domingo, 25 de abril de 2010

"Os games vão nos tornar melhores"



O professor de tecnologia Jesse Schell diz
que, no futuro, os jogos eletrônicos ajudarão
no crescimento pessoal
de cada um de nós




DIFERENÇAS

“O ‘FarmVille’ nos dá uma coisa da qual
nos orgulhar.
O Twitter é só um telefone"

Por meio do GPS, empresas de planos de saúde vão acompanhar a atividade física de seus clientes e conceder descontos aos que se exercitam. Livros eletrônicos virão equipados com câmeras que acompanham o movimento dos olhos, para premiar leitores que chegam até o final das obras. Assim é o futuro desenhado por Jesse Schell, ex-diretor criativo da Disney, atual dono da produtora de jogos Schell Games e professor de tecnologia do entretenimento na universidade Carnegie Mellon (EUA). Na avaliação dele, indícios de que esses sistemas de recompensas externas serão o filão a ser explorado pela indústria já estão aí. Jogos como “FarmVille” e “Mafia Wars” – ambos disponíveis no Facebook – demonstram como as pessoas estão dispostas a incorporar elementos do mundo virtual na vida cotidiana e, mais importante, ser recompensadas por isso. Quando esse futuro chegar, os videogames farão de nós pessoas melhores, segundo Schell. Ele falou à ISTOÉ.

ISTOÉ – Você acredita que, ao criar, um designer de videogame está ciente de que jogos como “FarmVille” ajudam as pessoas a voltar à “realidade” por meio da tecnologia?
Jesse Schell – Duvido muito que eles pensem de maneira global na hora de criar seus games. Por outro lado, tenho certeza de que os designers intuíram que plantar coisas e vê-las florescer são atividades que têm apelo para uma audiência grande.

ISTOÉ – Com o “FarmVille”, a gente entra em contato com pessoas de verdade, mas com um meio virtual entre nós. O Twitter permite conexões mais diretas. Por que tem mais pessoas jogando do que “twittando”?
Schell – Isso acontece porque o game nos dá uma coisa da qual podemos nos orgulhar, que pode nos tornar invejados e nos fornece meios de ajudar o próximo. O Twitter não passa de um telefone.

ISTOÉ – Você diz que, ao jogar “FarmVille”, as pessoas estão procurando autenticidade. Não é um paradoxo buscar isso no mundo virtual?
Schell – Sim. Mas as pessoas não dão a menor bola para isso e vão buscar autenticidade onde quer que ela esteja. E na forma em que se apresentar. Na vizinhança, nos videogames, nos livros, no cinema.

ISTOÉ – Isso explicaria em parte o sucesso de “Avatar”?
Schell – Com certeza. O filme é uma história sobre gente que, paradoxalmente, quer se reconectar com a natureza por meio da tecnologia.
É exatamente isso que eu acho que as pessoas estão fazendo hoje. E isso vai se intensificar no futuro.

ISTOÉ – Em suas palestras, você dá vários exemplos de mecanismos de recompensa do futuro. É o bônus dado pelo rastreador de olhares do e-reader e o contador de passos para diminuir a mensalidade do plano de saúde. Essa é a estratégia definitiva para fazer de nós seres humanos melhores?
Schell – Definitiva é uma palavra forte demais. Mas, com certeza, essas recompensas são um bom caminho para o crescimento de cada um de nós.

ISTOÉ – Na sua visão, para que os games nos melhorem, é preciso que eles sejam criados de maneira correta. Quais as dicas para que os designers cheguem lá?
Schell – Primeiro, têm de querer muito fazer o seu trabalho. Sem isso, as coisas boas não irão acontecer. Segundo, é preciso usar truques para seduzir o jogador. Isso passa por descobrir maneiras de entretê-lo ao longo do caminho que o levará a uma melhora pessoal. Terceiro, o designer deve usar o poder das redes sociais, pois as pessoas mudam seu comportamento para melhor quando acreditam que estão sendo vistas por outras pessoas. Assim, é preciso criar situações nas quais os amigos que o jogador estima se sintam impelidos a vigiá-lo.

ISTOÉ – E o resultado disso?
É um ambiente para que o jogador vire uma pessoa melhor. E se orgulhe de exibir isso. No mundo real.
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Reportagem: Edson Franco
Fonte: Revista ISTO É onlins, N° Edição: 2011 - 23 de abril de 2010

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