terça-feira, 12 de julho de 2011

Luiz Felipe Pondé discute os papéis de fé e ciência

QUESTÕES FILOSÓFICAS
Professor foi o palestrante de ontem (11/07) no ciclo Fronteiras do Pensamento

Quando estudava Medicina em Salvador, Luiz Felipe Pondé perguntou a um professor o que um paciente sentia diante da iminência da morte. A questão foi inspirada pela visão de salas de hospital frias e assépticas. A resposta do professor ajudou-o a traçar o caminho futuro em direção à filosofia: – O senhor está na faculdade errada.
Filho de um militar pernambucano que, em virtude da proximidade com o ex-governador Miguel Arraes, trocou Recife por Salvador para evitar perseguição política depois do golpe de 1964 e de uma dona de casa de origem judaica, ambos não religiosos, Pondé tem se caracterizado pelo pensamento corrosivo e provocador, especialmente diante da visão de mundo politicamente correta. Professor da PUC de São Paulo e da Fundação Armando Álvares Penteado, ele escolheu um tema instigante para a conferência de ontem no Salão de Atos da UFRGS, a terceira deste ano no ciclo de altos estudos Fronteiras do Pensamento: “Seria o pessimismo mais inteligente?”.

Por um resgate da autonomia do ser humano na filosofia
Pondé propôs uma revalorização do princípio de autonomia do ser humano no pensamento ocidental:
– No mundo trágico, o ser humano não tinha autonomia. Quando o cristianismo entra em jogo na filosofia, ele vai ser obcecado pela ideia de mau, de pecado. E ela traz a dupla face muito importante de que, de um lado, Deus é bom, Jesus é legal e tudo vai dar certo, e, de outro lado, a gente está mal por sermos invejosos, coléricos, maldosos. Isso dá ao pensamento cristão um nível de pessimismo muito radical no âmbito do que se chama natureza humana.
Segundo o conferencista, a adoção do humanismo pelo Renascimento se deu por dois vieses: a da valorização da cultura clássica, por meio da erudição, e o humanismo filosófico, que é marcadamente otimista. Esse seria o sentido, por exemplo, de alguns aspectos da obra do filósofo cristão Pico della Mirandola (1463 – 1494). Para Pondé, a base das visões dogmáticas modernas está na consolidação, entre os séculos 13 e 17, no pensamento de uma visão inspirada em Aristóteles de que “a razão basta”. Do outro lado do ringue, surgiu nesse período um grupo posteriormente conhecido como “anti-humanistas”, segundo os quais “o ser humano tem problema”.
O balanço final, segundo Pondé, é categórico:
– Os otimistas venceram. A visão de que a ciência tem o objetivo de melhorar a vida, de que a ciência é um ganho, foi consolidada. Não há dúvida de que a ciência é, ao lado do que a gente chama de democracia liberal, é um dos trunfos da civilização moderna.

“O pessimismo tem uma função de vigília”
A conferência de Pondé não versou apenas sobre a vitória dos otimistas. Também houve espaço para um elogio ao pessimismo:

– Quando você descobre que seu filho de 15 anos tem um câncer na cabeça, o médico lhe explica o que está acontecendo. Mas se você pergunta “por quê?”, quem lhe responde são padres, rabinos etc. A ciência não consegue dar sentido à vida. O pessimismo funciona como uma espécie de controle de qualidade.
O filósofo ainda acrescentou:
– O pessimismo, na filosofia e nas ciências humanas, tem uma função de vigília.
O Fronteiras do Pensamento é apresentado pela Braskem e tem o patrocínio de Unimed Porto Alegre, Natura, Gerdau e Grupo RBS. Parceria cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e prefeitura de Porto Alegre, módulo educacional Refap e apoio Anhanguera Educacional.

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Reportagem por: LUIZ ANTÔNIO ARAÚJO
Fonte: ZH on line, 12/07/2011

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