terça-feira, 12 de julho de 2011

Luiz Felipe Pondé no Fronteiras POA



Confira um excerto da fala de Luiz Felipe Pondé abaixo:

Por que o pessimismo seria mais inteligente?

Na realidade, não acho que o pessimismo é mais inteligente. Acredito que o pessimismo como dúvida com relação às festas que criamos por conta do nosso sucesso funciona como uma espécie de controle de qualidade. Ele funciona como uma contínua avaliação do que poderíamos chamar de uma dimensão de sombra de tudo que o ser humano faz.
Pessimismo e otimismo são atitudes filosoficamente necessárias o tempo todo quando estamos analisando problemas. Principalmente perante a força, a fúria e a capacidade criativa que a modernidade tem em termos técnicos e que por si só traz uma hibris descontrolada.
Semana passada, conversei com uma jornalista da revista Elle sobre essa nova moda do chamado Unplugged Day, pessoas que escolhem um dia da semana para se desconectarem do mundo da comunicação, que é absolutamente necessário para girar a vida hoje em dia. Quem, de vez em quando, não percebe como acabamos presos nas ferramentas que temos para criar nosso próprio sucesso?

"O pessimismo na filosofia e
nas ciências humanas, no momento contemporâneo,
tem uma função de vigília,
de um certo cuidado,
porque quando o ser humano
fica excessivamente apaixonado por si mesmo,
apaixonado por suas potências,
 por suas capacidades,
 se torna perigoso."

É quando percebemos isso que temos uma certa crise de pessimismo. Isso os filósofos já previram há dois mil e quinhentos anos. É a ideia de que pessoas muito conscientes do valor do que elas fazem podem facilmente se tornar pessoas extremamente perigosas, justamente porque crêem absolutamente nelas mesmas. E uma pessoa que acredita plenamente nela mesma é sempre um problema. Uma certa dúvida consigo mesmo me parece fundamental para não virarmos monstros.
O pessimismo na filosofia e nas ciências humanas, no momento contemporâneo, tem uma função de vigília, de um certo cuidado, porque quando o ser humano fica excessivamente apaixonado por si mesmo, apaixonado por suas potências, por suas capacidades, se torna perigoso.
É como a experiência moderna, que encerra em si mesmo e simultaneamente o avanço e o risco de sua técnica. Não significa abrir mão dos avanços técnicos. Me parece filosoficamente ingênuo e infantil achar que o debate se trata de “ser contra a modernidade” ou “ser a favor da modernidade”. Não se trata da ciência, trata-se do uso dela. A ciência é um método. O problema é que ela produz resultados de uma força experimental muito grande. Quando você associa ciência a intenções políticas, a intenções de descobrir como o ser humano deve ser, é necessário operar nesse equilíbrio que o senso comum chama de pessimismo e otimismo.
---------------------

Nenhum comentário:

Postar um comentário