisões tomadas pelo governo no começo do ano sinalizavam que o desempenho do PIB seria mais fraco.
Na avaliação de especialistas, porém, a estagnação será pontual. Nos próximos trimestres, a economia do país vai retomar o crescimento. Veja abaixo três conclusões de Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria, Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES) e Tony Volpon, analista do banco japonês Nomura Holdings, sobre o crescimento zero no terceiro trimestre.

Ele surpreendeu em alguns aspectos

Boa parte dos economistas já esperava números fracos com relação ao PIB no terceiro trimestre. Mas não contavam com crescimento zero. Segundo Jensen, da Tendências Consultoria, e Serrano, do BES, números ruins no caso da indústria eram previstos.
O setor vem apresentando crescimento fraco há vários meses, principalmente por causa das medidas do governo no setor de veículos. “A questão da indústria é estrutural. A dinâmica ruim do setor já puxava o PIB para baixo desde o começo do ano”, diz Serrano.
Surpreendente mesmo foi a queda do PIB no setor de serviços, o que indica uma queda no consumo, nas vendas do varejo. E a queda de 0,3% desta categoria foi uma das fortes contribuições para estagnar a economia no terceiro trimestre.

A estagnação tende a ser um caso isolado

O resultado do PIB foi fraco, mas a expectativa é que seja um episódio isolado. Segundo Flávio Serrano, do BES, o resultado do próximo trimestre não deve ser tão ruim. “Não será vigoroso, por que vamos herdar este efeito estatístico dos números ruins do terceiro trimestre”, explica.
Segundo ele, entretanto, já é possível notar uma melhora no acompanhamento do crescimento mensal do PIB. “Já começou a mostrar reação em novembro e isso deve continuar acontecendo”, explica. Para Serrano, o primeiro trimestre de 2011 já deve mostrar números mais fortes.

Serrano diz que o movimento esperado do PIB para os próximos trimestres tem a forma de um “V”. “Deve ser parecido com o que aconteceu em 2008, guardadas as proporções.” O economista explica que fatores importantes da nossa economia vão continuar sustentando o crescimento econômico. Dentre eles, o principal é o mercado de trabalho, que continua forte.
“No começo do ano houve contração de crédito, queda no desempenho da indústria e depressão no cenário econômico internacional. Isto freia a economia. Mas o mercado continua vigoroso e impulsiona o consumo, o que deve impactar positivamente o PIB. Não vai ser um desempenho como no primeiro trimestre deste ano, mas o crescimento vai continuar.”

Ele põe em dúvida algumas medidas do governo

Os juros altos foram apontados por economistas como uma das causas da desaceleração da economia. No começo do ano o Banco Central deu início a um ciclo de aperto monetário que começou a mostrar seus efeitos agora. “Este ciclo, combinado às medidas macroprudenciais do governo fez a economia frear mais rápido”.
Entretanto, quando o cenário internacional começou a preocupar, a autoridade monetária mudou o rumo e passou a cortar os juros. No fim do mês passado, como complemento, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, provavelmente antevendo os resultados ruins, anunciou medidas para estimular o consumo.
O economista do banco japonês Nomura Holdings, Tony Volpon, diz que o pacote de estímulos “foi um erro”, e que “o governo deveria deixar espaço para o Banco Central cortar juros mais agressivamente”.
Para Jensen, da Tendências Consultoria, as medidas “são muito pontuais, verticais. O governo tem problemas fiscais para 2012 e estas medidas podem tornar a conta fiscal um pouco mais complicada. Isso foi apenas um paliativo para setores em particular, quando deveriam ter sido tomadas medidas mais estruturais, redução de impostos para economia como um todo”.
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Reportagem POR Eduardo Tavares
Fonte: Site da revista EXAME, 07/12/2011

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