quarta-feira, 13 de julho de 2011

Gardner - Entrevista

Imagem da Internet
Em 1983, o psicólogo Howard Gardner propôs uma nova visão sobre a inteligência humana. Para ele, o homem não tem uma, mas oito inteligências, que podem ser mais ou menos desenvolvidas ou combinadas de maneira única em cada pessoa. O conceito ganhou o mundo e passou a ser adotado não só na área de psicologia, mas também na gestão e na educação. Estados Unidos, Dinamarca e China, onde o conceito é conhecido por muitos educadores e pais, criaram escolas baseadas nas ideias de Gardner.
Entusiasta da neurociência, da genética e da biologia, Gardner está sempre acompanhando a literatura dessas áreas em busca de evidências sobre a viabilidade e a independência das várias inteligências. Nesta entrevista, o autor da teoria das inteligências múltiplas atualiza seus conceitos e discute a maneira como empresas podem potencializar seus talentos a partir da compreensão de que cada indivíduo é único e pode desenvolver e combinar suas inteligências para o próprio desenvolvimento e o das organizações.

Sua teoria das inteligências múltiplas, TIM no mundo das siglas, define oito inteligências humanas. Em sua visão, qual delas (ou que combinação delas) está mais em falta no mundo atual?
Depende da cultura em análise. A inteligência interpessoal, por exemplo, é muito desenvolvida no Japão, e a inteligência musical é especialmente valorizada na Finlândia, Hungria e África Ocidental –mas menos nos Estados Unidos. Em geral, em todas as culturas alguns indivíduos têm a inteligência intrapessoal (compreensão do self) bem desenvolvida, mas nos Estados Unidos não sabemos muito bem como fazê-lo.
Há 200 anos, isso não importava –as pessoas basicamente faziam o que seus antepassados tinham feito e se casavam com indivíduos a quem eram “designadas”. Mas hoje, quando a maioria das pessoas tem de tomar as próprias decisões sobre problemas importantes, a falta de inteligência intrapessoal pode ser uma limitação séria.

O sr. se refere à inteligência como “um potencial biopsicológico”. O que significa esse termo?
As pessoas com frequência usam os termos “mente” e “cérebro” como sinônimos, mas não são. O cérebro é um órgão dentro do crânio, enquanto a mente é um construto hipotético que inclui conhecimento cultural, interação com outras pessoas, regras sociais etc.
Ao usar o termo “biopsicológico” para descrever a inteligência, eu me posiciono entre biologia e psicologia, esclarecendo que mente e cérebro são entidades separadas. Em relação ao potencial, nenhuma forma de inteligência se expressa automaticamente; precisa ser estimulada, guiada, cultivada ou canalizada pela cultura a seu redor.

O sr. destacou a independência das várias inteligências. Por que isso é importante?
Na verdade, falo de autonomia relativa entre as inteligências, o que significa que, na média, se uma pessoa é forte (ou fraca) em uma inteligência, não conseguimos predizer com certeza como vai se sair em relação às demais.
Outra parte importante de minha teoria é que, em casos de danos cerebrais, uma inteligência particular pode ser comprometida ou poupada, independentemente do que aconteça às demais. Dito isso, também acredito que as inteligências podem muito bem conduzir a alguns dos mesmos recursos –como a atenção. Portanto, nesse sentido, elas não são completamente independentes.
Gosto de pensar nas várias inteligências como músculos separados,e fica por nossa conta saber como desenvolvê-las e usá-las.

Qual é a diferença entre inteligências e domínios?
Essa é uma distinção importante da qual eu não tinha consciência quando comecei a introduzir minha teoria. Conforme disse, cada tipo de inteligência é um potencial biopsicológico; para utilizar uma analogia com a qual nós estamos familiarizados, é como se tivéssemos oito “computadores” separados em nosso cérebro, que interagem entre si. Um domínio, por sua vez, é um corpo organizado de conhecimento e expertise na sociedade. Há inteligências e domínios com nomes parecidos, mas não se pode concluir, por isso, que apenas aquela inteligência particular está envolvida em atividades daquele domínio. Por exemplo, a apresentação musical certamente envolve a inteligência musical, mas quase com a mesma certeza envolve outras, como as inteligências corporal-cinestésica e a interpessoal.

Como a teoria das inteligências múltiplas ajuda as organizações a usar o capital humano com mais eficiência?
Usando a mim mesmo como exemplo, em certa época costumava contratar pesquisadores que espelhassem meu espectro de inteligências. Por fim, concluí que essa era a estratégia errada: um de mim é suficiente! Hoje me concentro em descobrir pessoas que tenham capacidades complementares e que consigam trabalhar em equipe.
A teoria das inteligências múltiplas também é relevante para as migrações na organização. Só porquealguém é bom em suas tarefas atuais, não significa que será um bom gestor. Diferentes papéis exigem conjuntos completamente diferentes de habilidades.

