quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Como fazer para que seu discurso seja aceito

Minha imagem:
 Dilma, Lula e empresários esquecem
 que a roupa é uma forma
de comunicação não verbal.
Lula Marques/Folhapress
 Marcela Temer errou na blusa e no cabelo,
Dilma acertou no modelo e
 deslizou na cor,
e Lula nem sempre acerta no terno

Com a abolição do traje black-tie e a entrada do visual passeio na posse da presidente Dilma Rousseff, o evento mais solene do país foi passarela para um desfile dos mais diversificados. Era preciso exercitar o que parece ser uma raridade entre os governantes: pensar no visual. Havia de tudo, quem apostasse no brilho da balada, nos tecidos de algodão dos momentos de lazer e até em um pouco mais de pele à mostra. Diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, os políticos brasileiros não têm o hábito de recorrer ao auxílio de consultores de imagem e encarar diante do espelho os artifícios que a moda pode oferecer a seu favor.
Mas a postura dos políticos com relação à própria imagem é um reflexo de como a sociedade está acostumada a fechar os olhos para as formas de comunicação não verbais - roupas, acessórios, cabelo e maquiagem. Pode ser difícil encarar o fato de que a maneira como alguém se veste seja determinante para uma promoção ou para ser respeitada no ambiente de trabalho. Os consultores de estilo podem dar uns "puxões de orelhas", mas trazem o olhar apurado (e profissional) de quem enxerga de fora o que o visual diz sobre alguém.

Ana Paula Paiva/Valor
Silvana Bianchini luta pela profissionalização
dos consultores de imagem:
confusão com "serviço para celebridades"

Silvana Bianchini, da consultoria de imagem Dress Code, é presidente no Brasil da Association of Image Consultants International (AICI), uma entidade que recentemente se instalou no país e que tem como objetivo desmistificar a profissão, que é normalmente tachada de serviço para celebridades. Ela atende clientes famosos ou não, dá consultoria e workshops para empresas como Cirella, Pão de Açúcar e Itaú Unibanco. Na entrevista a seguir, Silvana comenta os acertos e erros de políticos e executivos e também como melhorar a autoimagem.

Valor: Os políticos usam bem sua imagem?
Silvana Bianchini: Nos Estados Unidos eles fazem isso muito bem. Lá é muito comum contratarem consultores para aprimorar o visual. Isso gera planejamento e coerência para quem vê. Os brasileiros não costumam usar esse serviço por falta de informação. Os homens, que predominam no ambiente político, de maneira geral raramente se preocupam com a própria imagem. Começaram, muito devagar, a se olhar no espelho há oito anos.

Valor: O ex-presidente Lula se saiu bem nesse quesito?
Silvana: Não muito. A imagem dele foi trabalhada só por um publicitário [João Santana, atual marqueteiro da presidente Dilma Rousseff] e não houve planejamento. As cores e as formas dos ternos e até dos trajes mais casuais poderiam ter sido pensados de maneira diferente.

Valor: O que achou do visual de Dilma na posse?
Silvana: Estava muito bom, mas poderia ter sido melhor. A cor, um pérola muito aberto, era clara demais, chegava antes dela aos nossos olhos. Sem contar que, ao lado daquele monte de homens de terno escuro e gravata, ela se sobressaía demais. Se era essa a intenção, acertaram. Mas não acho positivo. Teria caído melhor um tom menos claro. Como ela tem um andar masculinizado, foi acertada a escolha por saltos baixos. A forma e o corte da roupa eram muito apropriados para a ocasião. Era um traje formal, sem brilho.

Valor: O que o visual de Dilma na posse diz sobre o estilo da presidente?
Silvana: Dilma também não tem uma pessoa que olhe para o todo de sua imagem. Só o Celso Kamura, que pensa no cabelo e na maquiagem que ela usa. Na posse, por exemplo, o objetivo de quem a ajudou a se vestir deve ter sido amenizar a sisudez que ela imprime. Mas essa é uma característica que precisa ser amenizada no visual dela - afinal, não é bom para o que uma presidente quer comunicar. Conseguiram, ela acabou ficando mais feminina. Mas houve muitas tentativas e erros até chegar nesse resultado. Já vimos a presidente usando, por exemplo, babados, o que não tem absolutamente nada a ver com a personalidade dela.

Valor: Então, como deve se vestir uma presidente da República?
Silvana: Em poucas palavras, é preciso pensar que quando se quer agradar muita gente, como é o caso do visual de uma presidente, é preciso usar elementos simples e que a maioria entenda. Cores e formas básicas.

