quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Otimismo

KENNETH MAXWELL*




De acordo com recente pesquisa de opinião entre líderes empresariais, a América Latina é hoje a mais otimista das regiões mundiais.
A Grant Thornton entrevistou 5.700 donos de médias e grandes empresas do mundo e concluiu que a América Latina ocupa a primeira posição na escala do otimismo/pessimismo. O Chile lidera a lista, com 95% de seus líderes empresariais expressando otimismo quanto às perspectivas econômicas para 2011. O Brasil ficou em quinto lugar, com 79%.
O levantamento foi realizado nos dois últimos meses do ano passado e representa boa notícia para o governo de Dilma Rousseff.
O contraste é notável se considerarmos a confiança empresarial na América do Norte e na Europa. Na América do Norte, só 26% dos líderes empresariais expressaram confiança; na Europa, 22%.
Os países europeus individualmente também demonstram níveis notáveis de pessimismo. No Reino Unido, o otimismo era de apenas 8%. Nos casos da Grécia, da Irlanda e da Espanha, eles estão em menos de 44%, menos de 45% e menos de 50%, respectivamente, na escala de otimismo/pessimismo.
É interessante que os países do grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) ocupem posições tão diferentes. A Índia, por exemplo, ocupa o segundo posto no ranking mundial, com 93% de seus líderes empresariais expressando otimismo, um resultado mais alto que o do Brasil.
Mas o otimismo é de 35% na Rússia e de 42% na China, o que coloca os dois países em posição apenas intermediária entre os pesquisados. O nível norte-americano é inferior ao de ambos -23%.
Mas esses números também destacam os desafios reais que o Brasil precisa enfrentar.
Não devemos esquecer que o Brasil já passou por oscilações de excessivo pessimismo a excessiva euforia no passado e que o país historicamente vive sob um padrão de expansão e contração. A riqueza prometida do petróleo do pré-sal está longe de ser o primeiro "boom" na história brasileira.
No final do século 16 e início do 17, o açúcar brasileiro dominava os mercados mundiais. No século 18, o ouro e os diamantes brasileiros exerceram papel semelhante. No século 19 e começo do 20, esse papel coube à borracha. Depois foi a vez de o café do Brasil dominar os mercados.
Desta vez, a economia brasileira certamente está mais balanceada, a classe média é maior e as políticas sociais do Estado brasileiro são mais inclusivas do que em qualquer momento do passado. Mas não devemos concluir que esses ganhos serão inevitavelmente sustentados.
Muito mais trabalho, muito mais dedicação e muito mais reformas serão necessários caso a nova década deva de fato pertencer à América Latina.
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* Kenneth R. Maxwell (nascido em 1941) é um historiador britânico. É especialista em História Ibérica e no estudo das relações entre Brasil e Portugal no século XVIII, sendo um dos mais importantes brasilianistas da atualidade. 
Fonte: Folha online, 06/01/2011
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