Juremir Machado da Silva*
Livro do sociólogo francês é uma carta aos maçons
Jornalistas e sociólogos compartilham um princípio: tudo é
fato social. Nada pode ser-lhes estranho. Tudo é assunto a ser
investigado, coberto, estudado, analisado, explicado, esclarecido. Tudo.
Da astrologia ao ódio nas redes sociais, da paixão pelo futebol à
maçonaria. O francês Michel Maffesoli é sociólogo. Em mais de 30 livros,
ao longo da sua vida, examinou do comportamento juvenil à violência que
perpassa as sociedades. Agora, em “O tesouro escondo, carta aberta aos
franco-maçons e a outro”, recém-lançado no Brasil pela editora Sulina,
debruça-se sobre a maçonaria.
Maffesoli, pensador da pós-modernidade, que para ele é o
encontro da tecnologia de ponta com o arcaico (o emocional, aquilo que
nos constitui psiquicamente desde sempre), lê o mundo a partir de uma
chave interpretativa: as pessoas precisam estabelecer vínculo social,
pertencer a alguma coisa, compartilhar emoções e sentimentos, viver
juntas, forjar um “cimento social”, vibrar em comunhão, integrar,
passageira ou permanentemente, um grupo, uma tribo, uma comunidade, um
clube, uma identificação. Na modernidade, o pertencimento, baseado na
identidade, deveria ser permanente. Na pós-modernidade, pode ser
transitório.
Em “O tesouro escondido”, livro luminoso, Maffesoli reflete
sobre a maçonaria como lugar de constituição de vínculo social. Para o
autor de “O tempo das tribos” e “A transfiguração da política, a
tribalização do mundo”, o laço social precisa de rituais para se
atualizar e reproduzir. Precisamos de mistério, de encontros, de
fórmulas, de linguagens, códigos, segredos, valores comuns, marcas, de
tudo aquilo que junta, reúne, cola, ordena, dá sentido, organiza,
fornece uma narrativa sobre o social. As comemorações em torno da
Revolução Farroupilha produzem laço social.
Para Michel Maffesoli, “o sentimento de pertença de que
falamos, oriundo de uma ética estruturada por uma estética compartilhada
(cenários, cerimônia, rituais…), é tão mais forte que a viagem, em seu
sentido simbólico, uma maneira de enfrentar, em grupo, a angústia do
tempo que passa e a morte, que é a conclusão final”. Queremos viver
juntos. Não se trata de julgar ou de aderir a uma determinada tradição,
mas de tentar compreender o que nela atrai os participantes. A sabedoria
popular ensina que todos devem se agarrar nalguma coisa para resistir
às intempéries da existência. Nesse sentido, toda tradição ritual é
metáfora dessa busca pelo que segura e ajuda a vibrar em companhia de
parceiros de viagem.
O que nos mantém juntos? O que nos permite permanecer coesos? O
amor por um país, a paixão por um clube de futebol, uma ideologia, a
fé, a adesão a um partido, o compartilhamento de uma causa social, a
exploração de um esporte radical, a arte, tudo isso junto ou em parte.
Maffesoli resume: “Há banalidades de base que é preciso dizer e repetir.
Essas experiências que a opinião dos sabedores se obstina a negar ou
recusar. É isso que os espíritos livres nomeiam de ‘arquétipos’,
‘instintos’, ‘estruturas antropológicas’. Segundo V. Pareto, isso que se
pode nomear um ‘resíduo’. Nesse sentido, estar-junto para estar junto”.
Faz sentido. Afinal, somos gregários.
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* Jornalista. Sociólogo. Prof. Universitário.
Fonte: https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/maffesoli-e-a-ma%C3%A7onaria-como-la%C3%A7o-social-1.332433 12/04/2019
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