Policiais bloqueiam passagem de imigrantes que tentam passar para o lado britânico - PASCAL ROSSIGNOL / REUTERS
Para Bruno Cautrès, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, incapacidade da UE alimenta populismo
PARIS - O drama dos migrantes que têm se arriscado no Eurotúnel para
chegar ao Reino Unido colocou a questão novamente em pauta. Para Bruno
Cautrès, analista do Instituto de Estudos Políticos de Paris, a
incapacidade da Europa em lidar com a situação alimenta o populismo que
rechaça os refugiados e dá voz a radicalismos.
Qual o significado de mais este incidente em Calais?
Há
muito tempo, não somente a França, mas a Europa, não sabe enfrentar
esta situação. E temos o sentimento de que é algo cada vez mais grave.
Há uma pressão crescente, e esta questão da imigração e dos refugiados
se tornou o problema número um da Europa, talvez mais do que a crise
grega. Os países europeus se sentem pouco à vontade em aceitar assumir
sua parte do problema. É um problema para o qual ninguém parece ter uma
solução.
Como você analisa a reação dos envolvidos hoje?
As
respostas se restringiram ao âmbito da manutenção da ordem, do reforço
da segurança, com envio de policiais. O ministro do Interior francês
disse que a situação em Calais reflete o estado dos problemas e das
tensões do mundo. Tudo bem, ele tem razão. Mas dizendo isso, ele não diz
nada. Fui surpreendido por essa abordagem do governo francês restrita
às questões de segurança.
Há uma impotência europeia para enfrentar o problema?
As
soluções são de longo prazo e onerosas, de nível internacional, nas
áreas de políticas de cooperação, de desenvolvimento. As soluções de
curto prazo são humanitárias. A Itália teve razão em lembrar que os
fundos europeus que lhe haviam sido destinados para enfrentar a situação
foram reduzidos. Hoje, é ainda mais difícil, pois muitos governos têm o
sentimento de que os cidadãos não acreditam mais na Europa.
Este quadro favorece o discurso da extrema-direita e do
populismo, de Marine Le Pen (FN), e também a proposta do ex-presidente
Nicolas Sarkozy, de acabar com o Espaço Schengen?
São
temas do terreno da extrema-direita que proporcionaram seu sucesso na
França, com o objetivo de amedrontar com a ameaça de uma invasão de
refugiados e imigrantes. E também de dizer que abandonando a soberania
nacional em detrimento da Europa, do Espaço Schengen (espaço europeu em
que os países participantes têm fronteira aberta entre si), a França se
coloca em perigo. Se o que se passou hoje, ocorresse duas semanas antes
do primeiro turno da eleição presidencial, haveria um efeito importante.
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Reportagem por Fernando Eichenberg
Fonte: Jornal O Globo online, 30/07/2015
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