terça-feira, 12 de julho de 2011

Quanto vale um retuite?

Entrevista especial com Gabriela Zago
Ao encarar o ato de retuitar como uma moeda de troca na rede social, Gabriela Zago aponta que existe uma economia do retuite que busca determinados valores, geralmente associados a bens privados. Na entrevista a seguir, realizada por email, a pesquisadora afirma à IHU On-Line que “talvez fosse incompatível com o contexto da sociedade do início do século passado a ideia de compartilhar algo em um ambiente de rede. Mas hoje isso faz sentido. Há cada vez mais meios e ferramentas disponíveis para esse compartilhamento. Os jovens já nascem nesse contexto de tecnologia, alfabetizados digitalmente”.
Gabriela Zago graduou-se em Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas e em Direito pela Universidade Federal de Pelotas. É mestre e doutoranda em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que podemos entender por economia do Retweet?
Gabriela Zago – O artigo “A economia do Retweet” tem como proposta encarar o retuite como uma moeda de troca na rede social: faz-se o retuite em busca de determinados valores (normalmente associados a bens privados), ao passo que o ato de retuitar e ser retuitado prova ainda outros valores (bens privados ou públicos) para os indivíduos (tanto para quem retuita quanto para quem retuitado). Esses valores em torno do retuite fazem com que se possa falar dele como uma moeda, inserido em um contexto de uma "economia do retweet".

IHU On-Line – Essas mudanças atuais dos fluxos de informação foram, em sua opinião, proporcionadas pelos novos meios ou por uma nova geração?
Gabriela Zago – Acho que há uma confluência das duas coisas. Como diz o autor Clay Shirky, no livro A Cultura da Participação (Rio de Janeiro: Zahar, 2011), temos hoje os meios, os motivos e a oportunidade para compartilhar em rede. Talvez fosse incompatível com o contexto da sociedade do início do século passado a ideia de compartilhar algo em um ambiente de rede. Mas hoje isso faz sentido. Há cada vez mais meios e ferramentas disponíveis para esse compartilhamento. Os jovens já nascem nesse contexto de tecnologia, alfabetizados digitalmente. Os novos fluxos de informação são uma consequência desse cenário.

IHU On-Line – O microblog pode gerar uma geração Twitter? Qual seria o perfil dessa geração?
Gabriela Zago – Não sei se seria apropriado falar em uma "geração Twitter". O público específico do Twitter tende a ser "mais velho" (por volta dos 20, 25 anos), e, aos poucos, o site tem sido adotado por usuários mais novos. Mas me parece que temos, sim, algo tipo uma "geração do compartilhamento rápido", gente que já está habituada a poder compartilhar instantaneamente conteúdos com uma rede de amigos através da internet, ou de dispositivos móveis, para uma audiência restrita, ou para um público potencialmente infinito.

IHU On-Line – Podemos dizer que as redes sociais potencializam a insatisfação popular?
Gabriela Zago – As redes podem potencializar a visibilidade e a propagação da insatisfação popular. Mas dificilmente vão, por si sós, substituir outras formas de protesto.

IHU On-Line – No caso das revoluções e manifestações populares que ganham afirmação através da internet, o que significa retuitar uma informação?
Gabriela Zago – Nesses casos, retuitar uma informação pode ser um sinal de engajamento, há um bem público associado a esse retweet. Mas, seguindo a ideia proposta no artigo, esse retweet também uma forma de gerar um bem privado para o indivíduo que retuita: ele quer ser visto pela sua rede como algum engajado na "revolução". E sua reputação na rede pode ser construída em cima disso - as pessoas com quem vai interagir, o público que ir segui-lo, enfim, a credibilidade que lhe ser conferida, vai depender daquilo que tuita e retuita.

"Acredito que as pessoas,
ao se utilizar desses espaços,
têm o potencial de articular, organizar,
e potencializar revoluções - da mesma forma
como podem se articular para produzir humor,
ou para cometer crimes."

IHU On-Line – Como o Twitter, especificamente, gera capital social?
Gabriela Zago – Através das trocas, das conversas, das informações postadas e repassadas entre os atores, valores diferentes são buscados e construídos na rede. Esses valores estão associados ao capital social, quilo que o grupo proporciona ao indivíduo.

IHU On-Line – Espanha, Líbia, Egito, Tunísia usaram as redes sociais, principalmente Twitter e Facebook para iniciar movimentos revolucionários. Como você analisa o uso do Brasil em relação às redes sociais na Internet?
Gabriela Zago – Em termos gerais, as redes acabam atuando como uma forma de potencializar os movimentos, mas não são suficientes para que o movimento todo tome lugar. A "revolução" ocorre na rua. No Brasil temos um pouco disso - articulação através da rede gerando mobilizações presenciais - embora muitas vezes predomine ações apenas na internet, que acabam não surtindo todo o efeito esperado, apesar de contribuírem para colocar o tema em pauta na mídia (ex.: caso #forasarney).

IHU On-Line – Você acredita que as redes sociais têm um poder revolucionário?
Gabriela Zago – Os sites de redes sociais, enquanto suportes para a manifestação de redes sociais, têm o potencial de ser usado para finalidades das mais diversas. Acredito que as pessoas, ao se utilizar desses espaços, têm o potencial de articular, organizar, e potencializar revoluções - da mesma forma como podem se articular para produzir humor, ou para cometer crimes.

IHU On-Line – A relação entre poder e comunicação mudou com redes sociais como o Twitter?
Gabriela Zago – Em alguns aspectos, sim. Antes, apenas com a mídia de massa, o poder de comunicar estava restrito a alguns poucos atores e conglomerados. Na internet, essa relação começa a se diluir, na medida em que todos podem comunicar. Nos sites de redes sociais, o poder pode ser diluído entre os nós da rede. Mesmo aquele que retuita uma informação para meia dúzia de seguidores contribui, de alguma forma, para que a informação se espalhe. Como disseram os professores Henrique Antoun e Fabio Malini no relato que fizeram ao nosso texto na Compós (http://dl.dropbox.com/u/12248702/relatos_gtciber_2011.pdf), não dá para desprezar o potencial mobilizador dos "nós pobres". São eles que fazem com que uma informação se propague para pontos mais distantes da rede.
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Fonte: IHU on line, acesso 12/07/2011

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