Desde que rompeu relação de sete anos, Ed Casabian
muda de endereço a cada sete dias; anfitriões se
voluntariam em seu blog
Foto: Carolina Cimenti Ampliar
Ed Casabian, de 29 anos, muda de endereço a cada sete dias em Nova York
desde que terminou relação de sete anos
Tem quem vá à missa todos os domingos. Ou quem vá sempre almoçar na casa da sogra. Para muitos, é o dia semanal da faxina. Para Ed Casabian, habitante de Nova York de 29 anos, e aparentemente um pacato contador de um site americano, domingo é dia de fazer as malas e mudar de endereço. Ele resolveu virar nômade por um ano depois que seu relacionamento de sete anos com a namorada acabou.
Casabian não deixou crescer a barba ou parou de cortar as unhas, mas muda de endereço todos os domingos, indo sempre parar em uma vizinhança nova na casa de um desconhecido. Seu blog diz tudo: "Tenho colchão, preciso de chão." E os nova-iorquinos adoram e oferecem um novo endereço para o nômade urbano todos os dias.
Com o coração partido, Ed teve de deixar o apartamento que havia comprado juntamente com a namorada e aproveitou o momento para repensar outros detalhes de sua vida. “Com certeza não queria ficar morando lá, mas também não sabia aonde ir”, diz Ed, que acabou aceitando a oferta de um colega de trabalho para passar umas semanas no seu apartamento em Hell’s Kitchen (zona oeste de Manhattan).
“O meu colega estava de mudança, então por duas semanas ficamos praticamente acampados nesse apartamentão enorme, cada um dormindo num colchão inflável, na frente de uma das melhores vistas de Nova York”, relembra. “Acho que foi isso que me deu um estalo. Vi a cidade toda ali, na minha frente, e deu vontade de me jogar e vivê-la”, explica Ed.
Ao mesmo tempo em que experimentava o “manual básico do cara abandonado”, Ed passou a lembrar das viagens que havia feito por meio do site www.couchsurfing.org, dormindo no sofá de desconhecidos e vivendo um pouco a vida deles. “Essas viagens me deixaram lembranças ótimas, então eu decidi tentar fazer a mesma coisa, mas na minha própria cidade, sem largar o meu emprego.”
Nesta semana, completam-se nove meses desde que Ed adotou a prática de mudar de endereço a cada sete dias. “Às vezes penso em me estabilizar e parar com essa viagem constante, mas, ao mesmo tempo, nunca tive tantas histórias para contar”, diz, referindo-se à semana em que passou no apartamento de três mulheres na moderna região de Tribeca.
Ed sempre cozinha ou oferece jantares aos seus anfitriões, e com as três garotas não poderia ser diferente. “Escolhi um restaurante que estava na moda e levei essas três mulheres lindas para jantar. Normalmente não saio sozinho com várias mulheres atraentes, então certamente foi uma estada muito especial”, conta o nômade orgulhoso.
Os anfitriões parecem adorar receber Ed. “Estou triste que ele já vá embora, hospedaria ele por mais uma semana tranquilamente”, diz Leslie, 39 anos, mãe de Phoenix, 10 meses. “O Ed é muito parceiro para sair e conhecer a vizinhança, e foi ótimo visitar os meus lugares preferidos no Bronx e vê-los pelo olhar dele. Além disso, Ed não cozinhou para mim, mas sabe usar muito bem o telefone para pedir comida”, brincou.
Histórias engraçadas e escabrosas de apartamentos em Nova York não são novidade para os habitantes da cidade. Mas Casabian viveu grandes aventuras com apartamentos e colegas de quarto em poucos meses. No pior deles, a água que saía da pia e do chuveiro não era exatamente limpa. No melhor, o porteiro chamava os táxis e abria a porta para ele.
"Impressionei uma garota que conheci num bar quando disse que estava morando ao sul do Central Park.” Mas quando Ed levou a menina para jantar na semana seguinte, o endereço não era mais o mesmo. “Havia me mudado para o Queens, e a garota não retornou mais as minhas ligações”, ri. “Algumas pessoas acham interessante, outras acham que eu sou louco.”
Às vezes, quando sai do trabalho, Ed não sabe direito qual caminho tomar. Mas mesmo com a temporária desorientação, ele sempre encontra o caminho de volta para casa com a ajuda da internet no telefone, fundamentais na vida de um nômade moderno. “Sem o meu blog, onde as pessoas oferecem pouso, e Google maps, não conseguiria viver assim”, diz.
