Quais devem ser as prioridades do próximo presidente da República? Na
campanha eleitoral, há uma inflação de promessas feitas em propagandas
na TV e no rádio, em debates, comícios e entrevistas, mas você, caro
eleitor, o que considera essencial para que candidato escolhido nestas
eleições tenha um desempenho satisfatório no Palácio do Planalto? O Valor fez essa pergunta a 40 pessoas, entre executivos, artistas, empresários, profissionais liberais e acadêmicos.
A maioria - 32% dos consultados - pediu mais atenção à educação, do
ensino básico à universidade, passando pela valorização dos professores,
a qualquer candidato que seja eleito. "É necessária uma reforma geral
do setor no país", diz o ator Jesuíta Barbosa, 23 anos, que atuou no
filme "Praia do Futuro" e na telenovela "O Rebu". Uma pesquisa realizada
pelo Datafolha no início do ano mostrou, de fato, que para 9% dos
entrevistados a educação era um dos principais problemas a ser
enfrentado no país, atrás de saúde (45%), segurança (18%) e corrupção
(10%).
Para os entrevistados do Valor, em segundo lugar
aparecem ideias para uma melhor gestão da máquina pública, com corte de
gastos e equilíbrio das contas do governo (15%), seguidas por mudanças
na política econômica para a retomada do crescimento (12,5%).
"Precisamos também eliminar os gargalos de infraestrutura para o
desenvolvimento econômico e social", diz Evaldo Alves, professor de
economia internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que chama a
atenção para um plano de investimentos em áreas como energia, portos,
aeroportos, rodovias e ferrovias.
Os depoimentos citam ainda a realização das reformas política e
tributária, ações para conquistar a confiança da população no poder
federal e a criação de diretrizes para um crescimento sustentável. "É
importante cercar-se de gente honesta no poder para garantir o apoio dos
cidadãos", afirma o publicitário Júlio Ribeiro, chairman da Talent.
Preocupações com um ambiente de negócios mais seguro para atrair
investimentos e o aumento da competitividade das empresas também foram
mencionados. Em comum, os entrevistados parecem ter pressa em ver planos
de papel transformados em ação. "Assumiu, publicou a agenda dos
próximos seis meses", diz Horácio Lafer Piva, conselheiro da Klabin.
Falem menos e façam mais
O próximo presidente da República deve colocar para funcionar o que
já existe. Nada mais funciona na máquina pública. O desrespeito com o
cidadão é tão grande que, qualquer que seja a melhoria, será percebida,
facilmente, por qualquer um, de Norte a Sul. A vantagem de fazer isso é
que nenhuma negociação com o Congresso seria necessária, assim como
nenhuma lei ou medida provisória, pois tudo já está pronto. Trata-se de
uma questão de gestão. Coisa que, infelizmente, parece ser um
palavrão. Compromissos assumidos na campanha são ignorados no dia
seguinte da eleição. É necessário que fale menos e faça mais, pois
estamos desgovernados e pagando um alto preço por isso.
Pedro Herz, presidente do conselho de administração da Livraria Cultura
Arte e filosofia devem fazer parte do ensino
A plataforma do novo presidente deve incluir uma intensa reforma na
educação e mudança imediata na formatação do ensino escolar, com ênfase
para arte e filosofia.
Jesuíta Barbosa, ator
Focar na educação e combater a inflação
O novo governo deve dar prioridade para a educação e o combate à
inflação. O caminho passa pela valorização do professor, que deveria ser
a verdadeira celebridade, pela modernização dos currículos e
autonomia das escolas e universidades. Negligenciar a educação é um erro
estratégico. Não há como pensar em um projeto de desenvolvimento
nacional que não respeite as especificidades regionais. Já o combate à
inflação pode ser obtido com a redução do gasto público. O Estado tem
papel fundamental na indução do desenvolvimento, mas está enorme, tem
muitos ministérios, muita burocracia e pouca eficiência. A inflação nos
obriga a conviver com altas taxas de juros, atinge o estômago do
trabalhador, corrói o salário.
