segunda-feira, 12 de abril de 2010

Teste de imparcialidade dá lições de moral

JOHN TIERNEY

Como Diógenes com sua lâmpada, pesquisadores cruzaram o mundo procurando um homem honesto -ou, mais precisamente, pessoas que agem de maneira imparcial e altruísta em relação a todos. Se você deseja aprender a seguir essa regra de ouro, qual destas estratégias é a melhor?

a) Mudar-se para uma aldeia na Amazônia e praticar a coleta junto com os indígenas tsimane;

b) Mudar-se a um assentamento dolgan e nganasan na tundra siberiana, criar renas e entrar para a Igreja Ortodoxa Russa;

c) Visitar um mosteiro no Himalaia e seguir as instruções para "olhar para seu interior";

d) Entrar para um acampamento de caçadores-coletores nômades hadza, que comem carne de girafa e mel na savana do Serengeti (Tanzânia);

e) Unir-se aos clientes do Walmart que compram mantimentos na pradaria do Missouri.

A melhor aposta é ir às compras, pelo menos segundo as experiências relatadas recentemente na revista "Science". Compras em qualquer tipo de supermercado parece ter o mesmo efeito.

Mas o Walmart parece ser popular entre os moradores excepcionalmente justos de Hamilton, no noroeste rural do Missouri (EUA). Eles tiraram a nota mais alta em um teste de imparcialidade em relação a estranhos, comparados com qualquer das comunidades menos modernas de Fiji, Papua-Nova Guiné, África, Ásia e América Latina.

O estudo não prova a superioridade moral dos missourianos, porque as sociedades tradicionais enfatizam virtudes diferentes, como dar alimento e conforto aos parentes. Mas os resultados ajudam a explicar um mistério básico: como pequenos clãs familiares evoluem para formar cidades de estranhos que cooperam?

Ser simpático tinha um sentido evolucionário quando vivíamos em pequenos bandos cercados de parentes, porque ajudá-los ajudava os nossos genes a sobreviver. Mas por que devolver a carteira de um desconhecido que você achou no táxi? Por que deixar gorjeta em um restaurante que você nunca mais vai frequentar?

Alguns psicólogos evolucionistas sugeriram que temos um sentido inato de justiça, que vem do tempo em que vivíamos em pequenos clãs. Segundo essa teoria, nossos instintos herdados nos fazem ser simpáticos com estranhos mesmo quando prejudicamos nossos interesses.

Mas há mais nisso do que apenas um instinto herdado, diz Joseph Henrich, da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), que chefiou os antropólogos, psicólogos e economistas do estudo.

Eles encontraram amplas variações culturais observando mais de 2.000 pessoas de 15 pequenas comunidades que participaram de um jogo chamado Ditador, com prêmio equivalente ao salário de um dia de trabalho.

Um jogador, o ditador, tinha autoridade para guardar o prêmio todo ou dividi-lo com o outro jogador em disputa, que ele não via e cuja identidade permanecia secreta. Juntamente com esse poder vinha a certeza de que a identidade do ditador também ficaria em sigilo.

A opção mais lucrativa, é claro, era guardar o prêmio todo. Mas os missourianos, em média, dividiram mais de 45% do prêmio, e algumas outras sociedades foram quase igualmente generosas, como os moradores da cidade de Accra, em Gana.

Mas a maioria dos caçadores-coletores e agricultores de subsistência mostrou menor inclinação a dividir. Os nômades hadza do Serengeti e os indígenas tsimane da Amazônia só deram 25% do prêmio.

Eles também reagiram de modo diferente quando tiveram a oportunidade, em variações do jogo, de punir o outro jogador por ser avarento com o prêmio.

O egoísmo era tão ofensivo para os missourianos que eles castigariam o jogador mesmo que lhes custasse dinheiro. Mas os membros de sociedades tradicionais mostraram pequena inclinação a punir os outros às próprias custas.

"Há muitas normas nessas sociedades sobre como tratar uns aos outros e dividir a comida", diz Henrich. "Mas essas regras não se aplicam a situações incomuns, quando você não sabe nada sobre a origem ou a situação da outra pessoa.

Você não tem o mesmo sentido de responsabilidade e age guiado pelo interesse próprio."
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Fonte: Folha on line, 12/04/2010
Tradução do New York Times

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