Juremir Machado da Silva*
Crédito: ARTE PEDRO SCALETSKY
A ordem natural das coisas mudou. A natureza é uma "metamorfose ambulante". Tudo é possível. Até nascer filho de pai e mãe mortos. Mas talvez não seja o fim do mundo. Apenas o começo. Esse é o verdadeiro sentido do termo apocalipse. Há algum tempo, o normal era se ter paixões desmedidas na juventude, paixões comedidas na idade da razão e comedimentos passionais ou racionais na velhice. Era aquela história do incendiário na mocidade, do bombeiro na meia-idade e das cinzas do vulcão na reta final. Tudo se transformou. Mocidade virou juventude, que virou galera. A velhice cedeu lugar à terceira idade. Os "velhinhos" agora é que estão botando fogo no mundo. Ouvi este diálogo entre dois setentões na Feira do Livro:
- E aí, brother, numa boa?
- Numa boa, gata, levando.
- E o coração?
- Bombando.
- Que que tá pegando?
- Além da gripe, uma dor nas costas.
- Pô, cara, tô falando de pegar alguém, de ficar, saca? Tem um baile pra galera da terceira idade e até mais, a nossa geração, sabe? Onde rolam coisas do arco da velha.
- É mesmo? Tô meio fora de forma. Acho que não dou mais no couro. Sabe como é, não estou mais pra balada.
- Sem essa, cara, depois da invenção da pílula...
- Anticoncepcional?
- Não, cara, a azulzinha. Vai dizer que ainda não experimentou um viagrinha? Olha que o tempo tá passando!
- Puxa, gata, você tá passadinha, hein?
- Passadinha, eu!?
- Assanhada, saca?
- Eu tô é viva. Chego a ficar com cinco caras num baile.
- Ficar como mesmo?
- Dançar, beijar e de repente...
- Que coisa! No meu tempo...
- Ah, não! Comigo não. Esse papo de "no meu tempo" é coisa de velho. Não tenho saco pra isso. Corta essa.
Pode ser que eu esteja exagerando um pouco. Feira do Livro faz a gente imaginar coisas. Garanto, porém, que o essencial dessa conversa é a mais pura verdade. As mulheres mais velhas estão dando lições. Sofá com elas só para enfeitar a sala ou para outras brincadeiras. Nada de ficar atoladas vendo a vida passar. Talvez atoladinhas. Desrespeito? Que nada. Elogio. As mulheres da terceira idade estão deitando e rolando, querem prazer, chamando o jogo para elas, tirando o atraso, tomando a iniciativa, levantando a bola ou chutando do jeito que vem. É por isso que eu as admiro. Só nos dão lições de vida. Beleza!
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* Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor. Cronista do Correio do Povojuremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do Povo on line, 04/12/2011
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