\"Vejo brigas entre PT e PSDB,
às vezes mais pelos meios do que pelos fins,
mais pela vaidade do que pelos valores\",
diz professor
Aos 21 anos, o professor de Ética e Filosofia Política na USP Renato Janine Ribeiro conta que lia muito e achava que podia consertar o mundo. Hoje já não acha possível a curto prazo. À seção "Coisas que eu queria saber...", o professor fala de ditadura, estudo e política. Confira a seguir:
"Em 1971 eu estava no 4º ano de Filosofia na USP, numa faculdade expulsa, pelo Comando de Caça aos Comunistas, da Rua Maria Antonia para a Cidade Universitária. Nunca fui militante, mas tinha ido às passeatas contra a ditadura em 1968, com 18 anos, e às assembleias. Em 1969, tudo acabou. Dos 15 professores do meu departamento, cinco tinham ido embora, havia dois cassados, dois exilados, um estudando fora. Tanto pesadelo deixava pouco lugar para sonhos, mas eu tinha muitos. Lia os marxistas, em especial Althusser, hoje esquecido. Lia Machado de Assis. Queria ser professor na USP, o que acabou acontecendo, anos depois.
Em 1968, tinha completado o curso da Aliança Francesa em 1º lugar no País, e ganhei uma bolsa na França, adiada até a minha formatura, por eu ser muito jovem. Passar quatro anos sabendo que ia para Paris era bom, mas parecia tornar tudo provisório. A bolsa era de nove meses. Fiquei três anos e meio. Até pouco tempo atrás, ainda dividia minha vida entre antes e depois da França!
Queria saber sobre o ser humano. Lia sociologia, história, psicanálise, teoria política, acreditando que o mundo podia se consertar. Não acho mais que isso seja viável em curto prazo. Há pouco tempo, tive a sensação de que talvez não veja um Brasil sem corrupção, sem injustiça. Esses flagelos diminuíram muito, mas até acabarem vai-se exigir muito, sobretudo que as pessoas parem de brigar, como vejo entre PT e PSDB, às vezes mais pelos meios do que pelos fins, mais pela vaidade do que pelos valores.
Hoje creio que sei bastante do que queria aprender. O que gostaria não é tanto que o mundo saiba mais, mas que consigamos agir do jeito que consideramos certo. Sabemos que a vaidade e a ganância não são boas. Mas por que continuam tão poderosas? Sabemos o que não traz a felicidade. Por que, então, continuamos fazendo o que não a traz?"
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Fonte: Estadão online, 27/04/2010
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