sexta-feira, 1 de julho de 2011

Insensato

Lya Luft


INSENSATO eu estar aqui, e viva.
O rosto dele me contempla
vincado e triste no retrato sobre minha mesa;
em outros, sorri para mim, apaixonado e feliz.

INSENSATO, isso de sobreviver:
mas cá estou, na aparência inteira.

Vou à janela esperando que ele apareça
e me acene com aquele seu gesto largo e generoso,
que ao acordar esteja a meu lado
e que ao telefone seja sempre a sua voz.

Sei e não sei que tudo isso é impossível,
que a morte é um abismo sem pontes
(ao menos por algum tempo).

Sobrevivo, mas pela INSENSATEZ.

Fonte: LUFT, Lya. O lado fatal. Ed. Rocco, RJ, 1988, pg.23
Imagem da Internet. Título dado pelo blog.

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