Maria Regina Canhos Vicentin*
“A felicidade nunca acontece numa sala fechada,
em cuja porta, do lado de fora, uma tabuleta avisa:
Não entre sem ser chamado.
A felicidade não depende de isolamento, não depende
da repetição mecânica de orações e de frases otimistas.
Ao contrário, a felicidade tem de aprender a conviver com a maldade,
com o sofrimento, com a inimizade alheia,
com a morte”.
(Elben M. Lenz César, in “Olhe para o alto” – Editora Ultimato – Maio de 2004).
Até hoje não aceito bem a ideia dos monges buscarem o isolamento. Fica parecendo que a iluminação só se dá em monastérios longínquos e que nós, reles mortais, não temos direito a ela, somente uns poucos privilegiados que aceitam manter-se afastados de todos os prazeres terrenos, recitando mantras, e programando-se de forma positiva, antecipando visões do paraíso. Ocorre que acostumam nesse isolamento, e recusam-se a estender a mão ao irmão necessitado acreditando que, como a iluminação é pessoal, nada se pode fazer pelo despertar do outro. Lembro-me de como fiquei arrasada na adolescência, quando ouvi dizer que um autor de vários livros interessantes havia abandonado a Igreja para tornar-se monge. Lá vai mais um, pensei, dedicar-se exclusivamente a si mesmo ao invés de lutar ao nosso lado por um mundo melhor.
Talvez essa gente creia que o isolamento traga felicidade, afaste tentações, previna pecados, ou facilite uma aproximação com Deus. Mas, se é assim, por que será que Jesus preferiu agregar-se a uma comunidade, arregimentar seus apóstolos e dividir com eles seus melhores (Mc 11, 1-11) e piores momentos (Mc 14, 32-42)? Sempre acreditei que o homem é um ser social e, como tal, necessita do contato com os demais, seus pares. É no outro que verdadeiramente nos descobrimos enquanto pessoa. Somos interdependentes e não há como deixar isso de lado. Imagino que o isolamento faça parte da vida daqueles que se julgam melhores que os outros, e acho difícil acreditar que isso traga contentamento.
Vivemos querendo nos poupar dos sofrimentos a que nós mesmos damos causa. De onde vêm os crimes, a maldade, a inveja (Mt 15, 19)? Acaso vêm do espaço ou de outras dimensões? Não estão plantados em nosso próprio coração? Para erradicar esses males precisamos trabalhar com os resultados deles em nossas vidas, pois quase invariavelmente é através do sofrimento que aprendemos as mais belas lições. A felicidade tem sim de aprender a conviver com a maldade, o sofrimento, a morte... Não podemos recolher nossas mãos diante das barbaridades que nós mesmos acarretamos, e sim, lidar com elas remediando um mal maior, utilizando-as como fonte de aprendizado.
A felicidade não acontece num compartimento à prova de balas. Deve-se levar em conta que o sorriso e o brilho no olhar do irmão marginalizado também são muito importantes. O seu ofuscamento enfeia e empobrece toda a humanidade. Não vire as costas para essa realidade. Não feche as portas nem coloque tabuletas com avisos de “não perturbe”. O mal está aí, e penso que você sabe de onde ele veio. Combatê-lo não implica em ignorar a sua existência, mas olhar para ele de forma madura e entender que era necessário para que aprendêssemos. Quando a lição for assimilada poderemos erradicá-lo do nosso coração e da vida dos nossos irmãos. Coragem; precisamos de você nessa batalha!
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* É investida da função de Psicóloga Judiciária e exerce seu trabalho junto ao Fórum da Comarca de origem. Dedica-se ao Atendimento Clínico e Aconselhamento Psicológico em consultório particular, dentro da Abordagem Centrada na Pessoa. Possui os títulos de Profissional Especialista em Psicologia Clínica e em Psicologia Jurídica. É autora de diversos livros e colaboradora em vários jornais no território nacional, além de algumas revistas, como "O Mensageiro de Santo Antonio" e "Família Cristã".
Fonte: http://www.mariaregina.com.br/sobre.htm l9/12/2011Imagem da Internet
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