O iG decidiu acompanhar uma mudança de Ed no domingo 13 de fevereiro. Foi uma das viagens mais longas que ele fez desde que começou a aventura: do norte da cidade, no Bronx, Ed foi morar no Brooklyn, ao sul de Nova York. Um percurso de uma hora e meia com várias trocas de ônibus e metrô e muitas malas.
“Esse momento no metrô, entre uma casa e outra, é normalmente quando tenho tempo para ler e ouvir músicas. É um momento relaxante, quando não tenho de conversar e estar presente”, conta Ed, que ao fim da viagem, sorrindo, agradeceu a companhia.
“Quando faço essas viagens longas entre um endereço e outro, penso em parar. Mas basta chegar na casa do novo anfitrião ou anfitriã para lembrar de por que fazer o que eu faço”, diz sorrindo. “É muito especial participar da vida das pessoas dessa forma.”
Ed gosta tanto de sua vida nômade que está considerando ampliar o projeto e continuar aceitando hospedagens até conhecer bem todas as esquinas de Nova York. Ou dos Estados Unidos. Ou do mundo. Questionado se aceitaria ofertas para ficar hospedado em endereços no Brasil, ele respondeu: “Claro que sim. Quando? Estou pronto para partir..."
Foto: Carolina Cimenti
Leslie, anfitriã de Ed Casabian no Bronx, e seu bebê Phoenix, de 10 meses: 'Estou triste que ele vá embora'
Manual básico do bom hóspede
Com tanta experiência, o nômade nova-iorquino é a pessoa ideal para ensinar o que fazer e o que evitar quando se está de visita na casa de alguém:
Faça
- Seja autossuficiente, não dependa do seu anfitrião para tudo (por exemplo, para saber aonde ir, onde pegar o ônibus, onde comprar água)
- Não ocupe muito espaço e não deixe as suas coisas jogadas pela casa (“tudo o que eu preciso são dois metros x um metro e meio”, diz Ed Casabian)
- Sempre leve os seus próprios lençóis e a sua própria toalha
- Se deixar seus produtos no banheiro, faça-o de forma organizada
- Spray bom-ar para o banheiro pode vir a calhar
- Não precisa chegar com presente, mas sempre, sempre, sempre convide seus anfitriões para almoçar/jantar (e pague)
Evite
- Cabelos no sabonete
- Não deixe para fazer sua cama ou inflar o colchão muito tarde
- Evite sujar, mas se sujar, limpe
- Tente não estar muito presente durante a manhã
- Não tome banho no horário em que o seu anfitrião sempre toma
- Nunca, jamais perca a chave
Mais:
Na revista SuperInteressante, impressa, Ed. 298 - dezembro/2012 - entrevista
SuperInteressante: Como seu corpo e sua mente reagem diante do fato de você não ter um lar fixo?
Edward Casabian: Bem, eu raramente fico doente, então acredito que meu corpo não se incomode muito com a minha rotina. Minha mente é muito ativa, por causa de todas as pessoas e lugares novos que eu conheço constantemente. Acho que aconteceu uma ou duas vezes de acordar sem saber onde estava, mas isso realmente não me incomoda. Eu tenho a habilidade de dormir muito bem em qualquer lugar mesmo sem travesseiro! Eu não carrego um porque ele ocupa muito espaço na bagagem.
SI: Essa experiência mostrou que a gente não precisa de tanta coisa para viver?
EC: Exatamente. Nós vivemos numa sociedade extremamente consumista, em especial aqui, nos EUA. Eu me tornei muito mais consciente em relação às coisas que compro. A tecnologia também me permite ter menos coisas. Por exemplo, meu Kindle é a minha biblioteca e o iPhone serve como mapa, bloco de notas e agenda eletrônica, entre outras coisas. Acho que esse projeto seria inviável sem um smarthphone. Algumas vezes, sinto falta de ter mais roupas, mas eu sempre posso doar alguma coisa e conseguir uma peça em troca.
SI: De acordo com a sua experiência, as pessoas vivem de formas diferentes ou a vida doméstica é parecida?
SC: As pessoas vivem de formas absolutamente distintas. Algumas são organizadas, outras são bagunceiras. Eu tento ser o melhor hóspede que o meu anfitrião já teve. Isso significa levá-lo para jantar em algum lugar legal e, claro, prestar atenção em seus horários e respeitá-los sempre. (Texto de MARIANA PONTUAL para SuperInteressante)
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Reportagem por Carolina Cimenti, de Nova York, especial para o iG Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br - Acesso 10/12/2011
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