segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A intimidade

Miguel Esteves Cardoso*

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A intimidade não só não se gasta como cresce quando vivemos dentro dela. Precisa-se sempre de mais –? 
e vem sempre mais.

Na intimidade cada um pode ser exactamente como é e dizer aquilo que apetece dizer. Tem-se liberdade para ser inconsistente e contraditório: está-se à vontade, sem pensar no que se vai dizer – ou nas consequências.

Para haver intimidade os amigos e os amores têm de se conhecer muito bem – e depois passar essa fase absurda de se conhecerem muito bem para começarem a conhecer-se a si próprios, os dois ao mesmo tempo.

Passaram o tempo, a frustração e o esforço de se conhecerem um ao outro. Esse trabalho está feito. Agora tu e eu podemos divertirmo-nos a descobrir a liberdade e a alegria de ser: tu a seres tu, eu a ser eu e nós a sermos nós.
Podemos ser maus, dizer maldades, não ter cuidado, não ter medo, não ter rodeios, estar calados, ler o que nos apetece, chamar nomes um ao outro, sermos ternos sem receio de parecermos piegas, fazer piadas duvidosas, ser excessivos, ser exagerados, imitar as caras dos outros, cortar nas casacas, pedir ajuda e sermos ajudados, dizer que estamos arrependidos, pedir perdão, exprimir ideias que nunca foram pensadas até ao fim, brincarmos com a espontaneidade, ver até aonde as coisas nos levam –​ e depois desistir e começar outra vez. Ou não.

A intimidade não só não se gasta como cresce quando vivemos dentro dela. Precisa-se sempre de mais –​ e vem sempre mais.
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* Jornalista. Escritor. Crítico português.
Fonte:  https://www.publico.pt/2019/02/25/sociedade/cronica/intimidade-1863234#gs.NB95UyAG 
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