segunda-feira, 4 de julho de 2011

A poesia da práxis perde o seu principal poeta...

Mário Chamie*

abri/1933 - julho/2011


PLANTIO

Cava,
então descansa.
Enxada; fio de corte corre o braço
de cima
e marca: mês, mês de sonda.
Cova.

Joga,
então não pensa.
Semente; grão de poda larga a palma
de lado
e seca; rês, rês de malha.
Cava.

Calca
e não relembra.
Demência; mão de louco planta o vau
de perto
e talha: três, três de paus.
Cova.

Molha
e não dispensa.
Adubo; pó de esterco mancha o rego
de longo
e forma: nó, nó de resmo.
Joga.

Troca,
então condena.
Contrato; quê de paga perde o ganho
de hora
e troça: mais, mais de ano.
Calca.

Cova:
e não se espanta.
Plantio; fé e safra sofre o homem
de morte
e morre: rês, rés de fome
cava.
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* Mário Chamie (Cajobi, 1 de abril de 1933 - São Paulo, 3 de julho de 2011[faleceu hoje]) foi um poeta e crítico brasileiro.
OBS.: Depois da poesia concreta, a  vanguarda poética dos anos 50 e 60 que mais deu o que falar foi a poesia práxis. Como o nome sugere, a idéia central era construir poemas com base na prática da vida. Segundo Mário Chamie (1933-), principal poeta e teórico do grupo, os poemas práxis resultavam de um levantamento de palavras dentro do campo semântico do tema escolhido para o poema ou livro.
 "Plantio", vem do volume Lavra Lavra (1962), que se propõe a representar o universo do trabalho rural. Assim, lá estão termos como enxada, braço, cova, grão.

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