segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Igreja e a crise

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL*

Não se trata de uma crise apenas da Igreja Católica – é uma crise que pertence a todos nós, que não somos perfeitos, que por vezes encobrimos nossas ações, não conseguimos perdoar, mas estamos sempre prontos a destruir. Os mais perversos abusos contra menores – e maiores, não esqueçamos –, são praticados no âmbito das famílias e, via de regra, busca-se uma solução que não ultrapasse as paredes domésticas.

Má solução? Péssima, por certo, mas assim é feita a humanidade, e a Igreja é feita de seres humanos. Joseph Ratzinger, de sólida formação acadêmica, acostumado a dialogar com várias religiões, especialmente a anglicana, e até com contestadores de dentro da Igreja, como o teólogo Hans Küng, está, como todos, escandalizado e constrangido, tentando administrar essa turbulência supra-eclesial que recai em peso sobre os ombros do Vaticano, o qual parece tornar-se um universal saco de pancadas. Compreende-se o apontar dos dedos acusadores: a Igreja Católica Romana é uma instituição transnacional, com 2 mil anos, e uma das poucas que sobraram em meio a diversos tsunamis culturais e morais. O caso é que uma sociedade falsa e hipócrita, atolada em seu charco ético, não tem nada a ensinar – nem a condenar.

O leitor inteligente sabe que não se está a negar a evidência dos casos pavorosos, amplamente noticiados, e reconhecidos pela hierarquia católica. O próprio Bento XVI declarou, na Sexta-Feira Santa de 2005, quando ainda não era Papa, que era necessário limpar “a sujeira”. Como conhecedor experimentado da sua grei, ele sabe onde está o problema.

No passado, e em todas as instituições, a solução era invariável: a transferência do transgressor, ou o esquecimento – veja-se o caso “leigo” de Roman Polanski; o problema, porém, persistia em sua base. Conhecem-se situações, entretanto, inclusive no Brasil, que acabaram com o desligamento sumário do transgressor ou, de maneira mais branda e quando não havia delito, pelo seu envio à assistência de natureza psicológica. Noutro episódio, bem difundido entre nós, o infame acabou na cadeia.

Deixemos a Igreja resolver o assunto por si mesma. E havendo crime, que seja punido pela lei comum. Esse não é apenas um direito da Igreja, mas significa, de nossa parte, apoiar uma ação construtiva e renovadora. Não esqueçamos que a crise da Reforma resultou numa Igreja mais forte, mais moderna, mais sóbria e voltada para suas finalidades, as quais ultrapassam o simples hic et nunc.
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* Escritor.  Educador.Colunita ZH
Fonte: ZH online, 12/04/2010

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