Por Claudio Garcia
Grace Lordan, da LSE, indica insights da área de ciências comportamentais para serem aplicados na carreira — Foto: Divulgação
Grace Lordan, autora do livro “Think Big” e professora na London School of Economics and Political Science, diz como a ciência comportamental pode explicar a falta de evolução profissional
Atingir metas profissionais pode ser exaustivo, e não raro algumas pessoas travam no meio do caminho para serem bem-sucedidas, sem saber o que fazer a seguir. Foi esse tipo de situação observada por Grace Lordan, professora de ciência comportamental e diretora da iniciativa inclusiva na London School of Economics and Social Sciences. Ao dar aulas ou aconselhar empresas sobre como aplicar as ciências comportamentais à gestão, ela notou que as pessoas sempre ficavam curiosas sobre como usar esses conceitos em suas carreiras.
Em “Think Big”, seu novo livro, Grace nos ajuda a entender como transformar planos em ações, com o respaldo de pesquisas científicas experimentadas e testadas, inclusive por ela mesma. Dentre muitas dicas práticas que podem ser encontradas no livro, ela compartilha algumas das principais razões que fazem as pessoas encalharem na tentativa de prosperar e por que, mesmo com as desigualdades de privilégios, elas ainda têm opções para superá-las:
· Preferências inconsistentes com o tempo: “O motivo de já esquecermos promessas de Ano Novo na metade de janeiro são as preferências inconsistentes com o tempo — um termo usado pela ciência comportamental que justifica o fato de grande parte das pessoas normalmente não realizarem seus objetivos de longo prazo por não terem autocontrole.
“Nós valorizamos ser felizes hoje, sacrificando nossa felicidade no futuro. A maioria de nós tem uma predileção clara por usufruir hoje quando sabe que não trará recompensas no futuro”
Simplificando, na maioria das vezes é improvável que optemos por ficar três horas escrevendo um romance ou aprendendo mandarim quando poderíamos passar esse tempo no bar com os amigos ou assistindo à televisão.”
· Falácias de planejamento: “É a tendência de consistentemente subestimar o tempo para realizar uma atividade, mesmo quando as pessoas estão cientes de que, no passado, precisaram de mais tempo para realizar tarefas similares. Erramos ao dimensionar o tempo, não o custo. Ao planejarmos algo, pressupomos o melhor dos cenários, mesmo quando nosso histórico nos demonstra diferente.”
· Foco na resistência: “Além de termos a ambição de dar um passo à frente, é realmente necessário focar na nossa resiliência e controlar a aversão às perdas. Precisamos nos livrar da tendência de prestar mais atenção àquilo que não estamos fazendo bem e negligenciar o que conquistamos. Isso afeta negativamente a sua sensação de utilidade no momento, assim como leva a um efeito indireto que o torna muito mais suscetível a escrever uma narrativa de vida em que as coisas não vão bem para você. Pessoas são muito mais propensas a obter êxito quando controlam sua aversão às perdas e ideias que surgem quando pensam em fracassar.”
“Precisamos nos livrar da tendência de prestar mais atenção àquilo que não estamos fazendo bem e negligenciar o que conquistamos”
· Privilégio: Não há como ignorar a parcela de responsabilidade do privilégio em interromper o sucesso de muitas pessoas. Em 2018, um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) descobriu que uma família brasileira pode levar nove gerações para ascender a uma classe social distinta. “Eu converso com tantas pessoas que dizem que precisamos contratar os mais habilidosos, mas no fim dão a vaga a algum familiar ou alguém do círculo de amizades. Fundamentalmente, é isso que nos impede de entrar em um lugar onde as pessoas são recompensadas pelo seu talento. A pauta da inclusão está chamando atenção para isso. Uma pessoa de um contexto socioeconômico mais baixo tem menos controle sobre o início de sua carreira, por isso é importante focar e tirar vantagem do que pode ser controlado".
"Além disso, há ocasiões em que você pode colocar a sorte a seu favor e as ciências sociais dão várias dicas nesse sentido. Por exemplo, quando estou levantando recursos para minha startup, posso considerar que a questão não esteja apenas no produto ou em minhas habilidades e talento. Talvez o que realmente importe é a narrativa. Ou, se tenho uma entrevista, talvez o horário e o simples fato de eu ir de manhã aumente minhas chances de conseguir o trabalho. Permita-se manipular o processo de maneiras que possa recuperar alguns dos privilégios que você não teve necessariamente acesso ao nascer".
Fonte: https://valor.globo.com/carreira/coluna/como-a-ciencia-ajuda-suas-chances-de-sucesso.ghtml
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