"Escolas viram um nicho", diz presidente da Capes
Mateus Bruxel/Folhapress
Sala de aula de mestrado profissional da FGV, em São Paulo
Jorge Guimarães diz, porém, que ainda existe uma grande resistência no meio acadêmico a esse tipo de curso
O presidente da Capes (fundação do Ministério da Educação responsável pela pós-graduação), Jorge Guimarães, espera crescimento maior do mestrado profissional, considerando que há segmentos que precisam aperfeiçoar os profissionais. Para funcionar, o curso precisa ser aprovado pelo órgão. A avaliação dos programas pode ser vista no site http://www.capes.gov.br/. (FT)
Imagem da Internet - Jorge Guimarães
Folha - Como o sr. avalia o mestrado profissional?
Jorge Guimarães - Cresceu bem, mas menos que a gente queria. Vários segmentos no país precisam de melhoria na formação de seus profissionais, como em gestão, serviços, tecnologia e educação.
Quais as principais diferenças de um mestrado acadêmico para o profissional?
No profissional, o mestrando vem resolver um problema da indústria, trabalhar a perspectiva de montar um negócio ou é um profissional que precisa de upgrade na formação. O acadêmico é para o jovem cientista que seguirá na pesquisa.
No acadêmico, é preciso fazer uma dissertação no final. No profissional, pode ser a criação de um produto ou de uma nova planilha para gerenciar estoque de um supermercado. É mais focado.
Há problemas?
Há resistência no meio acadêmico. Em direito, não há nenhum programa. Já mudamos três vezes a comissão que avalia os cursos e as propostas não passam.
As exigências se focam muito em fatores estritamente acadêmicos.
O mestrado profissional é uma forma de ajudar as instituições de ensino?
Ele atende um perfil de aluno que provavelmente não iria para o acadêmico. Tanto é verdade que, no acadêmico, 20% dos programas são privados; no profissional, 50%. As escolas viram um nicho de oportunidade.
----------------------ANÁLISE
Como qualquer mercadoria, títulos visam cargos e salários
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
A diversificação de "produtos" de pós-graduação é uma consequência esperada do movimento que está transformando a educação numa mercadoria mais ou menos como outra qualquer.
O problema é que essa transformação ainda não está completa, e nossos cérebros ficam divididos entre dois registros por vezes antagônicos: o pedagógico e o mercadológico.
Pelo primeiro, a educação é um valor em si mesma. Nós estudamos para aprender -e não por razões instrumentais. Aqui, as avaliações deveriam ser feitas exclusivamente com base nos conhecimentos do examinando.
Já pelo paradigma mercadístico, a educação é um meio para obter os melhores cargos e mais renda.
Como na prática é impossível que empregadores avaliem objetivamente as competências de cada candidato que bate a sua porta, eles acabam ficando com a segunda melhor opção disponível, que são os títulos acadêmicos do aspirante, os quais passam, assim, a ter valor de mercado.
É justamente do choque entre os dois planos que surge o espaço para o mestrado profissional. A pós acadêmica tem o "defeito" de ser acadêmica demais. Dos temas pouco práticos à rebuscada liturgia das universidades, essa modalidade não responde aos anseios da parte do público mais afeita ao registro mercadológico.
"Às vezes, a divisão de nossos cérebros
em módulos produz paradoxos,
como rejeitar coisas em princípio equivalentes
devido a diferenças na forma
como são apresentadas."
Os MBAs, por outro lado, padecem do fato de estar muito alinhados com os anseios do mercado. São rápidos e respondem a demandas de quem está no mundo real -e não na academia.
Mas, justa ou injustamente, os MBAs ganharam reputação de pouco rigorosos. Desde que a anuidade seja paga pontualmente, o aluno sempre obtém o certificado. Resultado: é mais um cliente satisfeito.
O mestrado profissional pretende reunir o melhor desses dois mundos. Aparentemente, há espaço para isso. Se vai ou não dar certo, é uma outra questão.
Às vezes, a divisão de nossos cérebros em módulos produz paradoxos, como rejeitar coisas em princípio equivalentes devido a diferenças na forma como são apresentadas.
Se o sujeito oferece R$ 200 à própria mulher por uma ardente noite de amor, dá justa causa para o divórcio.
Mas, curiosamente, se ele regalá-la com um jantar que custe o dobro para obter o mesmo objetivo, estará apenas sendo romântico.
Foi só recentemente que a psicologia cognitiva e a economia comportamental começaram a levantar as evidências de quão pouco à vontade nossos cérebros (forjados para uma sociedade de caçadores-coletores) ainda ficam com a economia de mercado.
Fonte: Folha online, 13/03/2011
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