EX-PRESIDENTE RESSALTA FORÇA do Congresso, defende opção pelo centro radical e diz que seu partido precisa se atualizar
Entrevistado ontem no programa
Gaúcha Atualidade, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou, por
cerca de 20 minutos, sobre temas como a situação política do Brasil, os
primeiros cem dias do governo Bolsonaro, a relação com o Congresso e o
futuro do seu partido, o PSDB. Destacou a falta de rumo do país e a
ausência "da figura do líder" no Brasil, situação agravada pela enorme
fragmentação partidária.
SITUAÇÃO DO BRASIL
"O governo atual representa uma etapa nova, só que dá a
impressão de que não saiu de uma transição. Para onde vamos? A maior
preocupação é essa. A gente sabe o que não quer, mas não o que quer. O
mundo está avançando, e nós? Vamos ficar parados? Quais são as
prioridades? Falta a figura do líder. Não é só no Brasil, onde há uma
crise da chamada democracia representativa, e aqui é agravado pela
fragmentação partidária enorme. Não se sabe muito bem para que lado vai o
mundo, há uma certa angústia, aí ressalta a necessidade de liderança."
ESQUERDA OU DIREITA?
"Neste momento existe uma falta de referência. Nunca
fui neoliberal no sentido que a esquerda atribuía, de alguém que só olha
para o mercado. Sempre olhei para a sociedade - o povo, a educação, a
saúde, a reforma agrária - e, ao mesmo tempo, para o mercado, para
aumentar a produtividade e tudo mais. Quanto a comunismo, isso é
antiquado, é passado, acabou. Onde é que você tem o comunismo que pregue
ideias do comunismo? Não sei onde, nem na China. (...) Não só para a
política, mas isso mostra desorientação no Brasil."
CENTRO RADICAL
"As pessoas vão do zero ao infinito, não sabem se
situar onde acho que devemos estar, que é na posição que tenho chamado
de centro radical, que não vá para os extremos. Estamos em um momento em
que a sensatez dá a impressão de que é ou esquerda antiquada ou
comunismo, e não é. Ou então direita, e não pode. A sensatez tem de
estar no realismo, no realismo esperançoso."
POLÍTICA CRIMINALIZADA
"Em termos gerais, é verdade que há criminalização da
política. Quando se criminaliza muito, dá em ditadura. Deputados têm
direito de exigir para a sua comunidade o que eles bem entenderem. Cabe
ao governo entender se aquilo é justo ou não. Negociação política faz
parte da vida, não tem de ser por baixo dos panos."
REFORMA DA PREVIDÊNCIA
"Acho que o governo está fazendo o que tem de fazer:
apresentar uma reforma da Previdência. Vamos discutir o que está de
acordo e o que não está. Vamos ver se está certo o cálculo. De fato, os
privilégios estão sendo cortados? Parece que em certos casos, sim, mas
em outros, não. A da idade mínima é necessária."
RELAÇÃO COM O CONGRESSO
"Na democracia, tem de ter apoio do Congresso.
Primeiro, a população. Se o presidente está bem com o povo, é mais fácil
o relacionamento com o parlamento. Segundo, discutindo as ideias que o
governo tem para o Brasil. Terceiro, é o que chamam de dar atenção ao
Congresso. Quando é razoável atender ao pedido que é para o que bem da
comunidade que ele representa, tem de atender ao pedido, não é feio.
Feio é fazer negociações sem projeto, ou pior ainda, quando dá uma
vantagem apenas."
A FORÇA DO PARLAMENTO
"O Congresso mostrou que tem força e existe.
Presidentes que não entenderam isso sofreram muito, e até caíram. Tem de
entender isso, a divisão entre os poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário. Não tem de haver uma guerra entre eles. Tem de haver
equilíbrio entre os poderes."
FUTURO DO PSDB
"O PSDB tem de se renovar, ter compromisso mais claro
com o comportamento ético, aberto. Tem de se atualizar. Um partido que
não olhe para o povo brasileiro tal como é, não é digno de governar o
Brasil, nem vai conseguir governá-lo."
CENSURA E FAKE NEWS
"Na ditadura existia realmente censura, era um inferno.
Não tenho conhecimento jurídico para fazer um limite do que é correto
ou não da ação do ministro Alexandre de Moraes (que censurou a revista
Crusoé e o site O Antagonista). Uma coisa tem de ser reconhecida: nas
redes sociais há muita mentira. Não tenho apartamento em Paris, só aqui
em São Paulo e nada mais. Tenho uma aposentadoria compulsória e nada
mais. E repetem, repetem, repetem. Tem de haver proibição dessas
questões. Claro que não pode censura prévia."
CABEÇADAS NA EDUCAÇÃO
"Acho que (o governo Bolsonaro) está bastante perdido
(na educação). Tive o mesmo ministro durante oito anos. É muito
importante dar continuidade, ter um projeto e levar adiante. Sou contra
que haja partido em escola, qualquer partido, esquerda ou direita.
Pessoas têm partido, professores têm partido e mesmo que não queiram
transmitem algumas de suas convicções, mas não pode deixar de mostrar os
dois lados. O que está sendo proposto no Brasil é ter uma escola de
esquerda, outra de direita. Isso é inviável, é contra a cultura. O
governo tem dado cabeçadas grandes."
----------
Fonte: https://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=ff4488b6a9869fb87a4c5386c8905a50 18/04/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário