O grito | Edvard Munch
Diante do sofrimento intenso na dor e prolongado no tempo, que
atinge igualmente quem tem e quem não tem fé, é preciso continuar a
confiar, como Job, figura bíblica do Antigo Testamento, e como o próprio
Jesus, dizendo a Deus as palavras que brotam do coração, mesmo que
sejam duras e de revolta, afirmou hoje o papa.
Excertos da homilia da missa a que Francisco presidiu no Vaticano,
segundo a Rádio Vaticano, onde se deteve na incompreensão humana face à
dor e aos males que atingem também as pessoas que pensam que não os
merecem sofrer:
«Muitas vezes ouvi pessoas que estão a viver situações difíceis,
dolorosas, que perderam muito ou se sentem sós e abandonadas, e que se
lamentam e fazem esta pergunta: porquê? Porquê? Rebelam-se contra Deus. E
eu digo: “Continua a rezar assim, porque também essa é uma oração”. Era
uma oração quando Jesus disse ao seu Pai: “Porque me abandonaste?”»
«Reza-se com a realidade, a verdadeira oração vem do coração, do
momento que cada um vive (...) É a oração nos momentos de escuridão, nos
momentos da vida onde não há esperança, não se vê o horizonte.»
«Muita gente, muita gente hoje está na situação de Job. Tanta gente
boa, com Job, não percebe o que lhe aconteceu, porque é assim. Muitos
irmãos e irmãs que não têm esperança. Pensemos nas tragédias, nas
grandes tragédias; por exemplo, esses nossos irmãos que, por serem
cristãos, são expulsos da sua casa e ficam sem nada: “Mas, Senhor, eu
acreditei em ti. Porquê? Crer em ti é uma maldição, Senhor?”»
«Pensemos nos idosos deixados de lado, pensemos nos doentes, em tanta
gente só, nos hospitais.» (...) [Por estas pessoas, e «também por nós,
quando andamos pelo caminho da escuridão, a Igreja reza. A Igreja reza.»
«[E nós,] sem doenças, sem fome, sem necessidades fundamentais,
quando temos alguma escuridão na alma acreditamos que somos mártires e
deixamos de rezar.» (...) [E há quem diga]: «Zanguei-me com Deus, não
vou mais à Missa.»
«A nossa vida é demasiado fácil, os nossos lamentos são lamentos
teatrais. Diante destes, destes lamentos de tanta gente, de tantos
irmãos e irmãs que estão na escuridão, que quase perderam a memória, a
esperança, que vivem naquele exílio de si próprios, que estão exilados,
mesmo de si próprios – nada! E Jesus fez esta estrada: da noite no monte
das Oliveiras à última palavra da cruz: “Pai, porque me abandonaste?”»
A terminar a homilia, Francisco sugeriu duas atitudes: «Primeiro,
preparar-se para quando chegar a escuridão», «preparar o coração para
esse momento».
E, depois, «rezar, como reza a Igreja, com a Igreja por tantos irmãos
e irmãs que padecem o exílio de si próprios, na escuridão e no
sofrimento, sem esperança».
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Rádio Vaticano
Edição: SNPC/rjm
Edição: SNPC/rjm
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