José Casanova*,
afirma que os homens e mulheres modernos
encontraram formas de ser religiosos
em ser religiosos e
que Deus sempre
estará na moda.
Eis a entrevista.
O que é espiritualidade?
Como sociólogo posso falar naquilo que as pessoas acreditam o que é a espiritualidade. Umas das conseqüências da globalização da secularização é a rejeição às instituições religiosas e à busca de alternativas. E aqui entramos no terreno da espiritualidade.
Logo...
A espiritualidade é a forma que tem cada individuo de expressar sua religião pessoal. Vai para além da religião.
Em que sentido?
No sentido de que incorpora outros aspectos: o simbólico, o místico, o estético, os discursos da arte moderna, o movimento de proteção ao meio ambiente... Assim se expressa a religiosidade moderna. Transcende as religiões tradicionais, é muito mais aberto e vem do Oriente.
Algum exemplo?
O ioga. O ioga é uma criação moderna, da Índia. Eles se confrontam com o colonialismo europeu que tem duas vertentes: a ciência moderna (a superioridade científica) e o cristianismo. O ioga surge como uma reação da cultura desse país ao colonialismo.
Tão poderosa é a ioga?
Sim. O ioga é uma forma de pensar cientificamente e, ao mesmo tempo, espiritualmente. Tão científico como a ciência européia, mas mais espiritual. E melhor que a religião, porque é espiritual como o cristianismo, mas mais científico.
O homem moderno, que quer se desprender da religião, encontrou novas formas de ser religioso sem ser religioso.Como isso está afetando as religiões tradicionais?
Está-se formando um sistema global de grupos religiosos que já não tem uma raiz territorial, ainda que cada religião insista em sua unicidade.
Com que palavras resumiria todas as religiões?
Amor, esperança e fé.Também em épocas de crise?
Especialmente em tempos de crise. As pessoas querem encontrar um sentido para a vida que não esteja baseada no êxito material. Por outro lado, a sociedade necessita repensar a estrutura de sua solidariedade. Obviamente as religiões sobreviverão à crise...As religiões são formas de pensar que têm durado séculos, que têm sobrevivido e mostraram sua efetividade em diferentes modos de produção econômica. O cristianismo sobreviveu ao modo de produção antigo, feudal, burguês, pós-industrial... e tem sido capaz de repensar o seu pensamento moral para adaptar-se a cada etapa histórica.
Alguma religião tem resposta para a crise?
Nenhuma religião tem uma resposta pronta para a crise e não pode dar soluções. O que as religiões podem dar são recursos morais como pensar em comum sobre o bem comum. Sem serem dogmáticas, porque, quando se é dogmático, como aconteceu às vezes com a Igreja católica pensando que tinha solução para tudo, fracassou. O que é interessante hoje em dia é que todos os problemas são globais e nenhuma tradição religiosa pode ter soluções únicas.
De onde podem vir as soluções então?
As soluções têm que vir do diálogo comum de todas as tradições religiosas e do pensamento filosófico secular. Precisamos buscar recursos de qualquer lugar que seja possível.Salvador Pániker (1) afirmou que Deus não está na moda.
Deus é um camaleão que morre continuamente e ressuscita.
Deus é um símbolo, e cada um projeta nele o que quer. Deus estará sempre na moda, porque é uma forma simbólica de expressar o desejo da transcendência humana.
Nos Estados Unidos, uma grande parte da população acredita em anjos.
Nos Estados Unidos é mais amplo do que na Europa, a crença em diferentes formas de transcendência. É interessante observar como uma sociedade moderna como a norte-americana, tão materialista e hedonista, sempre tem uma dimensão transcendente. Tem os pés no chão, mas são transcendentes.
E os anjos?
No que diz respeito aos anjos, o monoteísmo, com a idéia de um Deus muito longínquo que parece muito difícil, precisa-se que se busquem intermediários mais próximos. A Virgem está mais próxima e os anjos também, porque estão ao nosso lado.Na Europa, as pesquisas dizem pouca coisa sobre os anjos.Na Europa, as pesquisas mostram um declínio na fé em Deus, mas um crescimento por parte das gerações mais jovens, da crença em outra vida. Tem-se uma rejeição a um Deus todo poderoso, mas continua-se mostrando uma necessidade da transcendência.
*O sociólogo e teólogo da Universidade de Georgetwon. A entrevista foi publicada por El Periódico, 27-05-2009. A tradução é do Cepat e foi reproduzida no IHU/Unisinos.
_______________Notas:1 - Salvador Pániker nascido em Barcelona em 1927, é filósofo, engenheiro, escritor e editor. Doutor em engenharia e filosofia é professor de metafísica e de filosofia na Universidade de Barcelona. Fundador e diretor da editoria Kairós e colaborador habitual na imprensa escrita. Também é presidente da Associação de Amigos da Índia em Espanha e presidente da Associação Pró Direito a Morrer Dignamente (DMD) da Espanha.
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