Tendências e debates
Israelenses ficaram nuas em solidariedade à blogueira egípcia (Reprodução/Internet) |
Tirar a roupa em público para defender
suas ideias é a nova febre global.
Mas será que isso funciona?
Blogueira egípcia tira roupa para protestar contra as restrições da liberdade em seu país. Ucranianas fazem topless para protestar contra a prostituição. Maitê Proença tira blusa e sutiã em vídeo contra Belo Monte. Partidários do artista chinês Ai Weiwei, que é investigado por “pornografia”, posam nus na internet para manifestar solidariedade ao dissidente. Israelenses tiram a roupa em apoio à blogueira egípcia. Mulheres saem de tanga nos EUA para apoiar causa vegan.
As manchetes das últimas semanas se repetem – em tempos de protestos e ocupações, a nudez em público virou uma febre global. O mundo está testemunhando um renascimento do ativismo nu, uma estratégia de provocação antiga. Tirar a roupa para protestar contra leis repressivas, ou apoiar causas, sempre funcionou pelo menos num quesito: chamar a atenção da mídia. Mas será que resulta em medidas práticas?
“Acho uma forma de protesto inócua”, afirma a socióloga Maria Lúcia Victor Barbosa, ex-professora da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Maringá.“Há formas de protesto mais inteligentes. Em alguns casos, vira deboche e até é prejudicial à causa”.
Para Maria Lúcia, tais ações refletem a febre por visibilidade do mundo contemporâneo, que leva a uma espetacularização do próprio corpo.
“Hoje em dia, faz parte da nossa cultura se expor, ficar à vontade, quebrar nossa intimidade. É uma forma de exibicionismo, uma maneira de aparecer a qualquer custo. Pode servir muito mais para a satisfação pessoal do que para uma causa”.
Satisfação pessoal ou ativismo, não há dúvidas de que a blogueira egípcia Aliaa Magda Elmahdy, de 20 anos, o caso mais emblemático entre todos citados, tem muito mais a perder realizando seu ato num país repressivo em relação à sexualidade feminina e com rigorosas normas de vestimenta. O que era para ser um protesto da estudante acabou se tornando um escândalo nacional. Mesmo os membros do Movimento da Juventude 6 de Abril, grupo revolucionário que ajudou a derrubar o ex-ditador Honsi Mubarak, repudiou a atitude da blogueira, que passou a sofrer ameaças de morte.
“Às vezes, nem é um protesto mas a defesa de uma postura”, observa a antropóloga Mirian Goldenberg, Professora do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia do IFCS/UFRJ e autora do livro Toda mulher é meio Leila Diniz. “É algo que você simplesmente tem que fazer. Ser você mesmo, sem se enquadrar em modelos, pode ser interpretado como uma forma de protesto quando na verdade não é. No caso da blogueira egípcia, pode ser a simples defesa da postura de uma mulher livre das prisões do corpo”.
Ela cita o exemplo de Leila Diniz, que ganhou admiração e escandalizou ao usar biquíni durante a gravidez, algo mal visto pela sociedade brasileira até então.
“Mostrar o corpo grávido era contra o senso estético. Leila Diniz deu uma outra versão para a barriga grávida, que passou a ser vista como bela e vital. Ela mostrou que o corpo dela não é controlado por ninguém, que um corpo não é uma prisão estética ou sexual”.
Durante muito tempo, as mulheres lutaram para não ser vistas apenas como um corpo, um objeto sexual. Não deixa de ser curioso que agora usem seu próprio corpo como instrumento político em protestos nus. No Brasil, o corpo das mulheres ainda é visto como um capital de mercado, tanto no trabalho quanto no casamento, acredita Mirian.
“Só que você é obrigado a ter determinado corpo para ser um capital e quase nenhuma mulher tem esse corpo. Vira uma prisão. Mas você inverte a questão se usá-lo livremente, der outro significado para ele, como uma causa política, como é o caso das mulheres que se despiram contra a prostituição na Ucrânia”.
------------------------------------------------Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/ 08/12/2011
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