quinta-feira, 18 de abril de 2019

"Falta a figura do líder", diz FHC sobre o país

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EX-PRESIDENTE RESSALTA FORÇA do Congresso, defende opção pelo centro radical e diz que seu partido precisa se atualizar

Entrevistado ontem no programa Gaúcha Atualidade, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou, por cerca de 20 minutos, sobre temas como a situação política do Brasil, os primeiros cem dias do governo Bolsonaro, a relação com o Congresso e o futuro do seu partido, o PSDB. Destacou a falta de rumo do país e a ausência "da figura do líder" no Brasil, situação agravada pela enorme fragmentação partidária.

SITUAÇÃO DO BRASIL
"O governo atual representa uma etapa nova, só que dá a impressão de que não saiu de uma transição. Para onde vamos? A maior preocupação é essa. A gente sabe o que não quer, mas não o que quer. O mundo está avançando, e nós? Vamos ficar parados? Quais são as prioridades? Falta a figura do líder. Não é só no Brasil, onde há uma crise da chamada democracia representativa, e aqui é agravado pela fragmentação partidária enorme. Não se sabe muito bem para que lado vai o mundo, há uma certa angústia, aí ressalta a necessidade de liderança."

ESQUERDA OU DIREITA?
"Neste momento existe uma falta de referência. Nunca fui neoliberal no sentido que a esquerda atribuía, de alguém que só olha para o mercado. Sempre olhei para a sociedade - o povo, a educação, a saúde, a reforma agrária - e, ao mesmo tempo, para o mercado, para aumentar a produtividade e tudo mais. Quanto a comunismo, isso é antiquado, é passado, acabou. Onde é que você tem o comunismo que pregue ideias do comunismo? Não sei onde, nem na China. (...) Não só para a política, mas isso mostra desorientação no Brasil."

CENTRO RADICAL
"As pessoas vão do zero ao infinito, não sabem se situar onde acho que devemos estar, que é na posição que tenho chamado de centro radical, que não vá para os extremos. Estamos em um momento em que a sensatez dá a impressão de que é ou esquerda antiquada ou comunismo, e não é. Ou então direita, e não pode. A sensatez tem de estar no realismo, no realismo esperançoso."

POLÍTICA CRIMINALIZADA
"Em termos gerais, é verdade que há criminalização da política. Quando se criminaliza muito, dá em ditadura. Deputados têm direito de exigir para a sua comunidade o que eles bem entenderem. Cabe ao governo entender se aquilo é justo ou não. Negociação política faz parte da vida, não tem de ser por baixo dos panos."

REFORMA DA PREVIDÊNCIA
"Acho que o governo está fazendo o que tem de fazer: apresentar uma reforma da Previdência. Vamos discutir o que está de acordo e o que não está. Vamos ver se está certo o cálculo. De fato, os privilégios estão sendo cortados? Parece que em certos casos, sim, mas em outros, não. A da idade mínima é necessária."

RELAÇÃO COM O CONGRESSO
"Na democracia, tem de ter apoio do Congresso. Primeiro, a população. Se o presidente está bem com o povo, é mais fácil o relacionamento com o parlamento. Segundo, discutindo as ideias que o governo tem para o Brasil. Terceiro, é o que chamam de dar atenção ao Congresso. Quando é razoável atender ao pedido que é para o que bem da comunidade que ele representa, tem de atender ao pedido, não é feio. Feio é fazer negociações sem projeto, ou pior ainda, quando dá uma vantagem apenas."

A FORÇA DO PARLAMENTO
"O Congresso mostrou que tem força e existe. Presidentes que não entenderam isso sofreram muito, e até caíram. Tem de entender isso, a divisão entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Não tem de haver uma guerra entre eles. Tem de haver equilíbrio entre os poderes."

FUTURO DO PSDB
"O PSDB tem de se renovar, ter compromisso mais claro com o comportamento ético, aberto. Tem de se atualizar. Um partido que não olhe para o povo brasileiro tal como é, não é digno de governar o Brasil, nem vai conseguir governá-lo."

CENSURA E FAKE NEWS
"Na ditadura existia realmente censura, era um inferno. Não tenho conhecimento jurídico para fazer um limite do que é correto ou não da ação do ministro Alexandre de Moraes (que censurou a revista Crusoé e o site O Antagonista). Uma coisa tem de ser reconhecida: nas redes sociais há muita mentira. Não tenho apartamento em Paris, só aqui em São Paulo e nada mais. Tenho uma aposentadoria compulsória e nada mais. E repetem, repetem, repetem. Tem de haver proibição dessas questões. Claro que não pode censura prévia."

CABEÇADAS NA EDUCAÇÃO
"Acho que (o governo Bolsonaro) está bastante perdido (na educação). Tive o mesmo ministro durante oito anos. É muito importante dar continuidade, ter um projeto e levar adiante. Sou contra que haja partido em escola, qualquer partido, esquerda ou direita. Pessoas têm partido, professores têm partido e mesmo que não queiram transmitem algumas de suas convicções, mas não pode deixar de mostrar os dois lados. O que está sendo proposto no Brasil é ter uma escola de esquerda, outra de direita. Isso é inviável, é contra a cultura. O governo tem dado cabeçadas grandes."
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Fonte:  https://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=ff4488b6a9869fb87a4c5386c8905a50 18/04/2019

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