Roberta Sudbrack, chef de cozinha
Educar para alcançar melhores índices de crescimento
O país somente será mais produtivo com um forte investimento na
educação. Um estudo realizado pelo International Institute for
Management Development e pela Fundação Dom Cabral sobre o Índice de
Competitividade Mundial em 2014 destaca os Estados Unidos e a Suíça como
as economias mais competitivas do mundo. São nações reconhecidas pela
educação que oferecem. Segundo o relatório, ocupamos o 54 lugar em um
ranking composto de 60 países. Trata-se de um importante desafio, mas o
Brasil tem potencial e, com planejamento e uma boa aplicação dos
recursos na educação, alcançaremos melhores índices de crescimento.
Cleber Morais, presidente da Bematech
Eficiência no setor público e menos paternalismo
O novo governo deve buscar eficiência no setor público e na ação
política. Um Estado menor e mais focado, com contas em ordem,
compromissos com a estabilidade, crescimento sem volatilidades. Reforma
tributária para liberar o potencial empreendedor, mudança previdenciária
para adequar-se ao futuro, talvez política para aproximar a sociedade
do poder. Agências fortes e acordos internacionais generosos. E
competitividade, produtividade, inovação. Menos paternalismo e mais
meritocracia. Como? Há diagnósticos e centenas de propostas. Reformas
que enfrentem interesses, escolha certa de apoios no Congresso e sentido
de urgência. Assumiu, publicou a agenda dos próximos seis meses.
Horácio Lafer Piva, industrial e conselheiro da Klabin
É preciso que se estabeleça uma reforma política
O novo presidente deve propor uma reforma política. Todos os
candidatos concordam nesse ponto, mas nunca conseguem executá-lo quando
assumem o poder. Está claro que a maior motivação do voto, nessa
eleição, é a insatisfação com o sistema de democracia representativa
que, por necessidade de governabilidade, gerou tanta corrupção no centro
do poder. Como resolver? Alguns apontam para os recursos da democracia
direta, como os plebiscitos. Outra ideia é a constituinte específica. O
importante é que, por meio da manifestação desse sufrágio, os políticos
estariam atentos à necessidade de responder à população sem
corporativismo.
Geórgia Costa Araújo, produtora de cinema
Realizar ampla campanha contra desigualdade racial
Enviar um pacote de projetos estruturantes ao Congresso Nacional que
inclua as reformas política e tributária, da segurança pública e da
educação. Há ainda um outro ponto crucial: o recrudescimento do
preconceito racial no país. As políticas públicas relativas às ações
afirmativas ainda não estão totalmente estabelecidas na cultura
nacional. O próximo presidente deve ter em mente que a inclusão
socioeconômica é de suma importância para combater a violência contra
crianças e adolescentes, sobretudo negros. Deve também realizar uma
ampla campanha de reconhecimento das desigualdades impostas
historicamente à população negra do Brasil.
Emanoel Araujo, diretor-curador do Museu Afro Brasil
"Vergonha na cara, como diria minha avó"
Reforma do Código Penal e severidade aos corruptos devem ser o foco
do próximo presidente da República eleito. O crime de lesa-pátria
precisa ter punição à altura. Abolir a Lei Fleury, cumprir sentenças,
ter prisão perpétua. O Brasil não deve mais ser o país da impunidade.
Todos os candidatos a cargos públicos deveriam mostrar suas posses na
candidatura, na nomeação e ao deixar o posto. Assim, as verbas
destinadas a saúde, educação e segurança chegarão a seus destinos. O
país clama por honestidade. Vergonha na cara, diria minha avó.
Daniel Filho, produtor e diretor de cinema
Urgência nas áreas de saúde, cultura e formação
Melhorar a economia, reduzir a mão do Estado sobre as atividades
empresariais e uma maior transparência ajudariam o novo presidente da
República. Ações urgentes também são necessárias na educação, saúde e
cultura.
Charles Cosac, editor e fundador da Cosac Naify
"Prioridade é ter disposição para provocar mudanças"
Segurança-saúde-educação virou chavão quando se fala em prioridades
de governo. Esses três setores, que são ou deveriam ser regidos pelo
Estado, recebem grande demanda por melhorias. No entanto, nenhum avanço
acontecerá sem mudanças profundas na forma de administrar e legislar. A
prioridade é ter disposição para provocar mudanças. De outra forma,
continuaremos na mesma condição de tratar o problema de forma
emergencial e paliativa, sem resultados positivos duradouros.
Celso Lopes de Mello, oncologista
"Só existe país forte com uma indústria forte"
É preciso sair da falação e partir para a ação. Assumir e cumprir.