Valor: Apesar dos olhares voltados à nova presidente, a polêmica ficou por conta do visual da esposa do vice-presidente, Michel Temer, Marcela.
Silvana: E não foi à toa. Ela usou uma blusa e um penteado inadequados. Aquela trança lateral caberia mais a um casamento, não a um evento solene. O ombro de fora também não corresponde à situação. Ali, o objetivo dela deveria ter sido passar despercebida. Afinal, como ela é jovem, loira e tem os cabelos longos, obviamente chamaria a atenção de qualquer jeito. Por isso, deveria ter trabalhado mais a elegância do que a beleza. Todas as cores e formas do visual deveriam ser neutros e sóbrios.

Valor: Por que os homens têm dificuldade de lidar com a própria imagem?
Silvana: No ambiente profissional, eles têm o hábito de achar que estão sempre ótimos quando vestem qualquer terno e gravata. Existe uma coisa que se chama coloração pessoal, ou seja, cada pessoa fica bem com determinadas cores (claras ou escuras, quentes ou frias, opaca ou viva, etc.). Isso pode ser determinante para a boa escolha de um terno, assim como os comprimentos e ajustes corretos.

Valor: Qual o impacto de usar as roupas certas no ambiente de trabalho?
Silvana: As pessoas são mais aceitas quando estão bem arrumadas e todo mundo, desde a infância, quer ser abrigado em algum grupo. No mundo adulto, isso faz mais sentido ainda quando se pleiteia um determinado cargo. A roupa ajuda a pessoa a ser reconhecida nesse novo grupo.

Valor: Em que momento os homens procuram por serviços de consultoria de imagem?
Silvana: Normalmente, depois de um rompimento amoroso ou em um momento de "dress down" [ou "casual friday", por exemplo]. Muitos que estão acostumados ao terno e à gravata se perdem quando precisam se vestir casualmente. Também é comum que o serviço chame a atenção de quem procura um emprego ou uma promoção. São pessoas que têm muita bagagem técnica, conteúdo, mas ainda não têm a imagem necessária para assumir um novo cargo. Assim como é necessário aprender a falar uma nova língua, por exemplo, é preciso ter noção de como se vestir adequadamente.

Valor: Qual a regra básica para não errar no "casual friday"?
Silvana: Na hora de escolher o que é a roupa casual é preciso pensar que não se pode perder a cara de quem está indo trabalhar. Brilho remete à festa. Alças, decotes e estampas muito coloridas também não têm cara de trabalho.

Valor: A senhora costuma dar palestras e treinamentos em empresas. Quais as principais reclamações sobre a imagem dos funcionários?
Silvana: São o comportamento (dificuldades de respeitar o espaço físico e sonoro, saber trocar cartões...) e a vestimenta casual. Homens erram quando optam por jeans rasgados, tênis e camisetas. Mulheres, quando confundem o visual de trabalho com o da balada. Deixam pele à mostra, usam unhas muito coloridas ou cabelo solto e armado, esvoaçante. Isso acontece, de novo, por total falta de informação. Há dez anos, as regras de vestimenta eram aprendidas nas escolas, que tinham normas rígidas sobre isso. Hoje, muitas crianças se vestem como querem para ir à aula.

Valor: E quais os resultados de quem passa por essa aula de estilo?
Silvana: As pessoas ficam mais conscientes da própria imagem para alavancar seus objetivos. Elas se dão conta de que, no ambiente de trabalho, os funcionários são a mídia humana da empresa que representam.

Valor: Como funciona o braço da Association of Image Consultants International (AICI) no Brasil?
Silvana: Fundamos a AICI aqui no país em agosto de 2010. Hoje, já contamos com 75 membros, todos profissionais da área de consultoria de imagem, que pagam um valor mensal e têm encontros e palestras. Nossa maior luta é para conscientizar as pessoas sobre o que é a profissão de consultor de imagem. É comum sermos confundidos com "consultores de celebridades". Mas atendemos qualquer pessoa, famosa ou anônima, que precise de autoconhecimento para se comunicar com o mundo de forma não verbal. E essa comunicação é muito importante, pois impacta cinco vezes mais que a verbal.
Valor: Então, a primeira impressão é realmente a que fica?
Silvana: Sim, claro! Isso porque esse primeiro olhar é o julgamento de quem está olhando. E o ser humano tende a acreditar muito em seu próprio julgamento. Se você for capaz de causar uma boa impressão visual no trabalho ou em um relacionamento amoroso, o seu interlocutor ficará muito mais favorável a aceitar o seu discurso, seja ele qual for.
______________________
Reportagem Por Rebeca de Moraes, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico online, 06/01/2011

Um comentário:

  1. Achei realmente elegante o look de nossa primeira vice, talvez realmente não apropriado pois ela desejava manter seu estilo, porem só acharia mais acertado o comentário, se escrevessem corretamente buscando quem fez o vestido tomara que caia rosa antigo estruturado em tecido tecnológico, com moulage de crepe de seda na cor café assinado pelo estilista ANDRË LAMA de São Paulo, que é responsavel pelo estilo da assessoria Marshal

    ResponderExcluir