quinta-feira, 14 de maio de 2009

Política Religiosa

Carlos Alberto Rabaça*

Em sua visita a Israel, em meio a polêmicas, o papa Bento XVI não deixou a política de lado. Defendeu a negociação com os palestinos e apoiou a coexistência de duas pátrias com fronteiras internacionalmente reconhecidas, endossando a solução de dois Estados, encampada pela ONU.
As religiões, com frequência, não fazem distinção entre os planos ético, político e religioso. Nos mandamentos que Moisés deu aos judeus havia os que tratavam de religião – "não terás outros deuses diante de mim" – e os relativos à ética – "não matarás". No Corão, de Maomé, incluem-se nos cinco pilares dos muçulmanos tanto o orar a Deus como o dar esmolas aos pobres, não havendo distinção entre política e religião. A noção de ser humano como uma criação divina implica que ele é responsável perante Deus por tudo que faz, moral, social e politicamente. Os profetas do antigo Israel atacavam os ricos e poderosos que observavam fielmente os rituais, mas pisoteavam os pobres. O ponto de vista moral desses profetas tinha, porém, uma justificativa religiosa.

As sociedades precisam ter suas linhas mestras éticas e algumas delas são preservadas nas leis, elaboradas por iniciativas políticas. Os romanos foram os primeiros a tentar criar um arcabouço legal que pudesse ser usado por todos os povos, independentemente de religião. O direito romano se tornou a base para todos os sistemas legais subsequentes nos Estados seculares modernos. Em alguns países muçulmanos há dois sistemas agindo em paralelo: um baseado no Corão, outro no direito romano. Hoje muitos países aceitam a Declaração dos Direitos Humanos, proclamada pelas Nações Unidas, como uma afirmação ética comum, seja qual for a religião ou a perspectiva geral do país.

Sociedades onde existem várias religiões e vários pontos de vista consideram muito difícil vincular a ética exclusivamente à religião. Por isso, devemos saudar o tom político, imprimido pelo papa em sua passagem por Israel, verbalizando a reivindicação de uma "solução justa" e "terra" para os palestinos. A esperança de um futuro seguro e estável para inúmeros homens, mulheres e crianças depende do resultado de negociações de paz entre israelenses e palestinos. Só assim reinará a concórdia almejada por todos os homens de bem, religiosos ou não.
*Sociólogo

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