Quem se candidata está a serviço do povo que o elegeu e não deve se
esquecer disso. Hoje, qualquer país do Primeiro Mundo tem uma indústria
com condições de crescer e avançar. Tudo deve funcionar como um círculo
virtuoso: se a indústria produz, o comércio vende e os serviços
prosperam. Só existe país forte com uma indústria forte.
Sônia Hess, presidente da Dudalina
Ações para uma população mais saudável e educada
Saúde e educação. Saúde para que a população tenha chance e
disposição para encarar a vida e ter liberdade de ação. Educação para
que as pessoas ganhem a possibilidade de desenvolvimento. Um cidadão sem
acesso à educação vive em um universo limitado, perde a capacidade de
tomar decisões, de evoluir e crescer.
Fernando Piva, arquiteto
Choque de confiança na política econômica é vital
Dar um choque de confiança na política econômica deve ser a
prioridade do próximo presidente da República. Retomar o rigor fiscal,
abandonar a política de preços administrados, recolocar a inflação no
centro da meta. O choque prossegue com a despolitização das agências
reguladoras, da gestão das estatais e da formulação de uma regra
republicana de autonomia do Banco Central. A partir daí, retomar o
programa de mudança no Estado: reforma da Previdência, prestação de
serviços públicos com foco na qualidade do atendimento, em especial na
saúde. Além de avanço nas parcerias público-privadas e concessões
públicas para fomentar investimentos em infraestrutura.
Fernando Luís Schüler, curador do projeto Fronteiras do Pensamento
É hora de iniciar as reformas trabalhista e tributária
Garantir um ambiente seguro de investimentos, aumentando a
competitividade na indústria, e iniciar as reformas trabalhista e
tributária. Reduzir encargos, custos de contratação e demissão, para
tornar os salários mais compatíveis com a produtividade do empregado.
Também estimular o crédito ao empreendedor, não ao consumidor, e as
parcerias público-privadas para a solução de problemas de
infraestrutura, transporte, segurança, saúde e desenvolvimento
tecnológico. Manter o legado de distribuição de renda, garantir o Estado
laico e a participação direta do povo por meio de plebiscitos e
referendos, a começar pelo voto facultativo e a reeleição.
Letícia Provedel, sócia da Provedel Advogados
Urgência: boas escolas do ensino fundamental
Ensino fundamental. Oferecer escolas onde as crianças se alimentam
bem, praticam atividades físicas e se sentem estimuladas a estudar. Isso
é urgente, estamos muito atrasados.
Rodrigo Oliveira, chef do restaurante Mocotó
Compromisso nº 1 deve ser com a transparência
Gerar confiança e construir capital social devem ser as prioridades
do próximo presidente da República. A sociedade brasileira vem
convivendo com governantes que não têm um projeto de país. Possuem um
projeto de poder, executado a qualquer custo, o que implica uma política
de compadrio, de alianças espúrias e de corrupção para financiar esse
modus operandi. Um governante sem senso de missão não consegue gerar
aquilo que faz uma sociedade ter coesão interna e solidariedade, para
multiplicar o capital social, que só cresce quando há confiança. O
compromisso número um deverá ser com a transparência e a reforma
política, indispensável para operar essa mudança.
Evelyn Berg Ioschpe, diretora-presidente da Fundação Iochpe
Os professores têm de ser mais valorizados
O Brasil só atingirá um novo patamar quando o ensino realmente formar
suas crianças. Os professores precisam readquirir o orgulho de lecionar
e nós precisamos valorizá-los. Não falo apenas de povoar os bancos
escolares. Nós precisamos de um ensino de qualidade que realmente
desenvolva o interesse, a criatividade e o raciocínio dos nossos alunos.
E que forme leitores, talvez a principal missão da escola. Ziraldo
resume o tema numa frase: Ler é mais importante que estudar. E a
educação é a melhor forma de tornar o Brasil uma verdadeira nação.
Samuel Seibel, dono da Livraria da Vila
Economia precisa sair da estagnação e crescer
Crescimento econômico deve ser o foco do presidente da República a
ser eleito. A economia não só está parada como parece dar marcha a ré. O
Brasil tem um dos governos mais caros e ineficientes do mundo e isso
também precisa mudar. É necessária também uma mudança urgente no Código
Penal brasileiro. A certeza da impunidade está criando um país de
bandidos.
