sexta-feira, 15 de julho de 2011

O que é ‘novo’, hoje?

Montserrat Martins*

Vou fazer algo “novo” hoje e revelar direta e abertamente algumas das minhas opiniões pessoais. No cotidiano nós, colunistas, costumamos nos esconder atrás da impessoalidade das teorias científicas, ideológicas, argumentos de autoridade (de conhecimento de um assunto) e uma série de artifícios muito bem descritos no livro “Senso Crítico”, do David Carraher. Então hoje abro mão deste tipo de justificativas, vou expresar simplesmente o que eu sinto e penso.
Não simpatizo com a prática de adjetivar uma atitude como “nova”, para começar acho isso muito pretensioso, em assuntos humanos. E me desculpem os gênios (aqueles que usam a plaqueta “é difícil ser humilde, quando se é um gênio”), mas continuo achando a humildade uma qualidade fundamental, até como respeito aos que pensam diferente de nós. Meu pai me ensinou, muito cedo, que “qualquer coisa que você pense, é muito difícil que um pensador antigo, lá no tempo da Grécia (clássica), já não tenha pensado antes”.

"Gosto de quem reconhece o trabalho,
 o esforço e os méritos, das pessoas
que contribuíram para a evolução da sociedade,
até chegar à qualidade de vida de
que desfrutamos hoje."

Sim, existem novas tecnologias e elas mudaram as nossas possibilidades, um exemplo fantástico disso é uma página que foi criada nas redes sociais (facebook.com/yalaYL) para estimular a paz entre árabes e judeus. Os nossos problemas também são sem precedentes em relação aos séculos anteriores, podemos inviabilizar as condições necessárias à vida no futuro. Há novas realidades, novas possibilidades, novas urgências. Mas a questão a que estou me referindo não é a das que circundam o ser humano e sim a dos seus conflitos intrínsicos, as suas escolhas de valores e atitudes.
Nesse aspecto, não estaremos sendo verdadeiros em falar de questões “novas”, pois estamos às voltas com os mesmos dilemas da história da civilização, as condutas humanas de que necessitamos hoje são evolutivas – um progresso em relação ao passado, sem postular “reinventar a roda”.
Gosto de quem reconhece o trabalho, o esforço e os méritos, das pessoas que contribuíram para a evolução da sociedade, até chegar à qualidade de vida de que desfrutamos hoje. Ao revolucionar a física em sua época, Isaac Newton declarou que “só chegamos tão longe porque nos apoiamos sobre os ombros de gigantes”, fazendo justiça a todos os heróis da ciência que o precederam, nos séculos anteriores, incluindo os que foram perseguidos pela Inquisição.
Mesmo eu não gostando do adjetivo “novo” relativo a comportamentos, as pessoas enojadas com o noticiário político (que não tem nada de novo) gostaram do evento “Encontro por uma Nova Política”, no qual um grupo de líderes, incluindo Marina Silva, se desvinculou da filiação ou de cargos no PV (entre os quais Alfredo Sirkis, um de seus fundadores). Pelo fato de que significou um desapego a posições de poder, a cargos, a situações confortáveis em termos eleitorais, desapego que não tem se visto muito por aqui, motivado por coerência a princípios que não foram respeitados pela burocracia partidária (que não cumpriu o que havia acordado com o grupo que saiu, o simples direito dos filiados a votar).
Neste sentido, Gandhi e Mandela, personagens marcantes do século XX, são os melhores exemplos do que se está propondo como a “nova política”. Eles não tiveram twitter, facebook, skype e nem imaginavam que esses instrumentos seriam considerados indispensáveis, um dia, para mudar realidades nocivas. Suas motivações eram tão antigas quanto as preocupações éticas dos gregos clássicos.
-----------------------------
*Colunista do EcoDebate, é Psiquiatra.
Fonte: Publicado em julho 15, 2011 por HC

Nenhum comentário:

Postar um comentário