Algo que todo mundo sabe,mas todo mundo ignora...
Todo mundo sabe disso, é claro,mas... Enfim, essa teoria oferece uma maneira conveniente de pensar em que “movimentos” fazem sentido e quais podem ser arriscados em uma organização.

"...se uma pessoa é forte em uma inteligência,
não conseguimos predizer como vai
se sair em relação às demais”

O sr. advoga que se preste atenção às maneiras diversas com que as pessoas abordam as tarefas, a fim de aumentar o próprio repertório de habilidades. O que quer dizer?
Indivíduos diferentes vão abordar a mesma tarefa usando conjuntos diferentes de inteligências –o que é muito bom, desde que as tarefas sejam desempenhadas adequadamente. Conforme trabalhamos lado a lado com nossos pares, às vezes podemos aprender maneiras mais eficientes de realizar uma tarefa particular –seja usando conjuntos de inteligências ou empregando as inteligências de maneiras inusitadas.
Os colaboradores –ou seus supervisores– podem e devem chamar a atenção para esses “jeitos diferentes de cada um” como meios de determinar forças individuais e também como formas de ampliar os repertórios de habilidades.
(...)

O que somos?
Cada um de nós é um perfil único de pontos fortes e fracos. Vale a pena conhecer tais pontos, tirar vantagem deles e, quando for apropriado, reforçá-los ou combiná-los de novas formas.
Quem cria um ambiente de trabalho sob essas luzes tem mais probabilidade de gerar uma organização na qual os pontos fortes complementares dos indivíduos funcionem juntos com sinergia.

Ao longo dos anos, o sr. considerou a existência de inteligências adicionais a essas oito. Alguma delas chegou perto de integrar a lista oficial?
Tenho me interessado, por exemplo, pela possibilidade de uma inteligência pedagógica. Somos uma espécie única que ensina uns aos outros, e a inclinação e a habilidade para isso começam em uma idade incrivelmente precoce –com 2 ou 3 anos. Alguns são realmente pessoas altamente capacitadas para ser ensinadas– certas vezes não.
Também estou interessado na possibilidade de uma inteligência existencial –alguém que propõe grandes questões, como “Qual o sentido da vida?”, “Por que morremos?” e “O que é o amor?”. Se encontrar evidências convincentes da representação neural delas, vou acrescentá-las a minha lista.
Estou principalmente interessado em promover a ideia de que todos possuímos diversas inteligências, e que variam aquelas em que somos bons e varia a maneira como as combinamos. Isso é muito mais importante do que promover uma honorável lista de inteligências que seja inviolável e eterna.

As oito HABILIDADES segundo GARDNER:
1) com self
2) com as palavras
3) com as pessoas
4) com a lógica
5) com a música
6) com a natureza
7) com o corpo
8) com a imagem
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E O APRENDIZADO

A influência da teoria das inteligências múltiplas sobre a educação são, segundo Howard Gardner, primordialmente duas:
1. Os educadores que a adotam precisam levar muito a sério as diferenças entre os indivíduos e, na medida do possível, moldar a educação de modo que cada indivíduo possa ser atingido da melhor maneira. Ele reforça que o advento dos microcomputadores torna essa “individuação” mais fácil do que nunca, porque o que era possível apenas para os ricos –tutoria pessoal– logo estará disponível para milhões de alunos em todo o mundo.

2. Qualquer disciplina, capacidade ou conceito significativo deve ser ensinado de mais de uma maneira, para ativar inteligências diferentes ou combinações de inteligências em cada aluno. Tal abordagem rende, por sua vez, dois dividendos enormes:
• garante que o professor (ou o material) atingirá mais estudantes;
• aponta aos estudantes o que significa ter uma compreensão profunda e abrangente de um tópico.
“A verdade é que apenas indivíduos que conseguem pensar sobre um tópico de mais de uma maneira têm uma compreensão completa dele”, diz Gardner. Isso se aplica também ao aprendizado dentro das empresas e à educação corporativa de maneira geral.
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Reportagem por : A entrevista é de Karen Christensen, colaboradora da Rotman Magazine.
Fonte: http://www.hsm.com.br/sites/default/files/42-46%20Gardner.pdf - O texto integral só disponível para assinantes.
Revista HSM impressa-  julho/agosto 2011

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