domingo, 2 de janeiro de 2011

Luta por mulheres moldou os homens

Imagem da Internet
Análise de bioantropólogo americano aponta
que as características masculinas humanas
favorecem combate
Hipótese concorrente diz que traços
teriam evoluído como forma de parecer
mais atraente para
possíveis parceiras

A fama de trogloditas dos seres humanos do sexo masculino é mais do que justificada, afirma um bioantropólogo americano. Depois de analisar os traços físicos característicos dos homens, ele diz ter batido o martelo: estamos falando de armas.
"Os fenótipos [características] dos homens exibem fortes evidências de terem sido moldados pela competição direta", disse à Folha David Puts, da Universidade do Estado da Pensilvânia.
A conclusão está no artigo "Beauty and the beast: mechanisms of sexual selection in humans" ("A bela e a fera: mecanismos de seleção sexual em humanos"), na revista científica "Evolution and Human Behavior".
Puts realizou uma detalhada análise da literatura científica justamente para se opor ao que parece ser a visão predominante entre quem estuda a evolução do comportamento humano.

EM MINORIA

É que, segundo levantamento feito pelo biantropólogo e um assistente, mais de três quartos das pesquisas da área publicadas entre 1997 e 2007 negam que a disputa violenta, ou a ameaça dela, tenha forjado os machos da nossa espécie. A maioria dos estudos defende que a preferência das mulheres por certos tipos de homem -e vice-versa- teria sido a variável mais importante da equação.
No fundo, trata-se de saber se os homens estão mais para pavões ou para bisões (veja quadro abaixo). Grosso modo, essas são as duas principais formas assumidas pela chamada seleção sexual.
A seleção sexual, estudada pela primeira vez por Charles Darwin no século 19, refere-se justamente às características visíveis dos sexos, como a barba dos homens e os seios avantajados das mulheres, entre outros.
Em alguns casos, essas características são armas para a disputa por parceiros, como os chifres dos bisões, usados em combate. Em outros, elas são meros adornos, sinalizadores de qualidade genética cujo propósito é seduzir o(a) parceiro(a). É o caso da plumagem carnavalesca dos pavões do sexo masculino.

FORÇA E HONRA
Puts aposta que somos bisões, apoiando essa hipótese, em primeiro lugar, na grande diferença de força física entre homens e mulheres -disparidade típica de espécies nas quais há disputas entre os machos.
Da cintura para cima, por exemplo, os homens são, em média, 90% mais fortes do que as mulheres, e 65% mais fortes da cintura para baixo. Na verdade, aliás, o homem médio é mais forte do que 99,9% das mulheres.
Experimentos também mostram que a barba espessa, as sobrancelhas grossas e a voz grave, tipicamente masculinas, fazem os homens parecerem maiores e mais intimidadores do que realmente são (quando apenas a voz do sujeito pode ser ouvida, ou quando se compara o rosto com ou sem barba, por exemplo).
Ao mesmo tempo, esse conjunto de traços é relativamente pouco atraente para as mulheres. Se elas forem totalmente livres para escolher, muitas vezes preferem homens ligeiramente "femininos", a tal "cara de bebê".
O efeito de barba ou voz grossa sobre a capacidade de atrair parceiras é muito menor do que sobre a aparência de "dominância" do sujeito.
Para o bioantropólogo, embora o que as mulheres acham atraente tenha tido um papel na evolução dos machos também, o mais provável é que as disputas tenham predominado, e que os vitoriosos no combate tivessem mais chance de monopolizar parceiras ou até de multiplicar o número delas.
Em grupos de caçadores-coletores, com pouca diferença social, é mais difícil ter recursos para manter mais de uma mulher, reconhece ele.
"Mas os homens dominantes também poderiam conseguir mais parceiras de curto prazo, o que, se feito com frequência, seria equivalente à poligamia do ponto de vista reprodutivo", especula.
_______________________
Reportagem por REINALDO JOSÉ LOPES EDITOR DE CIÊNCIA
Fonte: Folha online, 02/01/2011
Imagens da Internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário