domingo, 25 de abril de 2010

O poder da Igreja Universal está no ser humano



Foi um tsunami diferente. Bem carioca. Em vez de água, na última quarta-feira as ruas da cidade foram inundadas por ônibus. Entraram por todos os lados, vindos dos quatro cantos do estado do Rio em pleno feriado de Tiradentes. O mar de mais de 1 milhão de evangélicos confluiu para a Enseada de Botafogo, onde a Igreja Universal do Reino de Deus promoveu mais uma de suas maratonas de louvor.

Não vou ficar perguntando de quem foi a culpa pelos engarrafamentos gigantes que incomodaram tanto. Vale mais refletir sobre a força desse movimento, que na verdade mostra a pujança do ser humano.

Já fui a um culto da Universal, na Catedral da Fé, uma imponente construção em Del Castilho (Zona Norte). Foi na época da eleição municipal de 2008. A ordem no jornal era averiguar se havia algum tipo de proselitismo político durante a celebração – Marcelo Crivella, bispo licenciado e senador, era um dos candidatos a prefeito.

Não constatei nenhuma menção eleitoreira no interior da catedral. No máximo, alguns cabos eleitorais de candidatos a vereador ligados à igreja distribuíam santinhos e seguravam cartazes do lado de fora. Na calçada, onde a lei permite.

Lá dentro, vi ao vivo o que já tinha assistido nos programas de TV. O mesmo discurso dos pastores, invocando trechos bíblicos, batendo forte na tecla da autoestima e, no final, pedindo aos fiéis que deixassem suas contribuições para a obra. Confesso que no momento em que o pastor pediu doações de R$ 20 mil reais me assustei. Era um culto destinado a pequenos e médios empresários em dificuldade. Ninguém foi ao palco deixar o polpudo donativo, e o pedido foi baixando até chegar a R$ 50, momento em que várias pessoas se levantaram e ofereceram seu sacrifício financeiro na esperança de ter melhor sorte no futuro. A vinculação fé-prosperidade é a tônica das pregações.

Acho que o ovo de Colombo dos líderes evangélicos foi descobrir que todo ser humano precisa ouvir palavras que o façam acreditar em si mesmo. Os cultos exploram essa neurolinguística, oferecem injeções de otimismo em doses cavalares. É isso que os pastores dão a seu rebanho: pensamento positivo e autoconfiança. Não é pouco para pessoas cujo cotidiano se resume a trabalho pesado, salário insuficiente, moradia indigna, família desagregada, vizinhança perigosa e saúde combalida por tanta infelicidade. Essas pessoas precisam tão desesperadamente acreditar em algo que não têm olhos para reparar se o pastor é canastrão.

As palavras bíblicas são muito poderosas, afinal séculos e séculos de perenidade lhes conferem autoridade. Nas igrejas evangélicas, pessoas que nunca tiveram disciplina adquirem um norte, mudam velhos costumes. Abandonam drogas pesadas, resistem ao apelo do álcool, sossegam o facho e reconstroem casamentos nos quais ninguém apostava mais um centavo.

Esse poder não está nos pastores, nem nessa ou naquela denominação. Quem se levanta do fundo do poço é o ser humano, cuja força interior é ilimitada.

Nenhum crente se preocupa muito em saber se o pastor lá na frente acredita naquilo que prega com tanta ênfase. Tentativas de derrubar o império da Universal foram muitas e não deram em nada. A igreja só cresceu apesar dos ataques e denúncias que volta e meia afloram na mídia e ecoam no Judiciário. De nada adiantam vídeos comprometedores, porque os fiéis aprenderam que quem vai contra Deus é o Diabo e estão mais preocupados em reconstruir suas próprias vidas. O que, aliás, é mérito exclusivo de cada um deles, e não de bispo ou pastor.
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Fonte: Jornal do Brasil online, 24/04/2010  - blog de Marcelo Migliaccio
http://www.jblog.com.br/rioacima.php

2 comentários:

  1. ZGUIOTTO,
    o assunto tratado é realmente muito interessante. Que pena que você tenha uma visão tão preconceituosa dele. Não pense que sou da Igreja Universal, pois não sou. Eu mesmo costumava criticar essa instituição, bem como, a Rede Record. Mas isso mudou quando eu descobri o que realmente estava me motivando a fazer-lo. Percebi que a Rede Globo de Comunicações andava, de forma sutil e descarada, mandando neuro mensagens de repudio a Igreja. Comecei a prestar atenção e, cada vez mais, eu via o que realmente estava em jogo. A família Roberto Marinho, dita, a muito tempo, a Política e a Cultura do nosso País (Em outras palavras; eles controlam tudo). Os dez por cento mais ricos, do nosso país, detem mais de setenta por cento do dinheiro da nação. Eles são os donos do jogo. Os que fazem as regras. Mas existe uma coisa de que eles tem medo. É o poder das manifestações populares. A Rússia tornou-se socialista através de um golpe popular. E os burgueses se tornaram plebeus. Esse é apenas um exemplo do grande poder do povo. Poder que os Roberto Marinho tanto temem. É interesante lembrar que não é qualquer tipo de ideologia que pode unir um povo ao ponto de fazer reinvidicações dessa grandeza. Outro ponto a ser notado é que a Religião consttui-se como ideologia de libertação. Apesar de seu caráter transcendente e espiritual a Religião também constitui-se em grande impacto social. Aqueles que estão no poder temem isso. Não precisa você ligar a TV no canal oito para ver o que está acontecendo de verdade. Basta começar a olhar para as reportagens do canal dez de uma forma crítica. A conduta tendenciosa e a agressão aos direitos humanos estão estampadas na primeira capa das publicações globo. Sempre esteve ali, mas só agora eu percebi. Não posso me calar diante da dominação por parte de uma minoria. Que os movimentos religiosos e sociais continuem a pintar um quadro de libertação. Abaixo ao poder da minoria. Abaixo ao preconceito religioso. "Que o mundo seja melhor para nossos filhos e para os filhos dos nossos filhos."

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