Maria de Lourdes Coelho*
A ideia de desenvolver um Projeto de Educação Consumerista tem origem no surgimento do “analfabetismo do consumidor”, que mostra a falha de muitos sistemas de educação na preparação dos estudantes para o mundo real. As crianças saem da escola com habilidade para escrever um ensaio sobre Napoleão, mas não sabem escrever uma simples carta a um fabricante de bicicletas que apresentam defeitos; sabem resolver equações álgebras, porém, não comparam e entendem taxas de juros de interesse das empresas.
Esta educação inapropriada causa danos entre as pessoas nos países em desenvolvimento. A grande maioria ignora o que são direitos e responsabilidades, também desconhecem como se exerce o controle social e sua inserção no sistema. Esta educação desligada da realidade do cidadão dá vazão ao analfabetismo do consumidor, representando uma transgressão da dignidade humana e a destruição dos direitos sociais e econômicos.
"O homem esqueceu do seu ser para
se concentrar no ter. Nessa relação com o mundo,
o homem passa a consumir e
a ser um objeto do consumo, e
não um sujeito de ação.
Sentimos, então, cada vez mais
a necessidade de uma educação
para a relação de consumo."
Reconhecendo esta educação errônea, organizações mundiais de consumidores promovem a educação consumerista como uma resposta essencial às necessidades reais dos consumidores numa sociedade global tecnicamente avançada. Mas não só as entidades de defesa do consumidor devem desenvolver e estimular Programas de Educação para o Consumo. Os governos que se consideram democráticos têm o dever legal e ético de oportunizar um projeto educativo que possa encorajar as pessoas a agirem como consumidores capazes de fazerem escolhas adequadas, conscientes de seus direitos e responsabilidades. Observando-se que em tais projetos deve ser dada uma especial atenção às reais carências de consumidores nas áreas urbanas e rurais, incluindo consumidores de baixa renda e aqueles de níveis baixos ou inexistentes.
Projetos específicos de área rural devem ser capazes de mobilizar o consumidor no sentido de fazê-lo pensar a questão do meio ambiente, turismo rural agregado e outros. Da mesma forma, observamos que a preservação ambiental é responsabilidade também urbana. Não se trata simplesmente de criar uma nova disciplina, mas fazer com que temas como escolhas do consumidor, propaganda, dinheiro, poder de compra, saúde e hábitos de consumo sejam inseridos nas disciplinas já existentes.
“vivemos num mundo que parece construído
sobre a recusa de pensar,
do refletir”
(Gabriel Marcel)
Estaremos assim indo ao encontro de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN-MEC), oportunizando ao aluno /consumidor compreender a cidadania como participação social e política e perceber-se integrante e agente transformador da realidade social de nosso país. Somente dessa forma poderemos realmente celebrar o Dia Mundial do Consumidor. Entretanto, é necessário um novo olhar para as relações de consumo, ou seja, o cumprimento de nossos deveres e direitos, principalmente o Direito de Educação e de Informação.
Sabemos que o consumidor que não tem acesso ao conhecimento está realmente excluído do processo social. Citando Gabriel Marcel, “vivemos num mundo que parece construído sobre a recusa de pensar, do refletir”. O homem esqueceu do seu ser para se concentrar no ter. Nessa relação com o mundo, o homem passa a consumir e a ser um objeto do consumo, e não um sujeito de ação. Sentimos, então, cada vez mais a necessidade de uma educação para a relação de consumo.
Com certeza, a vida escolar se enriquece com a introdução de conteúdos contemporâneos. O aluno passa a se interessar pelo assunto; o professor se renova. Contudo, não se trata de criar nova disciplina, mas de buscar recursos (fundamentação teórica e experiências concretas) no cotidiano para que o professor possa construir com seus alunos critérios para formar um cidadão mais crítico, mais atuante, que lute por seus direitos e tenha consciência de seus deveres, buscando assim encontrar respostas para sua própria satisfação.
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*Diretora do Centro de Educação do Consumidor
Fonte: ZH online, 15/03/2011
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