SUZANA HERCULANO-HOUZEL*
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Certas generalizações são baseadas só em valores pessoais e não casam com a realidade |
MUITAS VEZES é preciso decidir rápido. Visitando uma cidade em uma parte desconhecida do mundo, aonde você topa ir de ônibus? Por onde anda a pé, a quem confia sua câmera para tirar uma foto?
Boa parte do que fazemos tão bem e decidimos tão rápido é graças a ideias que o cérebro formula como generalizações baseadas em experiências prévias. Esses são nossos pré-conceitos: noções já concebidas anteriormente, prontas para o uso na hora do aperto, quando uma decisão rápida for necessária.
Boa parte do que fazemos tão bem e decidimos tão rápido é graças a ideias que o cérebro formula como generalizações baseadas em experiências prévias. Esses são nossos pré-conceitos: noções já concebidas anteriormente, prontas para o uso na hora do aperto, quando uma decisão rápida for necessária.
Tais pré-conceitos, quando bem fundamentados em experiências, costumam se mostrar acertados e úteis: ônibus bem cuidados prometem uma viagem mais segura; ruas limpas, bem iluminadas e cheias de passantes tendem a ser tranquilas; e uma pessoa bem vestida tem boas chances de saber operar sua câmera -e também não sair correndo com ela...
Contudo, alguns pré-conceitos são baseados não em experiências, mas apenas em valores pessoais que não necessariamente casam com a realidade. Esses são os pré-conceitos preconceituosos.
Exemplos infelizmente comuns são que homens devem ser mais inteligentes do que mulheres, pessoas negras, mais violentas do que pessoas brancas, pessoas magras ou altas ou de cabelos claros, mais capazes do que as gordas ou baixas ou de cabelos escuros.
Exemplos infelizmente comuns são que homens devem ser mais inteligentes do que mulheres, pessoas negras, mais violentas do que pessoas brancas, pessoas magras ou altas ou de cabelos claros, mais capazes do que as gordas ou baixas ou de cabelos escuros.
Curiosamente, muitas vezes pessoas que são alvo de preconceitos são elas mesmas pré-conceituosas no mesmo sentido. Um estudo constatou que, tanto em negros como em brancos, a amígdala reage mais veementemente, gerando mais ansiedade a retratos de rostos desconhecidos de negros do que de brancos, enquanto o resto do cérebro associa mais facilmente palavras negativas aos primeiros, e palavras positivas aos últimos. Preconceituosos ou não, a questão é que os pré-conceitos influenciam nossas escolhas, e o que deveria ser vantagem vira problema quando nossas decisões prejudicam os outros sem razão.
Felizmente, o próprio cérebro tem a solução, quando quer: o córtex pré-frontal, ao se reconhecer infundadamente pré-conceituoso, é capaz de vetar opiniões, decisões e até ações. Leva tempo e requer esforço, é verdade.
Mas vale a pena: é a diferença entre ter pré-conceitos, o que todos temos, e deixar que eles se transformem em ações preconceituosas.
Mas vale a pena: é a diferença entre ter pré-conceitos, o que todos temos, e deixar que eles se transformem em ações preconceituosas.
*SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com
Fonte: Folha online, 29/03/2011
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