Daniela Bravin, sommelière e dona do restaurante Bravin
É necessário investimento em infraestrutura
Buscar meios para executar um plano de investimentos para
infraestrutura energia, portos, aeroportos, rodovias e ferrovias
cujas deficiências são uma ameaça ao funcionamento do setor produtivo,
além de melhorias na saúde e educação. Já estamos no limite do apagão
dessas áreas. O país necessita de ações que eliminem esses gargalos para
o crescimento econômico e social.
Evaldo Alves, professor de economia internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
Mais brasileiros em sistema educacional melhor
O próximo presidente da República do Brasil deverá incluir cada vez
mais brasileiros no sistema educacional, da pré-escola à universidade,
além de investir na melhoria da qualidade da educação. Não é uma tarefa
fácil e certamente não será concluída em quatro ou oito anos de mandato,
mas, se nunca almejarmos esse objetivo, jamais o alcançaremos.
Carlos Wizard Martins, empresário
Presidente deve cercar-se de gente honesta
O próximo presidente do Brasil deve cercar-se de gente honesta para
garantir o apoio de todas as camadas da população. Temos dificuldade em
acreditar, mas existem pessoas de alta capacidade e de sentido moral
nesse país. O que atrapalha o governo é a falta de confiança dos
cidadãos nas autoridades. O orçamento, o superávit, a conclusão de obras
e o desenvolvimento dependem do grau de confiança que as autoridades
inspiram. O resto é supérfluo.
Júlio Ribeiro, chairman da Talent
Governante precisa propor pacto pelo desenvolvimento
Conseguir um alinhamento na esfera política para que diferentes
partidos possam apoiar as reformas necessárias. Há mudanças
institucionais urgentes, como a legislação trabalhista e o sistema
tributário. É crítico atrair nos primeiros cem dias de governo
investimentos públicos e privados para a infraestrutura e promover um
pacto nacional pela qualidade da educação. O novo governante deve
convidar a sociedade brasileira e, principalmente, os jovens para fazer
um pacto pelo desenvolvimento do país.
Carlos Arruda, coordenador do núcleo de inovação da Fundação Dom Cabral
Buscar bons educadores para transformação radical
Educação. Deixar de sangrar dinheiro da corrupção e buscar grandes
educadores para fazer uma transformação radical no país. Pagar bem os
professores, começar do básico e pensar em um investimento a longo
prazo, como aconteceu na Coreia do Sul.
Lino Villaventura, estilista
Pôr o Brasil em pé de igualdade com grandes economias
Implantar uma política de Estado capaz de colocar o Brasil, a longo
prazo, em pé de igualdade para competir com as grandes economias
mundiais. Dessa forma, é imprescindível formar líderes capazes de
agregar os diversos interesses sociais em uma estratégia nacional de
desenvolvimento. O livre pensar da população é fundamental e a
institucionalização de uma educação pública universal de excelência deve
ser o primeiro grande ato do novo governo.
Silton Oliveira, funcionário público federal
"Que o país tenha cada vez menos desigualdade social"
Educação pública deve ser o norte do próximo presidente do Brasil.
Dessa forma, o filho da doméstica poderá estudar na mesma escola do
filho do presidente eleito e poderá seguir assim até a universidade. Que
o país tenha cada vez menos desigualdade social, por meio de políticas
públicas que beneficiem a população mais carente. Que ricos e pobres
possam ser igualmente bem atendidos em hospitais da rede pública. Que
trabalhe em prol da manutenção do Estado laico, preste atenção às
minorias e cuide de questões complexas, como a descriminalização das
drogas, a criminalização da homofobia, o direito à união homoafetiva.
Que trate da descriminalização do aborto como uma questão de saúde
pública. Que invista, incentive e valorize a arte.
Paulo Caldas, cineasta
Não voltar atrás em decisões já anunciadas
Entender a ação e a reação das decisões. Quando sinalizam que o PIB
vai subir muito e ele não cresce conforme anunciado, paramos de
acreditar no mensageiro. Se as regras mudam no meio do caminho, mesmo
por um bom motivo, empresas e pessoas que se planejaram para investir
não vão mais acreditar se ouvirem que as novas regras não sofrerão
mudanças. Com isso, deixam de investir e o país entra em estagnação.
