Ernildo Stein*
“Quando falamos em cultivo na emergência de homo, libertando-se da filiação dos hominídios, vem-nos à mente a pergunta sobre qual teria sido a idéia de vida desse ser primitivo. Num primeiro momento, a observação paleontológica nos dá a impressão de que temos pela frente seres vivos cuja duração do ponto de vista biológico era curta por causa das condições em que tinham de sobreviver, mas resultava também da constante agressividade que levou a uma sucessão milenar de etnocídios. Uma observação mais aguda e uma interpretação inteligente das manifestações biológicas da reprodução ligadas ao cultivo não terão elas modificado a idéia de continuidade da vida em vez de a destruir?
É claro que escolhermos apenas um fator para expor essa idéia, que é o cultivo. Podemos imaginar que, dispondo dos três recursos fundamentais de hominização – que são o andar ereto, a disposição das mãos e a capacidade craniana -, a capacidade de reflexão do cérebro poderia ter mudado a atitude do homo sapiens diante de si mesmo como ser vivo. A vontade de viver, e de viver mais, não seria simplesmente da mesma ordem do instinto de reprodução da espécie, mas de conservação da vida como algo muito desejável. Desse modo o homo sapiens se teria percebido em sua forma de ser no mundo, como lhe sendo desejável viver e viver o maior tempo possível. Essa nova consciência teria a possibilidade de desencadear muitas atitudes antes inexistentes e de desenvolver iniciativas com relação à subsistência de si à proteção da prole.
(...)
A novidade do sistema adaptativo do homo sapiens terá sido também a harmonia e a cooperação substituindo estados mais primitivos de violência arcaica e agressividade.
(...)
Não é simplesmente o lema “viver é preciso” que define as condutas do surgimento do homem na Terra. Certamente podemos descobrir no homem de Cro-Magnon um tipo de capacidade de se auto-observar e perceber como alguém ao qual a festa das pinturas rupestres, o uso do fogo, os ritos funerárias, junto com a domesticação das plantas pelo cultivo, levou a uma autopercepção, em que ele se compreendeu em sua existência, de um lado, inelutável e, de outro, exposta à transitoriedade. O desenvolvimento do ser humano nos últimos 40 mil anos foi acompanhado por uma experiência que preservou uma unidade em função da qual desenvolveu todas as conquistas: a própria vida”.
(Excerto do livro: STEIN, Ernildo. Antropologia Filosófica: Questões epistemológicas. Ijui,Ed. Unijui, 2009, pp.178/179. – (Coleção filosofia;31).É claro que escolhermos apenas um fator para expor essa idéia, que é o cultivo. Podemos imaginar que, dispondo dos três recursos fundamentais de hominização – que são o andar ereto, a disposição das mãos e a capacidade craniana -, a capacidade de reflexão do cérebro poderia ter mudado a atitude do homo sapiens diante de si mesmo como ser vivo. A vontade de viver, e de viver mais, não seria simplesmente da mesma ordem do instinto de reprodução da espécie, mas de conservação da vida como algo muito desejável. Desse modo o homo sapiens se teria percebido em sua forma de ser no mundo, como lhe sendo desejável viver e viver o maior tempo possível. Essa nova consciência teria a possibilidade de desencadear muitas atitudes antes inexistentes e de desenvolver iniciativas com relação à subsistência de si à proteção da prole.
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A novidade do sistema adaptativo do homo sapiens terá sido também a harmonia e a cooperação substituindo estados mais primitivos de violência arcaica e agressividade.
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Não é simplesmente o lema “viver é preciso” que define as condutas do surgimento do homem na Terra. Certamente podemos descobrir no homem de Cro-Magnon um tipo de capacidade de se auto-observar e perceber como alguém ao qual a festa das pinturas rupestres, o uso do fogo, os ritos funerárias, junto com a domesticação das plantas pelo cultivo, levou a uma autopercepção, em que ele se compreendeu em sua existência, de um lado, inelutável e, de outro, exposta à transitoriedade. O desenvolvimento do ser humano nos últimos 40 mil anos foi acompanhado por uma experiência que preservou uma unidade em função da qual desenvolveu todas as conquistas: a própria vida”.
*Ernildo Stein. Professor da PUC/RS no Departamento de Filosofia e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia.
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