sexta-feira, 12 de abril de 2019

Maffesoli e a maçonaria como laço social

Juremir Machado da Silva*

Livro do sociólogo francês é uma carta aos maçons
Jornalistas e sociólogos compartilham um princípio: tudo é fato social. Nada pode ser-lhes estranho. Tudo é assunto a ser investigado, coberto, estudado, analisado, explicado, esclarecido. Tudo. Da astrologia ao ódio nas redes sociais, da paixão pelo futebol à maçonaria. O francês Michel Maffesoli é sociólogo. Em mais de 30 livros, ao longo da sua vida, examinou do comportamento juvenil à violência que perpassa as sociedades. Agora, em “O tesouro escondo, carta aberta aos franco-maçons e a outro”, recém-lançado no Brasil pela editora Sulina, debruça-se sobre a maçonaria.

      Maffesoli, pensador da pós-modernidade, que para ele é o encontro da tecnologia de ponta com o arcaico (o emocional, aquilo que nos constitui psiquicamente desde sempre), lê o mundo a partir de uma chave interpretativa: as pessoas precisam estabelecer vínculo social, pertencer a alguma coisa, compartilhar emoções e sentimentos, viver juntas, forjar um “cimento social”, vibrar em comunhão, integrar, passageira ou permanentemente, um grupo, uma tribo, uma comunidade, um clube, uma identificação. Na modernidade, o pertencimento, baseado na identidade, deveria ser permanente. Na pós-modernidade, pode ser transitório.

      Em “O tesouro escondido”, livro luminoso, Maffesoli reflete sobre a maçonaria como lugar de constituição de vínculo social. Para o autor de “O tempo das tribos” e “A transfiguração da política, a tribalização do mundo”, o laço social precisa de rituais para se atualizar e reproduzir. Precisamos de mistério, de encontros, de fórmulas, de linguagens, códigos, segredos, valores comuns, marcas, de tudo aquilo que junta, reúne, cola, ordena, dá sentido, organiza, fornece uma narrativa sobre o social. As comemorações em torno da Revolução Farroupilha produzem laço social.

      Para Michel Maffesoli, “o sentimento de pertença de que falamos, oriundo de uma ética estruturada por uma estética compartilhada (cenários, cerimônia, rituais…), é tão mais forte que a viagem, em seu sentido simbólico, uma maneira de enfrentar, em grupo, a angústia do tempo que passa e a morte, que é a conclusão final”. Queremos viver juntos. Não se trata de julgar ou de aderir a uma determinada tradição, mas de tentar compreender o que nela atrai os participantes. A sabedoria popular ensina que todos devem se agarrar nalguma coisa para resistir às intempéries da existência. Nesse sentido, toda tradição ritual é metáfora dessa busca pelo que segura e ajuda a vibrar em companhia de parceiros de viagem.

      O que nos mantém juntos? O que nos permite permanecer coesos? O amor por um país, a paixão por um clube de futebol, uma ideologia, a fé, a adesão a um partido, o compartilhamento de uma causa social, a exploração de um esporte radical, a arte, tudo isso junto ou em parte. Maffesoli resume: “Há banalidades de base que é preciso dizer e repetir. Essas experiências que a opinião dos sabedores se obstina a negar ou recusar. É isso que os espíritos livres nomeiam de ‘arquétipos’, ‘instintos’, ‘estruturas antropológicas’. Segundo V. Pareto, isso que se pode nomear um ‘resíduo’. Nesse sentido, estar-junto para estar junto”. Faz sentido. Afinal, somos gregários.
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* Jornalista. Sociólogo. Prof. Universitário. 
Fonte:  https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/maffesoli-e-a-ma%C3%A7onaria-como-la%C3%A7o-social-1.332433 12/04/2019

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