Felipe Wasserman, empresário, CEO da PetiteBox
Tem de haver uma revolução na educação
Educação. Ter a coragem de promover uma verdadeira revolução no
setor, resgatando o ser humano, os professores. Muito se fala nos
orçamentos vinculados, mas, infelizmente, esse recurso é usado para a
compra de computadores que ficam abandonados por falta de profissionais
capacitados, aquisição de livros que permanecem empilhados, uniformes,
lanchinhos e transporte importantes, mas acessórios. Será difícil para
qualquer político promover essa revolução, mas, se não a fizer,
estaremos fadados a ser o país de um futuro que nunca chega.
Antonio Carlos de Moraes Sartini, diretor do Museu da Língua Portuguesa
Reformas urgentes para um alto nível de emprego
Duas reformas são urgentes para mantermos um alto nível de emprego no
curto e médio prazo, acompanhado do aumento de produtividade no longo
prazo. A primeira é a reforma da CLT, lei feita há mais de 70 anos que
precisa ser atualizada para dar mais liberdade à relação entre
empregador e empregado, gerando mais vagas. A segunda mudança importante
é levar as práticas de gestão das empresas privadas, como meritocracia e
acompanhamento de metas, para a gestão pública, proporcionando espaço
para a queda de impostos e liberando mais dinheiro para o consumo e
investimentos.
Joseph Teperman, headhunter
O equilíbrio das contas públicas como prioridade
Resgatar o equilíbrio das contas públicas deve ser a prioridade.
Depois, retomar de forma forte, organizada e com metas agressivas, o
investimento em educação. Isso afeta diretamente o mercado, que sofre
com a escassez de mão de obra qualificada. O país precisa de um Estado
consciente, com credibilidade interna e externa, ciente de suas
obrigações e que investe no futuro da nossa gente.
Maurício Cascão, CEO da Mandic
Sustentabilidade é o centro nevrálgico das decisões
Dar prioridade a educação para o desenvolvimento sustentável como um
vetor da formação e atuação de gestores, nos setores público e privado. A
atual falta de água é um dos efeitos tangíveis de pontos de vista
acomodados. Esperamos que as respostas caiam do céu e não investimos em
ações comprometidas com um legado positivo para as próximas gerações. Em
um mundo globalizado, torcer para que chova é, no mínimo, uma forma
obtusa de lidar com os problemas reais do país. É blefar com o futuro. A
sustentabilidade é o centro nevrálgico das tomadas de decisões globais e
aponta para a importância de combinar esforços entre o poder público,
empresas e sociedade civil.
Ana Paula Arbache, professora da Fundação Getúlio Vargas, Business School São Paulo e HSM
Reconstruir a credibilidade nos mercados é essencial
A reconstrução da credibilidade junto aos mercados deve ser o
objetivo principal do próximo presidente. Para isso, será necessário
retomar o controle rigoroso da inflação, mirando no centro da meta, e
não no teto, e o controle fiscal. Esses dois pés do tripé
macroeconômico são fundamentais para a volta da confiança dos
investidores, o que abrirá caminho para a retomada do crescimento, da
modernização da infraestrutura e do aumento da produtividade.
Ricardo Balistiero, economista e coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia
Primazia para o crescimento sustentável
Dar prioridade ao crescimento sustentável e assumir que cumprirá
compromissos devem ser o foco do presidente a ser eleito. Qualquer
investidor precisa ter essa tranquilidade. A segunda urgência é a
reforma fiscal. Isso inclui a contínua desoneração da folha de
pagamentos e a verdadeira simplificação para pequenas e médias empresas.
Uma anistia fiscal traria recursos dos grandes para a economia formal,
conduzindo mais companhias à formalidade.
John Schulz, sócio-fundador da BBS Business School
Estimular competitividade e empreendedorismo
Potencializar a competitividade do país. Fazer uma reforma
tributária, reforçar a confiabilidade das bases macroeconômicas e, de
uma maneira mais ampla, melhorar o ambiente de negócios para favorecer
todo tipo de empreendedorismo, desde a micro até a grande empresa. A
diversidade natural e cultural brasileira oferece uma grande
oportunidade para fomentar a criatividade e a inovação, agregando valor
aos produtos e serviços, com alternativas para um crescimento mais
sustentável da economia.
Leo Mangiavacchi, designer e sócio-fundador do Fantastico Studio di Design
Novo governo deve investir mais no turismo e apoiá-lo
O próximo presidente deve fazer investimento no turismo. Um segmento
que representa 3,5% do PIB mundial precisa ser mais explorado. O apoio
do governo é imprescindível, pois o setor depende diretamente da
sinalização com múltiplos idiomas, segurança e infraestrutura. Se o
turista viaja com frequência e consome mais, ele gera riquezas, empregos
e crescimento econômico.
Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa)
O rigor fiscal nas contas públicas precisa voltar
Volta do rigor fiscal nas contas públicas, com a revisão da
interferência do Banco Central, e de ações para o desaparelhamento de
toda a estrutura do governo, incluindo estatais e fundos de pensão.
Trazer para a pauta do dia a reforma fiscal, com a simplificação das
regras e do aparato de arrecadação federal, estadual e municipal.
Atenção na educação e na política interna e externa.
André Pimentel, sócio da consultoria Performa Partners
Prioridade maior: tornar o ambiente econômico saudável
Melhorar as condições de vida da população com mais escola, saúde,
transporte de qualidade. Porém, isso só se materializa com recursos que,
em âmbito público, advêm do recolhimento de tributos, atrelados à boa
saúde da economia. A prioridade das prioridades é tornar saudável o
ambiente econômico, que já apresenta uma rápida, contínua e seguida
deterioração. A normalidade econômica e a retomada do crescimento devem
ser alcançadas pela livre flutuação do câmbio, com o fim das
intervenções do Banco Central no mercado, na redução do gasto público e
num ajuste controlado dos preços.
Artur Lopes, consultor e autor do livro Quem Matar na Hora da Crise?
Medidas devem vir com posição austera da equipe
Restabelecer a confiança no país. Consumidores, empresários e
investidores estão procrastinando decisões por se sentir inseguros em
relação a 2015. O presidente eleito precisa saber que qualquer medida
deve estar acompanhada de uma posição austera da nova equipe, para uma
política de contenção de gastos públicos. Outro ponto importante é a
mobilidade nos grandes centros urbanos. Polos de desenvolvimento não
podem ficar parados no trânsito.
Alexandre Lafer Frankel, sócio e presidente da Vitacon Incorporadora e Construtora
"O Brasil precisa de um mutirão nacional de educação"
Criar um plano estratégico plurianual de melhoria continua em todos
os níveis da educação. Além de garantir a alocação de um percentual
adequado do PIB, os investimentos nessa área devem ser feitos de acordo
com o plano federal e associados a métricas predefinidas, com gestores
estaduais e municipais. A valorização do professor também é essencial. O
Brasil precisa de um mutirão nacional de educação, com a
conscientização de que o setor é prioridade e responsabilidade de todos.
Um país com um bom nível de escolaridade progride e diminui as
principais mazelas que enfrentamos hoje, como saúde precária, falta de
segurança e altos níveis de corrupção.
Nelson Campelo, presidente da Avaya Brasil
É necessário restabelecer o equilíbrio da economia
Restabelecer o equilíbrio do tripé da economia, com regime de câmbio
flutuante, sistema de metas da inflação e política fiscal, além de dar
autonomia ao Banco Central. Os desafios estarão nas demandas das
reformas política, fiscal, previdenciária e trabalhista, que deverão ser
realizadas para um crescimento do PIB desejado. Isso inclui equalização
dos tributos e melhoria significativa da infraestrutura nacional para o
país incrementar sua competitividade. E maior atuação nas áreas da
saúde e educação.
Acácio Queiroz, chairman da Chubb Seguros
Incentivo ao crescimento das empresas menores
Fomentar o desenvolvimento das micro e pequenas companhias, que
respondem por 27% do PIB e por 52% dos empregos com carteira assinada,
segundo o Sebrae. Embora avanços tenham acontecido nos últimos anos,
ainda estamos longe de ter um ambiente favorável e de estímulo neste
segmento, como acontece em economias mais desenvolvidas, como a alemã e a
americana. Redução da burocracia para a abertura de novos negócios e da
carga tributária, além da flexibilização das leis trabalhistas são
essenciais para alavancar o crescimento das empresas.
Vinícius Roveda, CEO da startup ContaAzul
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Reportagem Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico online, 03/10/2014
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